quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Takumi-kun Series 2: Niji-iro no Glass

takumi 2

Título: Takumi-kun Series: Niji-iro no Glass
Título original: タクミくんシリーズ『虹色の硝子』
Título alternativo: Niji-iro no Garasu
Categoria: live action
Gênero (oc.): romance, colegial, drama
Gênero (or.): yaoi
Classificação indicativa: T
Lançamento: 2009
Diretor (a): Yokoi Kenji
Autor (a): GOTOH Shinobu (Novel)
Site Oficial:
Fansub:
Barazoku
Relacionado: Takumi-kun Series: Soshite, Harukaze ni Sasayaite

Sinopse:

Takumi e Gii estão juntos e continuam seus estudos. Depois de um desentedimento entre eles, Gii começa a mostrar predilação por um garoto novato na escola, provocando o ciúmes de Takumi. O amigo deles, Takeshi, abandona a escola e Takumi consegue entender o que Gii queria com o novato.

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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

[Novel] No. 6 Volume 2 Capítulo 2

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Capítulo 2: O Reino dos Deuses

Assim, a deusa Hannahanna decidiu usar seu último recurso. Ela chamou por várias, não centenas, mas milhares de abelhas e disse: "Seus corpos são pequenos e ágeis, saiam tão rápido como a luz e procurem o deus Telepinu. Agora vão."
- A Lenda de Telepinu De Yajima Fumio Chikumashobou. Lenda Mesopotâmica

Alguém visivelmente nu, branco e magro estava caído na base de uma árvore. Era um menino, menor que a garota. Ele estava se contorcendo. Estendendo os braços. Mesmo na escuridão, eu podia ver como horrivelmente pálido seu rosto estava. Ele rasgou a sua garganta e, embora sua boca estivesse aberta seus lábios não tinham cor.

Ele estava respirando com dificuldade. Algo estava bloqueando sua via aérea. Eu não tinha tempo. Enrolei-o e lhe bati nas costas com a palma da minha mão.

"Cuspa isso, vamos lá, cuspa."

Duas, três vezes, bati as costas. Quatro, cinco...

"Guh -"

O vômito derramou para fora da boca do menino. Havia algo escuro e redondo no mesmo. O corpo do garoto contraiu e convulsionou.

"Água. Traga água."

Virei para Nezumi e gritei novamente. Eu coloquei o menino para baixo e trouxe meu rosto perto de sua boca. Podia sentir a sua respiração. Ele está bem. Está respirando.

Suas vias aéreas estavam livres e o menino estava respirando sozinho.

"Chama ele."

A menina respondeu prontamente ao pedido de Shion.

"Riko, você pode me ouvir? Riko".

"Riko, você pode respirar?"

O peito do menino inchou. Ele abriu os olhos. Lágrimas escorriam pelo seu rosto.

"... Irm"

"Riko!"

A menina parou de abraçá-lo e Shion delicadamente o sentou na vertical. Ele trouxe um copo de água à sua boca.

"Você pode beber?"

"Sim".

"Bom menino. Beba lentamente. Riko, seu nome, certo?"

"Sim".

"Riko, você pode ouvir a mim e a sua irmã? Você pode nos ver também, não pode?"

"Sim... Esta água está deliciosa."

"Bom menino. Você é um menino muito bom. O estômago não dói? E o seu peito?"

"Minha garganta..."

"Sim?"

"Minha garganta dói...".

Ele deve ter arranhado a garganta em desespero. Havia várias marcas de sangue escorrendo do pescoço de Riko.

Peguei algumas gazes e uma almofada de esterilização do kit de primeiros socorros. Eles já tinham quatro anos, mas eu não tinha mais nada.

"Isso vai picar. Não chore."

"Não vou."

Eu limpei as feridas e envolvi seu pescoço com gaze fresco. Só poderia lhe dar primeiros socorros básicos. Era tudo o que eu poderia fazer.

Se eu fosse dizer algo como "nós devemos levá-lo para um hospital imediatamente," Nezumi apenas zombaria de mim novamente. Eu sabia que a área ao redor do bloco do Ocidente da Nº 6 realmente não tinha quaisquer hospitais.

Shion recolheu o objeto rodeado de vômito que tinha sido o bloqueio das vias aéreas de Riko.

"Uma fruta?"

Era quase uma baga redonda.

"Por que você..."

Riko desviou o olhar. Nezumi cruzou os braços onde estava e suspirou.

"Porque ele estava com fome."

"Hum?"

"Ele provavelmente estava morrendo de fome. Embora, na verdade, você pode comer isso se amassá-los primeiro. Quando foi colher uns ficou com tanta fome que decidiu colocar um na sua boca... e acidentalmente engoliu. Ou algo assim."

"Riko está sempre com fome."

Disse a garota.

"Mesmo que a nossa mãe nos dê pão, não é suficiente."

"O pão é tão pequeno. Vai embora em uma mordida."

Riko tossiu um pouco depois que falou. Sua voz era áspera e sua cor ainda estava ruim. Eu o envolvi em um cobertor.

"Isso deve aquecê-lo. Se vocês se ferirem eu vou tratá-los. Venham a qualquer momento."

"Por que você não o leva para casa?"

Eu me virei para o som das palavras de Nezumi.

"Eu?"

"Com quem mais eu estaria falando? Você o salvou. E você tomou conta dele o tempo todo. Ele mora na primeira casa, na parte inferior do morro. Não é longe. Sua mãe provavelmente está morrendo de preocupação."

Se eu fizer isso vou estar me expondo para os adultos. Levantei-me. Por que eu estava tremendo?

"Mas, eu..."

"Você tem que sair de qualquer maneira. Se hesita muito em fazer isso, você nunca vai fazer através de toda a cidade. Bem, eu realmente não me importo com o que você faz. Além disso, se você ficar na chuva como esta vai pegar uma pneumonia".

Agora que ele mencionou isso, estava chovendo. Eu finalmente percebi o quão legal era. A chuva me gelou até os ossos, eram evidências de que o inverno estava chegando.

"Bem, o resto é com você, sua majestade."

Nezumi se virou e se dirigiu ao subterrâneo. Riko espirrou humildemente. A mão de uma criança ficou em torno dos dedos de Shion.

"Obrigada."

"Hum?"

"Obrigada por salvar meu irmão".

"Ah, não, é na... da, realmente. Qual é seu nome?"

"Karan".

"Karan? É o mesmo que da minha mãe."

"Sério?"

"Sim".

A menina sorriu. Seus dedos estavam quentes. Shion pegou Riko, embrulhado no cobertor.

"Eu vou te levar para casa. Karan, mostre o caminho."

-

O vapor derramava da panela no fogão. Havia sopa nela. Nezumi suspirou, mexendo a sopa, cheia de legumes e carne. Ele ficou perturbado quando percebeu que suspirou inconscientemente. Algumas gotas de sopa caíram da panela para o fogo e fez um som crepitante.

Eu odeio suspirar (tenho certeza que faço muito isso embora). Eu odeio fazer isso de propósito, mas realmente não suporto quando um suspiro deixa minha boca inconscientemente.

"Não suspire e não chore. Você vai ser aproveitado."

Era algo que uma mulher idosa, que há muito parou de contar sua idade, tinha dito.

"Suspirar significa que a sua guarda está baixa. Se você quiser sobreviver, mantenha sua boca fechada. Não deixe sua guarda baixa à ninguém. Não confie em ninguém, nunca. Não acredite em ninguém."

Essas foram as palavras de alguém à beira da morte. Mesmo tendo sido baleada no peito e cuspido sangue, essas palavras chegaram aos seus ouvidos claramente. Ele achava que jamais poderia esquecer isso. Era uma voz que não esqueceria, mesmo se quisesse. Iria se agarrar a ele, para sempre.

No entanto, ele desobedeceu. Soltou um suspiro descuidado quando não estava prestando atenção.

Isto é tudo culpa dele...

Ele estalou a língua.

Talvez tenha sido um erro trazer Shion aqui. Realmente sentiu que poderia ser o caso.

Ele abriu a porta sem hesitação. Abriu-a e olhou para fora sem se esconder. Se não tivesse sorte poderia ser fatal. Mesmo se não fosse um soldado armado, e se fosse um ladrão armado, usando uma criança como um chamariz - não é uma ocorrência incomum aqui. Mas Shion não sabe disso. Ele não sabe ter suspeita, cautela, ou medo. É a insensibilidade e indefesa cultivada por viver em absoluta segurança.

E estou sobrecarregado pela bagagem perigosa e complicada.

Eu acho. Mas não é como se alguém me fez ficar assim. Eu mesmo me sobrecarreguei com isso. Eu queria recompensá-lo. Não podia ficar de braços cruzados e deixar que a pessoa que salvou minha vida e pediu nada em troca ser morto.

Eu não posso retribuir um cadáver. Prefiro não carregar uma dívida. Não posso retribuir para a minha vida inteira. É por isso que salvei Shion e o trouxe aqui. Mas, poderia estar sendo muito fácil para ele. Trazê-lo aqui poderia ter sido um risco muito maior do que eu tinha antecipado. Ele é estúpido e indefeso, uma carga perigosa...

Ele lançou um olhar fugaz para a porta.

Mas, se Shion não tivesse aberto a porta, ele não teria salvado Riko.

A criança estava engasgada a beira da morte. Shion agiu rapidamente e tratou-o de forma adequada. Ele foi poupado desse destino. Assim como eu estava na tempestade há quatro anos. Naquela época, Shion me salvou sem se preocupar com o seu próprio bem-estar, e desta vez fez isso por Riko.

Ele só entende a teoria, é otimista demais e ainda nem aprendeu a ser desconfiado. Ele era um idiota cabeça de vento que não tinha sequer ouvido falar de Hamlet. Mas, ele é melhor do que eu. Não no conhecimento ou na habilidade tanto como... Se não no conhecimento ou na habilidade, então no que?

"Eu estou atraído por você."

Tentei repetir a confissão embaraçosa de Shion com uma cara séria. Seria apenas a capacidade de confiar nas pessoas? Ou é a capacidade de colocar a si mesmo em perigo para salvar um completo estranho?

Não sei. As coisas que ele não conhece são perigosas. É muito... Passos. Uma batida. A porta se abre e retorna Shion. {Sim, isso salta literalmente, no meio da frase, do fluxo de consciência do Nezumi à narração da terceira pessoa onisciente; a prosa japonesa é estranha}

"Se você vai bater espere por uma resposta antes de abrir a porta."

"Você não iria responder de qualquer maneira. Mas, de novo, não estava trancada."

"Hum?"

"A porta. Eu me perguntava se você iria trancá-la. Você deixou aberta para mim."

Isso mesmo. Eu não havia trancado a porta. Que descuidado sou.

"Cara, seus maus hábitos estão passando para mim."

"Hum, o que você está falando? De qualquer forma, olhe, eles me deram algumas uvas como forma de agradecimento."

Era um monte de frutas.

"Eles me ofereceram peixe seco também, mas eu recusei."

"Ooh, estou vendo, você não se sente confortável, tendo doações de pessoas pobres."

"Não, não é isso. Eu recusei, porque você odeia peixe."

"Eu? Eu iria comê-lo. Pedintes não podem escolher."

"Mas, você disse que odeia frutos do mar, não é?"

"Eu disse que não comeria cru. Porque as condições sanitárias aqui são pobres demais para comer peixe cru – foi o que eu quis dizer".

Shion piscou e colocou a mão em seus cabelos brancos.

"Ah, isso foi o que você quis dizer... Mas, bem, é melhor assim."

"O que?"

"Na casa de Karan... ah, nome da menina é Karan."

"Eu sei".

"Ah, certo. O nome dela é o mesmo que da minha mãe."

"Eu não dou a mínima para sua mãe. Então, você começou a chorar por ter perdido a sua mãe ou algo assim? Que triste."

Eu estava tentando ser sarcástico, mas Shion apenas balançou a cabeça com uma expressão séria.

"Eu não sabia. Havia outra menina, menor, com menos idade que Riko. E tenho certeza de que o peixe era o seu jantar. Um peixe para três filhos. Eu não podia levá-lo. Eles não aceitariam um não como resposta sobre as uvas, realmente queriam me agradecer. Isso me fez meio que feliz."

"E se ele tivesse ido embora?"

"Hum?"

"Se você deixasse a criança morrer, Karan e a outra menina teriam mais comida. E no caso de Riko, talvez teria sido melhor ter morrido do que ter de crescer com fome. Mas você provavelmente acha que não é da sua conta."

Shion se sentou em frente ao queimador. Seu cabelo branco - apesar de estar realmente mais transparente - foi tingido de vermelho pelo fogo. Mesmo que seu cabelo jovem tivesse perdido a sua cor, tinha mantido o seu brilho.

É lindo.

Ele estendeu a mão para o cabelo do Shion, pintado pelo ambiente e brilhante. Tinha uma espécie de sensação nítida, mas suave. Como o cabelo normal.

"Você foi o único que me disse para viver."

Shion murmurou, o rosto na direção do fogo.

"Nezumi, não foi você quem disse, a vida tem um significado, então viva."

"Eu apenas disse que a vitória vai para os sobreviventes."

"É a mesma coisa."

"Como se fosse".

Os mortos não podem falar. Eles são apenas conchas, definidos e retornados ao seu rei. Eles podem falar de nem malícia, nem miséria, nem dor, nem ódio, nem tristeza. Assim, viva. Viva e carregue as memórias deles.

No. 6.

Uma árvore estéril crescendo em cima dos corpos e do sangue dos inumeráveis, as almas não registradas. Um dia, vou acabar com isso. Vou fazê-lo de tal forma que as vozes dos mortos de malícia, de miséria, de tristeza, de ódio, incharão do chão em uma torrente que não poderá ser silenciada. Até esse dia, eu continuarei a viver e a lembrar. Eu não posso sofrer para me esquecer. Este corpo não sofrerá por isso.

"Ela me elogiou".

Shion sorriu e olhou para o Nezumi.

"Elogiou você? Sobre o quê?"

"Meu cabelo. A mãe de Karan me elogiou sobre ele, ela disse que era bonito. 'Que cor incomum. Seu cabelo é muito bonito', ela disse."

Encolhi os ombros.

"Eu acho que é bastante incomum. Há um monte de crianças desnutridas por aqui que têm o cabelo branco, mas o deles não é branco puro como o seu."

"Não é apenas incomum. Ela disse que é bonito também."

"Você é um garoto, não é? Por que está tão feliz por terem elogiado o seu cabelo?"

"Ei, vamos lá, isso realmente aumentou a minha autoconfiança. Uma vez que você disse que ia me mostrar amanhã a cidade e tudo..."

"Eu não lembro ter dito tal coisa."

"Sim, você disse."

Eu realmente disse. Disse que ia mostrar a ele em torno de mim mesmo. Ele está agindo como uma criança mal-humorada. Meus olhos se desviaram para Shion.

"Eu tenho uma agenda lotada. Você pode fazer o que quiser."

"Ok. Eu quero segui-lo então. Ah, também..."

"O que é agora?"

"Eu prometi que ia ler para Riko e Karan quando tivesse tempo. Eu já encontrei um monte de livros ilustrados anteriormente."

"Aqui?"

"Ou lá fora, se o tempo estiver bom."

Suspirei novamente. Eu fechei os meus lábios com força, mal podia suportar.

"Você está tentando transformar isso em um jardim de infância?"

"Há muitas crianças por aqui?"

"Um grande número. Esta é a minha casa. Não faça merda, sem pedir permissão. Não basta fazer as coisas por caprichos."

Eu usei um tom rude. Estava extremamente irritado. Estava irritado com Shion. Minha paciência estava se esgotando. Eu realmente não acho que Shion é egoísta ou faz as coisas por capricho. Ele é simplesmente imprevisível. Não posso descobrir o que ele está pensando ou o que ele vai fazer. Suas ações e palavras sempre me pegam de surpresa. Estou exausto.

Shion colocou dois pratos na mesa. A sopa estava feita e um perfume suave flutuava.

"Eu não estava fazendo isso por um capricho... Eu tinha acabado de me tornar amigo de Karan e os outros, então..."

"Desculpe?"

"Nós somos amigos. Eles são os primeiros amigos que fiz aqui. Eu realmente não tenho nenhum amigo na Nº 6, além de Safu".

"Essa garota disse que queria fazer sexo você. Eu não acho que ela conta como uma amiga."

Ela era uma menina bonita com cabelo curto.

Shion, Eu quero fazer sexo com você.

Shion não podia aceitar a confissão que ela tinha reunido toda a sua coragem para fazer. Vamos lá, não se apaixone por um menino tão sem esperança. Ele relembrou em sua mente a garota que mal conhecia afinal. Por alguma razão, de repente ele veio com uma vontade de rir.

"O quê?"

Shion inclinou a cabeça para o lado, perplexo. Dois ratinhos estavam sentados em cima de um livro, a cabeça inclinada para o lado também, como se imitando ele. Eu caí na gargalhada. Nezumi se retorceu e também rendeu-se ao riso brotando da boca do estômago.

-

A chuva tinha parado antes do amanhecer. Estava nublado e amanheceu enquanto a terra ainda estava fria. Nezumi rapidamente tecia no meio da multidão. Shion tentou desesperadamente acompanhar ele. Estava sem fôlego. Ele foi empurrado, bateu e gritou; Olhares curiosos choveram sobre sua cabeça; os cheiros que ele não poderia nem mesmo identificar a origem chegaram ao seu nariz; seus pés ficaram presos à lama; barracas e lojas estavam alinhadas ao longo de ambos os lados da rua, e delas, fumaça densa derramava rudemente para a rua; no ar vozes iradas, murmúrios sedutores, e os gritos dos vendedores ambulantes colidiam. Ele se sentiu tonto.

Depois que fui expulso da área Nº 6 de alta classe residencial, Chronos, eu me estabeleci na Cidade Perdida, que era um lugar bastante diversificado e animado, mas comparado a isso, Chronos era uma cidade resort relaxante.

Na rua principal, os veículos e, naturalmente, as pessoas, eram organizados pela direção que eles estavam indo. Era uma regra não mudar de direção abruptamente ou parar. Todo mundo anda de forma ordenada na mesma direção. As pessoas não passam umas pelas outras ou chamam os amigos com muita freqüência. Nada de inesperado aconteceu. Estava organizado de modo com que isso não acontecesse. Esse é o tipo de lugar que a Nº 6 é.

Houve, de repente, um grito alto ao meu lado. E, ao mesmo tempo eu fui empurrado para longe. Eu cambaleei e caí sobre os joelhos na lama. Vários homens estavam correndo por mim. Um deles deixou cair algo na minha frente. Era uma laranja.

"Ladrões!"

Um homem saiu correndo de uma das barracas com uma arma. Ele era um homem baixo e corpulento.

"Ladrões! Alguém os pegue!"

Não parecia alguém iria ajudar. Havia pessoas sorrindo, pessoas gritando alguma coisa, pessoas que estavam completamente desinteressadas, e os homens que tinham sido chamados de ladrões haviam entrado na multidão.

Shion engoliu em seco. O homem estava agitando a arma. Os transeuntes que perceberam se agacharam.

Ele está são?

Eu não pensaria assim. É muito louco para descarregar uma arma em uma multidão como esta. Mas, ele está com um olhar sério. O cano longo dessa arma velha estava apontada para frente.

Um dos homens que fugiam empurrou uma mulher velha fora do caminho. A velha gritou e cambaleou para o meio da rua. Ela ignorava completamente a arma. O dedo do homem gordo e grande estava no gatilho.

Pouco antes de seu dedo, gordo e peludo puxar o gatilho, Shion correu para ele. Ele forçou cano da arma para cima com toda a força.

Houve um grande choque na palma da minha mão. Um tiro ecoou em meus ouvidos. O cano da arma gritou fogo, apontado para o céu escuro. Eu cambaleei. Minhas pernas foram expulsas de mim e caí no chão. Eu não conseguia respirar.

"O que diabos você pensa que está fazendo!"

Meu campo de visão estava completamente cheia com a imagem de um homem segurando uma arma sobre mim. Eu me encolhi. O grande homem foi inesperadamente ágil e chutou Shion de lado.

"Guh"

Eu não podia falar. O conteúdo de meu estômago começou a aumentar.

"Você é um daqueles bastardos não é? Droga, entregue a mercadoria!"

O calçado do homem fedia como gordura animal. Ele deu outro chute afiado visando o estômago de Shion.

"Eu não sou um deles!"

Eu escapei do chute por pouco e gritei. Se eu não tivesse, ele não teria hesitado nem mesmo um pouco.

"Eu não estou com eles... você entendeu errado".

"Cala a boca. Você ajudou esses ladrões bastardos fugirem, não foi? Você entrou no meu caminho."

"Se eu não tivesse você provavelmente teria matado alguém... O que você teria feito se tivesse disparado a arma e acertado alguém?"

Surpreendentemente, o homem riu. E várias pessoas ao longo da estrada também.

"O que eu teria feito?"

O cheiro de gordura animal encheu o ar quando o homem riu.

"Então você se importa com o que eu faço? Hein?"

A expressão dele ficou séria de novo e de repente agarrou Shion pelos cabelos.

"Eu não gosto dessa cara engraçada que você está fazendo."

Ele levantou Shion pelo seu cabelo e o atirou no chão com muita força. Doeu tanto que pensou que seu couro cabeludo fora arrancado. Mas seus sentimentos de raiva e humilhação eram muito maiores do que a dor em seu corpo.

"Pare!"

Pare. Me largue. Não trate seres humanos como animais.

Eu bati no homem. Podia sentir meu cotovelo cavar em sua barriga saliente. Guh. Sua voz tornou-se abatida e ele caiu de joelhos.

Pouco tempo depois, uma multidão se juntou em volta. Então eles começaram a bater palmas e aplaudindo.

"Pega ele garoto! Dê a esse bastardo o que merece."

"Mate aquele desgraçado, velho."

Ninguém tentou impedi-lo. As pessoas ao meu redor estavam apenas gostando. Shion procurou pelos olhos cor de cinza no meio da multidão. Eles não estavam lá.

"Como você ousa, seu merdinha!"

Algo bateu em meu rosto quando ouvi aquela voz bestial. Eu vi faíscas. Minha visão ficou escura por um segundo. Minha boca estava quente. Encheu com algo quente. Eu cuspi para que não se acumulasse. Sangue misturado com cuspe caiu no chão.

"Pare de agir como se você fosse uma merda quente."

O rosto do homem era vermelho e tremia. Ambos os olhos estavam injetados de sangue, os vasos capilares pareciam mosquiteiro vermelho. Eles estavam cheios de real intenção assassina.

"Eu não vou deixar você tirar isso de graça."

Ele colocou a arma entre os olhos de Shion. Minha boca caiu boquiaberta. Senti como se meu coração fosse saltar para fora do peito. Ninguém poderia detê-lo. Nem uma única pessoa nesta multidão fez um gesto para parar o homem. Eu senti náuseas. Não poderia dizer se a arma apontada para minha cabeça era real ou uma ilusão.

"Ei".

Disse uma voz audaciosa. Era um homem que cozinhava carne em uma loja. Carnes pretas estavam postas em uma linha enquanto uma fumaça negra subia.

"Não foda a minha loja."

"Eu não estou fodendo ela."

"Mas vai fazer isso. Você vai contaminar toda essa comida com sangue e cérebro. Vá para outro lugar."

"Tch, carne meio podre já é contaminada o suficiente."

"Oh? Carne podre? É interessante ouvir isso de alguém que vende fruta e legumes podres."

"Meus produtos são todos frescos."

"Não me faça rir. Eles estão cobertos de moscas nesta época do ano {é inverno, lembre-se}. Eles estão ficando mumificados".

"Como você ousa, seu pedaço de merda."

Eles começaram a brigar e Shion aproveitou a oportunidade para se levantar e fugir.

"Ah, droga. Volta aqui".

Eu ouvi a voz irritada do homem, mas não tinha tempo para me virar. O medo de levar um tiro nas costas me dominou. Meus pés se enroscaram.

"Aqui".

Alguém agarrou meu braço.

"Depressa, por aqui."

Eu fui arrastado para um beco estreito entre os edifícios. Debrucei-me contra a parede e recuperei a respiração.

"Você está bem?"

Olhei para cima. A menina estava sorrindo para mim. Eu podia ver seus lábios vermelhos na escuridão. Eles abriram para falar.

"Oh, minha nossa, seu lábio está cortado. Você está sangrando. Isso deve ter sido horrível. Coitadinho".

O cheiro de seu perfume forte encheu meu nariz.

"Muito obrigado".

Shion respirou fundo e agradeceu-lhe. Ela ficou em silêncio por um segundo e então começou a rir.

"Eu me pergunto quantos anos se passaram desde que alguém me agradeceu. Esse seu cabelo é muito estranho, garoto."

"Sim... Bem, é complicado..."

"Todo mundo é complicado. Até eu."

Aquela mulher fria, com os lábios abertos, estava usando um vestido claro. Tinha uma linha do pescoço um tanto aberta, exibindo seus bens generosos. O branco de sua pele se destacou ainda mais que seus lábios vermelhos. Isso perfurou meus olhos.

"Olha aqui. É uma marca de queimadura. Um tempo atrás, um homem me queimou com uma barra de ferro quente. Foi horrível. Mas, se você olhar bem, não é o mesmo tipo de um olhar de uma serpente? Como uma cobra rastejando."

Eu tenho uma cobra também. Enrolada no meu corpo inteiro.

Isso era o que eu pensava, mas não disse nada. A mulher continuou a rir.

"Garoto, você conhece uma mulher?"

"O quê?"

"Devo te esclarecer? Há uma sala aqui perto. Nós podemos pegar o nosso tempo e se divertir. O que você acha?"

"Hum?"

"Estou lhe pedindo para brincar."

Eu podia sentir alguma irritação em sua voz.

"Você está livre até a noite, não é? Não se preocupe com isso, eu não sou cara. Vamos brincar, vamos."

Ela colocou os braços ao redor do meu pescoço e me pressionou contra a parede. E então ela me beijou. Eu podia sentir o cheiro da maquiagem espessa. Senti-me tonto. Ela enfiou a língua entre meus dentes e começou a tocar em minha língua.

Eu reflexivamente a empurrei.

"O que você está fazendo?"

"Uh... Apenas... Eu não..."

"Para com isso. Eu salvei a sua bunda. Você poderia ao menos me dar alguns negócios."

"Negócios?... Mas... eu..."

"Se você não quer, não há nada que eu possa fazer por você. Mas desde que nos beijamos você tem que pagar."

"Mas..."

Os lábios dela torceram. Tornou-se uma voz repugnantemente doce.

"Vamos lá, não fique nervoso. Você é um homem não é? Venha, eu vou lhe mostrar uma coisa boa. Vai ser muito divertido, venha para o meu quarto garoto..."

"Não... Eu estou... bem..."

Seus braços pálidos estavam ao meu redor novamente. Fiquei ainda mais gelado do que quando a arma foi colocada em minha cabeça.

"Desculpe, mas ele já falou".

Nezumi estava em pé na boca do beco. A mulher levantou uma sobrancelha.

"Que diabos você está falando?"

"Ele é meu. E ficaria agradecido se você me devolvesse ele em uma peça."

Nezumi fez um gesto para que eu fosse a ele.

"Ah, eu vejo como é. Pensei que ele era um pouco lento para reagir, se ele não é para mulheres então faz sentido."

"O quê? Não, isso não é..."

Nezumi cobriu a boca de Shion com a mão e lançou para a mulher um sorriso.

"Sim, é exatamente isso. Ele é apenas delirantemente apaixonado por mim. Ele não teria qualquer resposta independentemente de quão bela a mulher o tenta."

Os lábios da mulher se estreitaram. Ela atirou um olhar a Shion que dizia 'o dinheiro, agora'.

"Eu realmente não me importo com o que ele sente, ele ainda tem que pagar pelo beijo. É uma moeda de prata."

Nezumi riu.

"Aquele beijo foi no valor de uma moeda de prata? Deve ter sido algum beijo."

"Valeu a pena, pelo menos, muito. Se ele não pode pagar, então você vai. Ele é seu namorado não é? Você não está, pelo menos, responsável por isso?"

"Tudo bem. Com certeza. Você pode dar o troco?"

"O troco?"

Nezumi se inclinou sobre a mulher.

"O que você..."

Nezumi plantou seus lábios nos dela no meio da frase. Bem na frente de Shion. Só um segundo mais tarde, a mulher estava imóvel. Seu colar exposto estava se movendo para cima e para baixo {descrição estranha da respiração pesada}. E então ele terminou o beijo.

"Que tal isso?"

"Não foi ruim, mas"

Ela sorriu.

"Pedir o troco é um pouco demais."

"Oh, isso é muito ruim. Então que tal isso para a senhora."

Nezumi entregou-lhe uma laranja e se virou, agarrando Shion pelo braço.

"Tudo bem, vamos embora."

A mulher gritou-lhe com os braços cruzados.

"Não deixe que esse homem te arruíne, garoto. Seria um desperdício, sem nem mesmo saber os prazeres de uma mulher."

Voltamos para a multidão agitada. A multidão e os cheiros mistos que tinham me deixado perplexo anteriormente estavam, de alguma forma, confortáveis agora.

"O que foi isso?"

Shion resmungou e Nezumi caminhou ao seu lado.

"O que foi o quê?"

"Por que eu sou um 'garoto', mas você é um 'homem'?"

"É uma questão de experiência."

"E por que ela disse que eu era lento para reagir?"

"Porque você é lento. Particularmente no que diz respeito aos membros do sexo oposto. Desculpe, mano, eu não queria interromper a sua primeira vez."

Nezumi deu uma risadinha.

"Nezumi".

"Sim?"

"Há quanto tempo você estava me observando?"

"Desde aproximadamente a hora em que você pulou naquele cara gordo".

Parei em meus passos. Alguém bateu em mim por trás e gritou.

"Por que você não me salvou?"

"Mas eu salvei. Você estava prestes a ser comido por uma bruxa. Ela ia mastigar você, primeiro a cabeça."

"E quanto mais cedo, quando tinha uma arma apontada para mim?"

"Não seja um bebê."

Os olhos cor-de-cinza brilhavam como uma lâmina. O sorriso do Nezumi sempre desaparecia em um segundo.

"Honestamente Shion, você sobreviveria todo este tempo só de pensar que alguém estaria sempre por perto para salvar sua bunda? Vai com Deus. Você não vai sobreviver por muito tempo contando com os outros assim. Consiga isso através dessa sua cabeça oca"

Nezumi abruptamente virou-se e começou a andar mais rápido. Shion podia sentir seu rosto queimar vermelho.

Ele está certo, eu sou um bebê. Eu realmente achava que ele viria para me salvar. Estava indefeso, arrastando-o comigo, confiando nele. Quero ser igual a ele, mas ainda acho que é normal ser protegido. Eu estou tão envergonhado.

Ele seguiu logo atrás dos ombros de Nezumi, embrulhado em pano de super fibra.

"Mas, você conseguiu cuidar de si mesmo muito bem naquela hora."

Nezumi disse, facilitando um pouco o seu ritmo.

"Naquela hora?"

"Com o gordo. Você viu uma abertura e escapou."

"Ah, isso. Eu estava meio assombrado. Pensei que ele realmente iria atirar em mim..."

"Ele provavelmente iria. Isso realmente foi um pouco de sorte ruim, sua cabeça poderia ter sido arrancada e ter rolado pela rua."

"Eu não quero pensar nisso. Me dá arrepios".

Eu realmente senti frio. Os joelhos da minha calça e a barra da minha jaqueta estavam cobertas de lama. Quando eu tentei limpar tropecei em alguma coisa.

"Woah"

Eu caí para frente. Mal consegui pegar o equilíbrio, olhei atrás de mim. Dois pés descalços. A escuridão do beco tragou o resto do corpo, deitado no chão.

Ele está dormindo? Aqui?

"Um... Você pode me ouvir?"

Chamei. Eu fui puxado firmemente por trás.

"Que diabos você está fazendo? Se não nos apressarmos vai ficar completamente escuro. Cara, o que há com você e esses desvios?"

Nezumi clicou sua língua.

"Mas, se esta pessoa dormir aqui, ele vai congelar."

"Eu acho que ele tem problemas maiores do que se congelar. Ele já está morto."

"Qu-"

Uma mulher que vendia roupas chamou.

"Ei, se vocês dois conhecem esta pessoa deveriam ter limpado. Está no caminho."

Nezumi balançou a cabeça suavemente.

"Não, eu nunca vi esse velho antes."

"Velha. Ela é uma mendiga. Só teve que tropeçar no balde ao lado de nossa loja. Merda".

"Minhas condolências. É melhor cuidar disso de forma adequada."

"Calem a boca moleques estúpidos."

A mulher acenou um pano vermelho. Seus braços eram tão grossos como as coxas de Shion. Ele seria soprado se ela o acertasse.

Eu andei, ainda estava sendo arrastado pelo Nezumi. Pernas atrofiadas estavam cobertas por calças finas, e os pés embrulhados em sapatos de couro. Eles estavam atrás de um banco em um canto do parque florestal da No. 6. Aquele foi o primeiro corpo e a sua primeira vítima que havia visto em primeira mão.

"Eles não a mataram, certo?"

Nezumi deu um leve sorriso, como se pudesse ver o coração de Shion.

"Aquele velho... velha, provavelmente não foi morta por abelhas parasitas. Frio e fome – essa combinação vai mandar você para o outro mundo. Está na temporada para isso."

"Essa temporada?"

"A temporada de congelamento está chegando. Os velhos, as crianças, os enfermos... pessoas fracas morrem. É a temporada da seleção natural."

"A temporada da seleção natural..."

Sussurrei. Estava frio como gelo. Mas lhe faltava a doçura deliciosa de gelo. Era só frio. A ponta da minha língua ficou dormente.

"Shion, você disse que se as abelhas reaparecerem na primavera poderia haver qualquer número de vítimas naquela cidade santa, certo?"

"Sim".

"As pessoas morrem aqui todos os dias. Especialmente no inverno. O que você acha que é mais divertido, ser morto por uma abelha parasita ou morrer de fome e frio?"

Eu, inconscientemente, trouxe a minha mão para a parte de trás do meu pescoço. Havia uma cicatriz na base do meu pescoço. Traços de uma incisão. Um deles havia estado bem aqui. Ele tinha falhado em nascer apropriadamente e parecia estar meio derretido, mas ele estava tentando mastigar a sua saída e se dirigir ao mundo. A dor, a angústia e o desespero daquele momento ainda estão frescos em minha mente. Eu não quero sentir aquilo nunca mais. Mas, não posso comparar isso com a morte daquela velha. Não tenho ideia do que significa congelar ou morrer de fome.

"Nezumi, o que vai acontecer com aquela pessoa?"

"Com aquela pessoa?"

"Isso... o cadáver. Não vai apenas ficar assim, né?"

"Sem chance. Não importa o quão frio fica, cadáveres ainda vão apodrecer. Mas antes que os cães e os corvos se reúnam - eles limpam, mesmo se ninguém fizer nada".

"Vocês não têm cemitérios públicos?"

"Cemitérios? Nós não temos espaço para dar aos mortos. 'Faxineiros' virão. Olha, lá. Aqueles caras sentados lá comendo carne. Está vendo?"

Vários homens musculosos estavam sentados sob uma tenda onde Nezumi estava apontando. Eles estavam comendo carne gorda e fazendo muito barulho. Havia um cão dolorosamente magro, lambendo freneticamente qualquer suco que caia da carne.

Havia um veículo estranho ao lado da tenda. Um trailer estava conectado à parte traseira de uma bicicleta. E por cima daquilo havia uma caixa grande.

"São os 'faxineiros'. Eles pegam o dinheiro e limpam cadáveres. Os "amigos" daquela velha senhora devem ter pagado eles. Você não pode apenas ter cadáveres desarrumando a frente de sua loja, mas carregar corpos é muito nojento, então naturalmente aqueles que têm problemas com essa maldição, também têm sorte e chamam-se os "faxineiros". Pessoas sem família caem mortas o tempo todo, então o negócio é realmente muito bom quanto parece."

"Será que eles enterram os corpos?"

"Eles queimam. Os reúnem em um único lugar e queimam. Não sei se você pode realmente chamar isso de cremação. Eles não oferecem uma oração ou qualquer coisa de bom gosto desse tipo."

Fiz contato visual com um dos homens que estava mordendo a carne de um osso. O homem, com pedaços de gordura em seu bigode ralo, estava sorrindo. Ele se levantou e veio em nossa direção. Ele jogou o osso e o cão magro saltou sobre ele.

"'Meninos. Querem se divertir?"

Ele estendeu a mão e antes que Shion pudesse fazer qualquer coisa, ele agarrou seus cabelos.

"Ooh, eu pensei que era uma peruca ou algo assim. Acho que é real. Que cabelo estranho você tem."

"Pare com isso. Deixe-me ir."

"Ooh, eu gosto disso. Eu nunca vi cabelo assim antes. É tão bonito quanto um boneco, garoto".

Os homens atrás dele riram vulgarmente. Olhei para o meu lado. Nezumi tinha desaparecido.

"Deixe-me ir."

"Não faça barulho. Vamos tomar uma bebida juntos. Temos carne."

"Eu disse para me deixar ir."

O homem forte afrouxou seu aperto. Sua respiração bateu em meu rosto, cheirava a álcool e carne. Desviei o olhar.

Nezumi.

Eu mordi meu lábio e resisti chamar seu nome. Se eu não cuidar de mim, ninguém vai me proteger. Shion ficou mole.

"Tudo bem".

"Hum?"

"Eu disse que tudo bem. Vou beber."

"Ooh, agora você está falando, menino. Venha".

O braço do homem relaxou um pouco. Shion levantou uma perna e chutou a sua virilha tão forte como pôde.

Guh. Ele gemeu e caiu. Shion saltou sobre suas costas curvadas e correu.

De alguma forma, tudo o que posso fazer é fugir.

Esse pensamento fugaz passou pela minha mente, mas ele desapareceu de imediato. Eu estava correndo com todas as minhas forças. Havia menos pessoas indo e vindo. Era mais fácil passar por eles. Não preciso mais dos becos. De qualquer forma, só tenho que correr em linha reta por esta rua. Ele vai me agarrar pelo pescoço, se eu parar.

"Ah".

Meu pé escorregou. Em um instante eu estava flutuando no ar e então bati no chão. A dor correu da minha cabeça até a ponta dos meus dedos dos pés.

"Ah, ughh".

E então eu comecei a deslizar sob o concreto cinza da estrada do monte. Apesar de ser mais parecido com um escorregador abruptamente inclinado de um parquinho do que de uma estrada. Eu deslizei.

Shion fechou os olhos e cobriu a cabeça com as mãos. Quando perdeu o equilíbrio, ele começou a cair violentamente.

Estava muito escuro. No momento em tentou gritar, respirou o cheiro de terra molhada. Ele foi jogado no chão. A sujeira voou em sua boca. Ele tossiu e caiu virado para cima. Seu coração estava batendo como um sinal de alarme, era difícil respirar. Havia uma dor maçante e afiada por todo o seu corpo.

O sabor e a textura da terra encheram sua boca. Ele nunca tinha imaginado que a sujeira poderia ser doce e aromática também.

Ele podia ver as estrelas que brilhavam no céu escuro. O céu não era negro e não era azul, mas quase índigo com alguns roxos no mesmo, o céu estava muito bonito. Sua alma foi sugada. Ele nunca tinha deitado na terra e olhado para o céu antes.

Havia sempre algo tão bonito logo acima da minha cabeça?

Ele podia ouvir passos suaves. Uma voz de alguma forma piedosa. A língua quente lentamente lambeu meu rosto de cima para baixo.

"É você..."

Era o cachorro. O cão magro que estava com os homens. Ela estava lambendo toda a cabeça de Shion.

"Você estava preocupado comigo?"

Quando eu realmente percebi – quando o homem me agarrou e mexeu no meu cabelo {moral da história: não toque no cabelo}, sua mão estava coberta de sucos da carne. O cachorro estava lambendo-o atentamente.

"Ok. Agora vai ficar tudo pegajoso com a sua baba."

Me levantei e, lentamente, fiquei sobre os meus pés. A dor não era tão ruim. Consegui evitar qualquer osso quebrado ou entorses. Olhei para frente e respirei.

"Isto é..."

Havia um prédio abandonado diante de mim.

Leia o capítulo 3

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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Takumi-kun Series: Soshite, Harukaze ni Sasayaite

takumi

 

Título: Takumi-kun Series: Soshite, Harukaze ni Sasayaite
Título original: タクミくんシリーズ そして春風にささやいて
Título alternativo: --
Categoria: live action
Duração: 73 minutos
Gênero (oc.): romance, colegial
Gênero (or.): yaoi
Classificação indicativa: T
Lançamento: 22 de dezembro de 2007
Diretor (a): Kazuhiro Yokohama
Autor (a): GOTOH Shinobu (Novel)
Site Oficial: http://takumi-kun.com/harukaze/index.html

Sinopse:

Takumi Hayama (Yanagishita Tomo), secundarista da escola para garotos Shido Gakuen, acaba de descobrir que terá um novo colega de quarto, Giichi Saki (Keisuke Kato). Giichi, também conhecido como “Gii”, possui aparência e qualidades que o fazem o ídolo de sua classe, enquanto Takumi considera-se não ter nenhuma qualidade especial. Gii se declara apaixonado por Takumi, mas antes ele precisará encontrar a cura para o medo que Takumi tem de se relacionar com as outras pessoas, fruto de um grande trauma do seu passado.

Download:
Yaori Animes
Live Journal

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Megavideo

http://www.megavideo.com/?v=1EVL27VG

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sábado, 29 de outubro de 2011

Suki na Mono wa Suki Dakara Shouganai

Sukisyo Completo

 

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Título: Suki na Mono wa Suki Dakara Shouganai!!
Título original: 好きなものは好きだからしょうがない!!
Títulos alternativos: Sukisyo, Sukisho
Categoria: anime série
Episódios: 12
OVAs: 1
Gênero (oc.): comédia romântica, drama
Gênero (or.): shonen-ai, yaoi
Classificação indicativa: T
Lançamento: 2005
Estúdio: ZEXCS
Diretor (a): Haruka Ninomiya
Autor (a): Riho Sawaki
Site Oficial:

Sinopse:

Suki na Mono wa Suki Dakara Shouganai! (sukisho!) conta a história de  Sora Hashiba  que tem estado no hospital após a sua queda de um andar superior da sua escola. Na sua primeira noite de volta ao dormitório, ele acorda com um rapaz a chamar-lhe de Yoru. Este intitula-se como Ran e informa-lhe que é o seu novo companheiro de quarto. No dia seguinte, Matsuri, amigo de infância de Sora, diz-lhe que o outro rapaz chama-se Sunao, ou Nao-kun (como ele lhe chama) e que é outro seu amigo de infância. Sora não consegue lembrar-se dele nem do seu passado. A aventura para a descoberta do passado começou!
Sinopse por Yaori Animes

Trilha Sonora:
Just a Survivor – Abertura
Daydreamin – Encerramento

Download:
Yaoi Project BR

 

01 – O início AniTube Megavideo
02 – Inicia-se o fazemos qualquer negócio AniTube Megavideo
03 – A pequena trindade AniTube Megavideo
04 – A aparição do Kaitou! AniTube Megavideo
05 – O garoto fantasma Hiromu AniTube Megavideo
06 – Em formação! Cupidos AniTube Megavideo
07 – Suspeitas sobre Sunao AniTube Megavideo
08 – Abrace a meia-noite AniTube Megavideo
09 – Sora e Sunao AniTube Megavideo
10 – Odiado AniTube Megavideo
11 – Vingança AniTube Megavideo
12 – Resgate AniTube Megavideo
13 – Vamos para as fontes termais! [OVA] AniTube Megavideo

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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

[Novel] No. 6 Volume 2 Capítulo 1

No.6 volume 2

Agora traduzindo do blog 9th Avenue.

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Capítulo 1 – Vida e Morte

Tu vives; perante os descontentes, justifica-me e à minha causa.
- Hamlet, Ato V Cena II

Shion fechou o livro. Ele podia ouvir o som da chuva.

Este quarto subterrâneo era desprovido da maioria dos sons externos. Mas por alguma razão, os sons do vento e da chuva sempre pareciam ecoar através das paredes.

Um rato correu para cima da perna de Shion e empoleirou em seu joelho. Ele contraiu os bigodes e esfregou as patas da frente, bem como um pedido.

"Você quer que eu leia este livro para você?"

Cheep.

"Você realmente gosta tragédias, não? Por que não escolhe algo mais divertido?"

O rato olhou para ele e piscou seus olhos cor de uva. Shion ajustou-se na cadeira e cruzou as pernas, com o rato ainda em seu joelho.

A cadeira era uma parte da mobília fina.  Era evidente a partir de sua construção robusta e os padrões delicados esculpidos atrás da cadeira.  Mas agora, ela era usada e velha, a cor estava descascando em vários lugares, e a almofada havia desaparecido tanto que era impossível dizer qual a cor que tinha antes.  Ainda assim, era uma das poucas peças de mobília que esta sala tinha.  Uma semana atrás, Shion desenterrou isso entre os livros que cobriam dois terços do espaço do lugar.

"Pode haver um tesouro ainda maior escondido nestes livros, se você arrumar eles"  Shion tinha um tom sério, mas Rato zombou.

"Por que você não se preocupa com ganhar um pouco de força antes de pensar em coisas estúpidas como esta? Você é um garotinho que provavelmente nunca teve que fazer qualquer trabalho físico desde o dia em que você nasceu"

"Eu era encarregado da limpeza no parque. Tinha que fazer trabalho físico o tempo todo"

Os ombros do Rato se curvaram.  Sua voz tinha um tom de desprezo.

"Limpeza? A limpeza conta como trabalho físico na nº 6? Tudo o que você tinha que fazer era operar os robôs que faziam a manutenção e a limpeza. O trabalho físico, garotinho,..."

Rato agarrou o braço de Shion e apertou seus dedos com tanta força que ele estremeceu.  Os dedos de Rato, magro à primeira vista, tinha uma pegada surpreendentemente forte.

“... É com estes braços, estas pernas, e colocando as costas nisso. Usando o seu próprio corpo. Lembre-se disso"

O modo cortante e sarcástico de falar do Rato não incomodava muito Shion depois que ele se acostumou a isso.  Na sua dureza e cinismo, havia muitas vezes uma verdade que não podia deixar de concordar com, e muitas vezes saia mais convencido do que ofendido.  Era verdade, o trabalho que Shion fez na Cidade Santa Nº 6 era apenas tocar nas teclas do painel de controle.  Ele nunca tinha experimentado algum trabalho que fez ranger seu próprio corpo.  Ele não sabia como era ficar úmido de suor, ter a pele de suas mãos com bolhas, seus músculos doerem de exaustão; ficar insuportavelmente faminto, e cair em um sono confortável depois de um dia de trabalho.

Ele nunca tinha experimentado isso nem uma vez.

"É por isso que eu vou fazer isso", disse determinadamente Shion, apontando para as montanhas de livros empilhados por toda a sala.  "Vou organizá-los, classificá-los, e arquivá-los em ordem. Se isso não é trabalho físico, eu não sei o que é"

"Vai demorar até cem anos."

"Vou fazer em uma semana."

Rato encolheu os ombros novamente. 

"Como você quiser", ele suspirou. "Faça o que quiser. Mas só mexa nos livros e nas estantes. Não toque em qualquer outra coisa."

"Você não tem muito mais do que livros e estantes aqui."

"Como você disse, pode-se encontrar algum tesouro incrível. Para dizer a verdade, eu não sei o que está enterrado sob esses livros."

Os ratinhos estavam conversando uns com os outros em pequenos espaços entre os livros.  Shion pegou um pequeno livro verde-claro.

"Rato."

"Hm?"

"Há quanto tempo você vive aqui?"

Estas paredes de concreto, milhares de livros, esta sala no subsolo não pareciam bem adequados para ser uma habitação humana.

"Você não cresceu aqui, não é? Onde você estava..."

Shion fechou a boca.  Ele notou que os olhos cinzentos do Rato estavam com um brilho de aço.

"Desculpe."

Rato arrebatou o livro da mão de Shion e jogou-o de lado.

"Se você está pensando em ficar aqui", ele envolveu seus ombros no pano de superfibra, e deu um suspiro impaciente.  "Então, faça algo sobre esse seu hábito de interrogatório. Eu não sei quanto mais posso passar vexame de você bisbilhotando cada pequena parte da minha vida."

"Eu não estou bisbilhotando. Eu só queria saber."

"Se entrometer e questionar as pessoas sobre cada pedaço de informação que você quer é chamado de bisbilhotar. Lembre-se disso também."

Shion sentiu um golpe de irritação com a forma que as palavras do Rato parecia afastá-lo.  A indignação brotou dentro dele.  Não estava bisbilhotando.  Shion agarrou o braço de Rato como ele fez para sair da sala.

"Eu mal sei de nada ainda. É por isso que eu queria saber."

"E eu estou dizendo do que é chamado"

"Se fosse algo que eu pudesse ficar sem saber", Shion interrompeu: "Eu não gostaria de saber. Mas eu quero saber. Para mim, isso é algo que preciso saber. Quero saber, e por isso..." Ele mordeu a língua.  Fechou a mão sobre a boca e se agachou no chão com dor.  Lágrimas escorreram de seus olhos e a dor ardia em sua boca.  Rato desatou a rir.

"Nossa, você é um natural de primeira classe. Nunca me canso de olhar para você... Você está bem?"

"Um pouco. Morder a língua é muito doloroso."  Quando ele estava na N° 6 – que foi desde quando ele nasceu até idade de dezesseis – Shion nunca uma vez tropeçou em suas palavras o suficiente para morder a língua.  E foi a primeira vez, também, que ele tinha agarrado o braço de alguém, sem pensar, pelo desejo de dizer o que seu coração disparou para dizer, as suas palavras incapazes de juntar com seus pensamentos.

"Então?"

Rato ajoelhou-se, e olhou para o rosto do Shion.  A luz em seus olhos tinha diminuído para um brilho suave.

"O que você quer saber?"

"Você" Shion respondeu.  "Eu quero saber sobre você."

A boca do Rato caiu aberta.  Ele piscou várias vezes.

"Shion, você tem lido nenhum livro estranho ultimamente?"

"Estranho?"

"Como romances, do tipo que são clichê. Você sabe, quando um príncipe trata de salvar uma donzela em perigo, ou quando os amantes estão determinados a superar tribulações para se reunirem novamente."

"Eu não acho que já li nenhum desses."

"Então, onde diabos você achou isso? 'Eu quero saber sobre você'", Rato ecoou em descrença.

"Eu não tenho que aprender isso de qualquer lugar para dizer isso."

"Você está falando sério sobre isso?"

"É claro. Rato" Shion limpou os lábios e olhou diretamente em seus olhos cinzentos.  "Eu quero saber. Quero saber por que ainda há tantas coisas que eu não sei. Tudo o que sei sobre você é que me salvou. Não sei seu nome verdadeiro, ou como cresceu, ou por que está vivendo aqui sozinho, ou o que está pensando agora, ou o que está planejando fazer... Não faço ideia. Não sei uma única coisa sobre você"

Ele foi agarrado pelo pulso.  Os dedos do Rato eram sempre frios e rígidos.

"Então eu vou lhe dizer algo. Coloque a mão aqui."  Shion fez como lhe foi dito, e colocou a mão no peito do Rato.

"O que você sente?"

"Sentir... Bem, parece o peito de um homem, por exemplo. É duro, e plano".

"Eu sei, eu sei. Muito ruim para você, eu não tenho seios grandes. O que mais?"

"Bem..."

O que ele sentia na palma da mão através do tecido áspero da camisa do Rato?  Era a sua pulsação, seu calor, e a firmeza da sua carne.  Shion hesitou em colocar em palavras.  Não sabia por quê.  Ele retirou sua mão, e enrolou os dedos sobre a palma da mão.  Rato deu uma risadinha.

"Meu coração estava batendo, e era quente. Certo?"

"É claro. Você está vivo. É normal que o seu coração bata e que você fique quente."

"É. Estou vivo, e eu estou bem aqui na sua frente. Isso é tudo o que você precisa saber. O que mais você quer?"

Rato se levantou, e olhou para Shion.  Seu olhar, como os dedos, estava frio.

"O que você quer é informação", disse ele friamente.  "Minha data de nascimento, minha história de desenvolvimento, a minha altura, peso, índice de minha inteligência, DNA. Você só quer a informação que possa converter em números. Essa é a única maneira que você sempre tentou entender os outros seres humanos. É por isso que você não pode entender as pessoas vivas que estão de pé na sua frente."

Shion se levantou também.  Ele cerrou o punho mais rigidamente.

"Você é cheio de sarcasmo, e amor para fazer as pessoas se divertirem. Você não gosta de peixe, e é uma pessoa que dorme inquieto."

Houve um momento de silêncio.

"... Hum?"

Shion continuou.

"Você tem uma quantidade enorme de conhecimento, e uma ampla variedade disso também, mas nada disso é sistemático. Às vezes você está instável e mais sensível, mas outras vezes você é preguiçoso e descuidado com os detalhes. Você adora sopa chiando de quente, e fica realmente mal-humorado quando não tem a quantidade certa de sal. E ontem à noite, me chutou três vezes em seu sono"

"Ei Shion, espere um minuto"

"Desde que cheguei aqui, isso foi o que aprendi sobre você. Não são números. Eu nunca os substituí por números. Não é isso o que quero fazer."

O olhar do Rato deslizou para longe dele.

"Eu sou apenas um estranho para você", disse ele.  "Você não deve estar interessado em estranhos. Quatro anos atrás, você salvou minha vida, e eu lhe devo uma dívida grande por isso. É por isso que, desta vez, te ajudei. Então pode ficar aqui durante o tempo que quiser e fazer o que você quiser fazer. Mas nunca pense em querer saber mais sobre outro estranho".

"Por que não?"

"Porque ele fica em seu caminho."

"Fica em meu caminho? Saber coisas das pessoas, elas ficam no caminho?"

"Sim, para pessoas como você. Você é bom em amontoar conhecimento, mas se entrega facilmente para suas emoções. Você é rápido para confiar nas pessoas, e para tentar se anexar a elas. Eu lhe disse antes, não disse? Jogue fora tudo o que você não precisa."

"Sim, mas..."

"Mas o que você está fazendo agora é exatamente o oposto. Está começando a ter interesse em mim e quer saber mais. Você está tentando adicionar ainda mais a sua carga. Está irremediavelmente estúpido, apenas desesperado."

Shion não conseguia entender o que Rato estava dizendo.  Era mais confuso e difícil de entender do que qualquer livro erudito que tinha lido.

"Rato, eu não entendo o que você está falando."  Ele expressou seus sentimentos com sinceridade.  Rato encolheu os ombros ligeiramente.

"Quanto mais você souber, mais emocionalmente ligado você vai ficar. Então não seremos estranhos mais. E isso vai ser um problema para você."

"Para mim, por quê?"

"Quando nos tornarmos inimigos, você não será capaz de me matar."  Houve uma sugestão de riso em sua voz.  Shion cavou seus pés firmemente no tapete gasto. "Enquanto você está ocupado sendo apanhado em suas emoções, posso ir em frente e cavar uma faca em seu coração. Você sabe, uma faca é uma arma muito antiga, mas pode vir a calhar, às vezes."

"Por que você e eu temos que nos tornar inimigos? Isso é simplesmente absurdo. Isso que é estúpido"

"Sério? Eu acho que é bastante plausível."

"Rato!"  Shion disse acaloradamente.

Houve um barulho como se caísse uma pilha de livros.  Um rato pulou no ombro do Rato.

"Bem, se você realmente vai organizar estes livros, então mãos à obra. Uma semana não será o suficiente. Estou indo para o trabalho."  Rato virou agilmente nos calcanhares e saiu pela porta.  Shion sentiu toda a tensão sair de seu corpo.  Ele estava frio e úmido.  Conversar com Rato às vezes o fazia ficar tão forjado de nervos que começava a suar frio.  Shion lambeu os lábios secos.

"Eu nem sei que tipo de trabalho você faz", ele murmurou para si mesmo.  "Eu só queria saber. Quem é o estúpido aqui?"  Ele deixou sair suas palavras por um momento, então se estabeleceu para organizar as pilhas de livros.

"Shion".  A porta se abriu, e a voz do Rato o chamou.  Um par de luvas de trabalho foi atirado em sua direção.

"Você vai quebrar uma unha se usar as mãos."  A porta se fechou antes que Shion pudesse dizer obrigado, e o silêncio pairou sobre a sala de novo.  Este ato casual de bondade, ou aquelas frias, desapaixonadas palavras de alguns minutos atrás, em qual era o que ele deveria acreditar?  Shion não poderia compreendê-lo.  Foi por isso que ele queria estender a mão e pegar firme.  Shion colocou as luvas em suas mãos, e levantou alguns livros do chão.

É claro.  É bom usar luvas ao fazer este tipo de trabalho.  Isso é outra coisa que eu nem sabia.

Você só quer a informação que possa converter em números. Essa é a única maneira que você sempre tentou entender os outros seres humanos. As palavras que haviam sido jogadas em sua cara minutos antes permaneciam teimosamente em seus ouvidos.  Este método de analisar as pessoas através de dados era algo que Shion tinha aprendido em toda a sua vida na Nº 6, desde que ele havia sido considerado alto escalão no Exame de Crianças e lhe foi dado um ambiente de aprendizagem de primeira classe.

O corpo humano é composto de 274 tipos diferentes de células, em número de 60 bilhões no total.  Lembrou-se perfeitamente os nomes, formas e funções de cada um.  Ele sabia os locais e funções de cada órgão, e também tinha aprendido sobre os caminhos de transmissão de sinais entre a amígdala, o córtex periférico e o hipocampo.

Mas não era de nenhum uso para ele.  Não importa o quanto ele colocava o seu conhecimento em prática, era incapaz de compreender a pessoa com quem tinha vivido por quase um mês.

Rato honestamente pensava que eles iam se tornar inimigos algum dia?  Que eles iriam acabar matando um ao outro, isso era possível?  As palavras e ações do Rato sempre foram envoltas em mistério, e confudiam muito a Shion.

Ele não conseguia compreendê-lo.  Foi por isso que queria estender a mão e pegar firme.  Queria saber as partes do Rato que não poderiam ser substituídas por números ou símbolos.  Shion balançou a cabeça.  Os ratos correram apressados sobre seus pés. Eu tenho que parar.  Remoer isso não vai ajudar.  Agora, eu tenho que travar uma guerra com esses livros.

Ele logo ficou úmido de suor.  Suas costas doíam, e seus braços estavam pesados.  Mas o que interrompeu Shion de seu trabalho não era a dor em seu corpo ou a exaustão, mas as páginas dos livros que passou.  Ele casualmente virou para a história, e se pegou afundando no chão para ler o restante.  Totalmente absorvido, logo perdeu a noção da hora.  E cada vez, um pequeno rato pulava para cima da página em repreensão.

"Me dê mais um minuto. Vou guardá-lo assim que eu terminar de ler esta parte."

"Cheep cheep!"

"Tudo bem, tudo bem. Vou guardar, ok? Está satisfeito agora?"

E no terceiro dia, ele descobriu, sob uma velha cópia de uma revista científica, uma pequena caixa prata.  Seu kit de emergência.

Naquela noite de tempestade, há quatro anos, Rato tinha aparecido, ensopado, um intruso súbito na casa de Shion.  Seu ombro manchado de sangue, o menino à sua frente parecia que estava prestes a entrar em colapso.  Shion tinha estendido a mão sem pensar.  Seu instinto de proteção tinha mexido tão fortemente que tinha até esquecido de sentir medo do intruso.  Mesmo depois de descobrir que ele era um VC – considerado um criminoso violento e perigoso na Nº 6 – aquele sentimento não mudou.  Shion cuidou de Rato, e providenciou um tratamento para sua ferida e uma pausa momentânea.  Ele não hesitou.  Não podia ajudar, mas fez o que fez.  Como resultado, Shion perdeu a maior parte do que tinha, assim como grande parte de sua vida segura e privilegiada.

Naquela noite, Shion tinha tratado da ferida, dolorosamente evidente que uma bala causou isso, com as ferramentas e medicação desse kit de emergência.  Na manhã seguinte, havia quatro coisas que Shion deu falta – uma camisa vermelha quadriculada, uma toalha, o kit de emergência, e o próprio Rato.  Deles, dois estavam de volta em suas mãos.  Ou melhor, tirando o kit de emergência, talvez não fosse certo dizer que Rato estava "de volta" em suas mãos.  Shion foi o único que tinha caído em uma armadilha, e estava prestes a ser transportado para o Estabelecimento Correcional da Secretaria de Segurança – Rato foi quem o salvou, e o trouxe para fora da N° 6.

Não foi ele o que voltou.  Fui eu que me  refugiei aqui. Essa era a realidade dele.  Ele havia caído da cidade utópica – também chamada por alguns se Cidade Santa - para esta sala subterrânea, onde não brilha a luz do sol.  Provavelmente nunca será capaz de voltar à N° 6 legitimamente novamente.  Havia deixado sua mãe lá.  Karan ainda pensava nele, mesmo depois de ter sido escalado como um criminoso?  Shion sabia que era inútil pensar sobre isso, mas, no entanto, seu coração doía.

Ele não podia jogar tudo fora como Rato.  Ele não poderia desistir.  Ele não poderia viver assim.  Tinha de se agarrar a alguma coisa, senão iria ruir e cair.  Tinha que ter alguém em seu coração sempre, senão ele ficaria louco.

Shion abriu a tampa da caixa.  Parecia que o esterilizador automático ainda estava funcionando.  Um bisturi e um rolo de gaze brilhava vagamente sob a luz avermelhada da lâmpada estéril.  Um sentimento nostálgico brotou em seu peito como se ele fosse encontrar um velho amigo.

"Cheep-cheep! Chit-chit-chit!"

"O quê? Eu sei, eu sei. Estou chegando lá. Puxa, você é rigoroso."  Shion riu.  Como que em resposta, o rato levantou as patas dianteiras e chiou.

 

Uma semana passou, Shion tinha conseguido organizar quase todos os livros que estavam dominando a maior parte do chão.  Claro, era impossível encontrar espaço nas prateleiras para todos eles, e muitas pilhas de livros ainda permanecia no chão – mas tinha desaparecido uma quantidade considerável de espaço vital.

"Então o que você acha?"  Shion estufou o peito com orgulho.  Rato estava sentado preguiçosamente na cadeira.  Ele bocejou.

"O kit de emergência, cobertores de casal, uma caneca e um aquecedor velho. É tudo que você conseguiu encontrar?"

"Isso é muito", respondeu indignado Shion.

"Pena que você não pôde encontrar um visto de entrada para N° 6."

Shion se moveu na frente do Rato, e olhou diretamente nos olhos.  Se ele iria falar sério, não deveria desviar o olhar do outro.  Foi uma das coisas que tinha aprendido em seu mês de vida com Rato.  Shion se inclinou, e apertou cada mão em torno do apoio de braços da cadeira.

"O quê?"

Shion estava bloqueando Rato de frente.  Rato deslocou desconfortavelmente na cadeira.

"Rato, minha mãe ainda está na N° 6. Ela é minha única parente de sangue. Não importa o quanto você vai rir de mim, mas eu nunca vou ser capaz de esquecer ela. Mas... mas deixe-me dizer isso. Eu não tenho anexos para a vida na cidade mais. Mesmo se alguém me dissesse que eu pudesse voltar no tempo, eu não gostaria de voltar a quando tive o privilégio de viver na N° 6 como cidadão legítimo. Estou falando sério, eu não gostaria nem um pouco de voltar."

Os olhos cinza que Shion mirava não piscou nem uma vez.

"Você disse que a minha vida na Nº 6 era falsa. Agora eu experimentei isso por mim mesmo. E nunca, nunca quero voltar a uma vida falsa, que só é pacífica e privilegiada na aparência."

"Então você está preparado para viver a vida fora da Cidade Santa, é isso o que você está me dizendo?"

"Sim".

"Você sabe que tipo de lugar é este?"

Ele hesitou em responder.  Os Lábios do Rato torceu em um sorriso frio.

"Você não sabe nada", ele disse suavemente.  "Você não sabe como é a fome, o tremer de frio, o gemer de uma ferida que infeccionou porque foi deixada sem tratamento por muito tempo; você não sabe o sofrimento que se segue quando a ferida torna-se infestada de vermes, e você começa a apodrecer em vida; você não sabe como se sente ao ver alguém morrer na sua frente, enquanto não há nada que você pode fazer para ajudá-lo. Você não sabe uma única coisa. Vive apenas dizendo palavras bonitas... Já experimentou por si mesmo, você disse? Você só descascou a superfície daquela cidade e cheirou-a, e já está agindo como se você soubesse tudo sobre ela. Pode ser uma cidade de mentira, mas na N° 6 você tinha uma cama quente, muita comida e água limpa. Você tinha instalações médicas totalmente equipadas, instalações recreativas, instituições de ensino. Tudo o que os moradores aqui nunca seriam capazes de ter, não importa o quanto eles queiram. E você diz que não tem anexos a isso? É arrogante. Tão arrogante que me dá arrepios. Ou isso, ou você é um mentiroso."

Shion respirou. Ele apertou ainda mais os braços da cadeira.

"Posso ser arrogante, mas não estou mentindo. Independentemente de que tipo de lugar é, eu ainda quero continuar vivendo aqui. Não é porque fui expulso da N° 6 como um criminoso. Não importa quão horrível esse ambiente acaba por ser, eu quero ficar aqui".

"Qual é a sua razão?"  Rato revidou.  "Se você não está mentindo, e se você não está tentando me impressionar com um modelo de resposta, o que leva você a tomar essa decisão?"

"Eu estou atraído por você."

"Hum?"

"Você sabe coisas que eu não sei. Você me ensinou coisas que ninguém nunca me ensinou antes. Eu não posso dizê-lo bem, mas" ele hesitou.  "Eu estou atraído por você. Muito. É por isso que eu quero ficar aqui. Eu quero ver o que você vê, comer o que você come, e respirar o mesmo ar que você. Eu quero ter nessas mãos o que eu nunca fui capaz de ter na N° 6."

Rato lentamente piscou duas vezes.  Então, ele colocou uma mão em sua testa e balançou a cabeça lentamente em exasperação.

"Shion, eu notei isso há algum tempo, mas"

"Sim?"

"Sua capacidade de linguagem é pior do que a de um chimpanzé".

"Eu ouvi antes que o genoma de um ser humano e do chimpanzé são apenas diferentes de 1,23%", disse o Shion, imperturbável.  "Eu não acho que você deveria zombar dos chimpanzés."

"Eu estou zombando de você. idiota. Não tem ideia das expressões corretas a se usar?"

"Havia algo estranho no que eu disse?"

"Não use palavras como 'atraído' tão facilmente. É uma palavra muito importante. Você só deve usá-la para uma pessoa especial, insubstituível em sua vida."

"Então como é que vou dizer? Digo eu te amo?"

Rato soltou um suspiro longo e exagerado.  "Não importa", ele murmurou.  "Me confundo quando eu falo com você. Aqui", ele empurrou um livro grosso nas mãos de Shion, e se levantou.  "Hamlet. Leia-o."

"Eu já li."

"Então leia novamente. Dê a sua capacidade linguística aleijada algum treinamento bom. Aprenda algumas palavras."

"Eu estava tão fora de propósito assim?"

As palavras de Rato se aceleraram.

"Você só está fascinado por coisas novas e incomuns. Você é como um estudioso que descobriu um novo planeta, ou um novo tipo de bactéria. Você tem apenas uma coceira de curiosidade, porque já conheceu alguém que é diferente de todas as pessoas que costumavam cercá-lo. É isso. Você não está atraído por mim, e não está apaixonado por mim. Só está animado com os animais exóticos que descobriu. Será que não consegue dizer a diferença?"

Essas foram palavras duras.  Elas se tornaram espinhos afiados que esfaquearam os tímpanos de Shion.

"Eu não confio em você", disse Rato.

Shion levantou o rosto, e o seu olhar colidiu com o de Rato.  Ele estava mordendo o lábio, sem pensar.

"Eu não confio em nada que você diz. Você é alguém que está vivendo em abundância artificial desde que nasceu. E é arrogante o suficiente para ser capaz de dizer que pode jogar fora essa fortuna facilmente. Shion", disse ele de repente.  "Quando fazia a limpeza no parque, você tinha que fazer esse ritual todas as manhãs, não é?"

O ritual era sempre a primeira tarefa do dia no trabalho de Shion.  Ele tinha que colocar uma palma na imagem da Câmara Municipal - ou Gota da Lua, informalmente - que era exibido no monitor do sistema de manutenção e comprometer a sua fidelidade.

"Eu constava e sempre colocava minha devoção inabalável para a cidade N° 6."

"Nossa gratidão pela sua lealdade. Se envolva em seu dia de trabalho com sinceridade e orgulho como um bom cidadão da cidade."

Era isso.  Todas as manhãs, ele repetia a mesma tarefa.  Tinha sido um desconforto dolorido para ele.  Seu orgulho juvenil foi picado por ter de repetir estas palavras banais e grandiosas, e por este ritual em si, que parecia tolice.

Rato deu uma risada curta.

"Você odiava, não?"

"Sim".

"Sentia sufocado, não é, sendo forçado a declarar sua lealdade."

"É ... agora que você mencionou."

"Mas você se submeteu a isso", disse Rato.  "Em vez de revidar, você recitou essa promessa, todas as manhãs, e fingiu que não te incomodava. Deixe-me lhe dizer algo, Shion: palavras não são coisas que você pode atirar casualmente. Não pode se deixar ser forçado a dizer alguma coisa, e apenas se conformar com isso. Mas você não sabe disso. É por isso que eu não vou confiar em você."

A mão do Rato de repente se estendeu.  A palma de sua mão tocou a face do Shion.

"Isso magoou?"  ele perguntou suavemente.

"Um pouco".

"Não tenho qualquer rancor contra você. E também não te odeio."

"Eu sei..."  Shion respondeu calmamente.  "Isso eu posso dizer."

"Shion".

"Hm?"

"Se sente como se tivesse ido lá fora?"

Seus dedos acariciaram o cabelo de Shion.

"Você está totalmente recuperado, agora, não é? Sente como se visse por si mesmo o lugar que decidiu continuar vivendo?"

A mão do Rato lentamente se afastou.  Várias vertentes de cabelo branco se agarrou a seus longos dedos.  O cabelo do Shion ainda tinha um brilho, apesar de sua cor ter sido drenada, e certos olhos achavam que poderia ser bonito.  Mas ele sentiu a sua beleza ser cruel.  Em uma única noite, a cor tinha desvanecido de seu cabelo, e ele tinha sido marcado com uma faixa vermelha que deslizava como uma serpente sobre seu corpo inteiro.  Ele foi visto por crianças, que gritaram ao ver ele.  Não conseguia esquecer os olhares naqueles olhos.  Estavam cheios de consternação e horror como os olhos de quem viu um monstro deformado.  Mas ele tinha que sair.  Queria ver o mundo que ia viver com seus próprios olhos, ouvir os sons com seus próprios ouvidos, sentir o cheiro com o seu nariz, e senti-lo em sua própria pele.  Então, talvez, ele falaria com Rato sobre isso novamente.

Não importa que tipo de lugar é esse, eu quero continuar vivendo aqui.  Ao invés de ser cercado por falsidades, e sendo forçado a engolir palavras banais, eu quero viver aqui... mesmo se isso significa que tenho de lutar...

"Nós podemos pintar o cabelo, se for fazer você se sentir melhor de qualquer modo", disse Rato.  "Preto, marrom, verde... qualquer cor que você quiser. O que quer fazer?"

"Não, está tudo bem."

"Você vai deixar assim?"

"Sim, eu vou manter meu cabelo assim. Cabelo branco não é tão ruim. Eu acho que é melhor do que ficar totalmente careca."

Rato abaixou a face.  Seus ombros tremiam.

"Você é muito engraçado, sabe disso?"  ele disse, sua voz tremendo por prender o riso.  "Sério. Quero dizer, realmente."

"Sou?"  disse Shion em dúvida.  "Ninguém nunca me disse que sou engraçado..."

"Você é um comediante natural. Deveria jogar fora os livros de teoria e estudar comédia no lugar."

"Vou pensar sobre isso."

"Você deveria. Certo... amanhã, então, eu vou lhe mostrar os arredores".

"Certo", Shion concordou.

"E há um lugar que você definitivamente precisa ir."

"Edifício Latch", Shion respondeu por ele.

Perto de LK - 3000, Latch Bl. 3A Não tenho certeza -K.

Era um memorando de Karan, e era um enigma – Shion não sabia onde ficava, ou o que estava lá.

"Você vai descobrir onde o Edifício Latch fica?"

"Não", respondeu Rato.  "Nós não temos qualquer numerações imaginárias para os nossos edifícios aqui. Mas a um tempo atrás este lugar costumava ser uma cidade decente, e eu fui capaz de conseguir um mapa a partir de então. E há uma região marcada com LK-3000."

"Você olhou tudo isso até..."  Shion murmurou com admiração.

"Só para matar o tempo."

"Eu não acho que você tem tempo para matar. Parece ser sempre tão ocupado"

"Ah, e escreva uma carta," Rato interrompeu indiferente.

"Huh?"

"Para a sua mamãe. Mas mantenha dentro de 15 palavras. Apenas uma nota simples. Esse ratinho aqui diz que sente falta do pão caseiro de sua mãe."

"Você vai entregar a carta para mim?"

"É mais como um memorando", disse ele bruscamente.  "Sob 15 palavras. Não posso garantir que vamos chegar lá com segurança."

"Rato."

"O quê?"

"Obrigado."

Rato se encolheu longe de Shion e o fixou com um olhar horrorizado.

"Por favor, poderia parar de me olhar assim? Isso me dá calafrios. O que acontecer amanhã irá acontecer amanhã. Eu vou tomar um banho. Ah, e antes que você escreva uma carta para sua mamãe, leia uma história para esse pobre garotinho. Ele está esperando todo esse tempo."

Rato desapareceu no banheiro.  Shion sentou em uma cadeira, e abriu o livro que tinha acabado de ler mais cedo.  Havia um cheiro fraco de papel.  Ele se concentrou instantaneamente, e logo perdeu-se em suas páginas.

Se algum dia em teu peito me abrigaste,
Priva-te por um tempo da ventura
e respira cansado mais um pouco neste mundo tão duro,
para a todos contares minha história.
[1]

Hamlet deu seu último suspiro nos braços de seu amigo.  Shion lentamente fechou o livro.  Havia o som da chuva.  Ele se perguntou por que sempre parecia ecoar através das paredes para esta sala subterrânea.  Atravessava e repercutia, como o som suave da música.

E neste mundo cruel, desenhas a tua respiração na dor – talvez isso é o que viver neste mundo significava – sofrer com dores.  Rato sabia disso.  Isso havia se impregnado em seu corpo.  Um rato chiou em seu pé.

"Oh, desculpe. Qual deles você quer que eu leia?"

O rato subiu em seu joelho, e esfregou as patas dianteiras.

"Quer que eu leia este livro para você?"

Cheep.

"Você realmente gosta tragédias, não? Por que não escolhe algo mais divertido?"

Ele cruzou as pernas, com o rato ainda empoleirado em seu joelho.

"Leia-lhe a tragédia", A voz do Rato falou atrás dele.  Ele não tinha sequer notado Rato saindo do banheiro.  Não tinha ouvido um som ou sentido qualquer presença.

"Você tem uma boa voz. Este rapaz gosta quando você ler. E ele gosta de ouvir você lendo tragédias."

"Sério?"

O rato piscou seus olhos cor de uva para ele.  Shion adivinhou que era sua maneira de dizer sim.

"Ok, ok. Em seguida a partir do topo do Top Cinco..."

"Shh" Rato pressionou a toalha úmida sobre a boca do Shion.  "Ouço algo."

"Huh?"

Antes que Shion pudesse perguntar o que era, o som alcançou seus ouvidos.  O som de passos subindo os degraus. Alguém estava batendo no centro da porta pesada, e seu som era frenético, embora não totalmente forte.

Uma criança.

A criança estava batendo desesperadamente na porta.  Shion se levantou, e ia para a entrada.

"Não tão rápido".  Rato o deteve.  Sob a sua franja molhada, seus olhos cinzentos viu a porta cautelosamente.

"Não abra a porta ainda."

"Por que não?"

"É perigoso. Não abra a porta sem qualquer defesa."

"É uma criança batendo na porta. E é urgente. Algo deve ter acontecido."

"Como você pode ter tanta certeza? Um soldado armado pode bater na metade inferior da porta, não há problema."

O olhar de Shion viajou do rosto do Rato para a porta.

Ajude-me.

Ele pensou ter ouvido uma voz fraca chorar em apelo.  Ele engoliu em seco.  Destrancou a porta, e agarrou a manivela.

"Shion!"

Ele abriu a porta.  Uma corrente de ar fria soprou no quarto.  Estava ficando escuro lá fora, e um vento frio soprava.

A menina estava em pé na escuridão crescente.  Seus olhos se encheram de lágrimas quando ela olhou para Shion.  Ele a tinha visto antes.  Ela morava no barraco no fundo da encosta.  Ela era a garota que não fora capaz de esquecer – a menina que tinha gritado para os cabelos brancos de Shion e a cicatriz vermelha que serpenteava até o pescoço.  Pela primeira vez, neste olhar, ele havia sido contemplado como uma deformidade.  Mas agora, seus olhos grandes estavam cheios de lágrimas, e continha nenhum indício de terror.  Em vez disso, eles brilhavam com urgência frenética.

"Me ajuda, por favor, ele está morrendo."

Shion rapidamente tomou a menina pela mão, e começou a subir pelas escadas.  Ele gritou por cima do ombro.

"Rato, traga o kit de emergência e alguns cobertores!"

Então ele irrompeu para fora, para as madeiras de galhos nus e folhas caídas.

 

Continua em: Capítulo 2 – O Reino dos Deuses

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Notas do texto

[1] Shakespeare, William. Hamlet, Príncipe da Dinamarca. Ed. Philip Edwards.

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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

No. 6 Volume 1 Capítulo 5

Chegamos ao fim do primeiro volume, mas não se preocupem que ainda tem o segundo. Bem, ainda não tem a tradução do volume 2 em inglês, por isso vão ter que esperar mais do que o esperado para poder ler a partir do capítulo 3.

Dessa vez eu demorei por vários imprevistos na semana, e talvez no próximo capítulo eu demore também. Mas prometo que depois do próximo eu vou mais rápido. E, bem, atualizar o blog está mais difícil porque quando eu paro em casa estou o tempo todo traduzindo a novel, mas vou tentar colocar o mangá de Loveless e os episódios da segunda temporada de Junjou Romantica. E acabei de colocar dois wallpapers do No. 6 para quem quiser ‘enfeitar’ o computador J.

Apesar de ter que ler cada capítulo, tipo umas, três vezes (nunca li nada mais 'bem lido' do que isso), não ter muita gente para ler comigo e achar estranho essa troca de 1ª e 3ª pessoa o tempo todo, estou me divertindo com essa novel. Realmente é uma das melhores histórias de ficção que eu já li. Sim, sim, tá legal, vou parar de conversa fiada.

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Capítulo 5: A Cidade Folheia Em Luz

Depois que eles comeram, Rato colocou a placa de Petri e um par de pinças na frente de Shion.

"Eu tirei isso de você. Abra a tampa e dê uma olhada. Pode estar no seu campo de especialização"

"No meu campo de especialização?"

Na placa havia um cordão preto, com cerca de uma polegada de comprimento. Tentei agarrá-lo com a pinça. Ele poderia apenas trazer vestígios de uma fina membrana além de um líquido com aparência derretida, pegajosa e negra.

"É uma asa...?"

"É o que parece. Eu não tenho nenhuma idéia do que estou falando embora. Tomei outra amostra. O que é isso?"

Era um monte preto. Estava duro. Parecia que algo tinha mastigado aquilo.

"É uma crisálida... provavelmente"

"Uma crisálida, como o que mariposas e borboletas fazem? Ah, as mariposas fazem casulos certo?"

"O casulo é a cobertura da crisálida. Ovo, larva, pupa (crisálida), imago. A maioria dos insetos se desenvolve nessas etapas. Esta é provavelmente de uma abelha"

"Você pode dizer?"

"Eu posso imaginar pelo tipo de asas. Quatro asas membranosas... a maioria"

Engoli em seco um pouco.

"Eu vi com meus próprios olhos. Uma abelha preta voou do pescoço de Yamase.

"Então essa coisa preta é a mesma?"

"Provavelmente. Estava no meio da sua metamorfose em pupa. Mesmo tendo mastigado a casca, ela não se tornou uma imago completa. Ela falhou"

"Por quê?"

Por quê? Como se eu soubesse. A abelha incubou dentro do Yamase e completou sua transformação em uma imago, então porque não poderia eclodir em mim?

Foi apenas uma coincidência? Ou...

Shion refletiu sobre isso em sua mente.

"Eu não sei. Sei que é algum tipo de parasita que vive no corpo humano"

Rato olhou para a placa sem piscar.

"Uma abelha parasita... eu pensei que as abelhas só bebiam o néctar das flores"

"Essas são as abelhas e os zangões. A maioria das "abelhas" são realmente vespas solitárias"

"Há vespas parasitas também?"

Eu balancei a cabeça. As perguntas do Rato eram simples e curtas e Shion sabia mais do que o suficiente para responder. Mas eles não estavam fora de tópico. Eles estavam com agilidade e precisão ficando no cerne do problema. Como eu disse, me senti desconfortável, como se estivesse sendo encurralado. Senti como se fosse dizer uma coisa horrível que eu não poderia desfazer. Mas, eu não fugi. Não posso simplesmente fingir de bobo e disfarçar. Não poderia simplesmente fingir que nada aconteceu e impedi-lo de procurar uma resposta. Eu era uma testemunha. Isso era o que pensava. Era um anfitrião a um parasita, que lutei e venci. Tinha uma cobra vermelha gravada em mim como prova disso. Sim, este é um selo. Shion pegou Rato olhando distante.

"Deve haver cerca de 200.000 espécies de vespas parasitas. Vespas e formigas são himenópteras, eles são insetos altamente especializados, e provavelmente há dezenas de milhares de espécies ainda não registradas, e desses, provavelmente há uma grande quantidade de vespas parasitas... eu acho"

"Então você quer dizer que não sabe o que saiu de vocês dois?"

"Eu não tenho provas"

"Mas você pode obtê-las"

"Se eu tivesse os recursos adequados"

"Não é você o recurso definitivo? Você teve um parasita em você, como foi? É uma nova espécie de vespa parasita?"

"Você é realmente irritante às vezes"

"E você é sempre uma dor na bunda. Você não tem provas? Dá um tempo. Você realmente não tem idéia do quão perigosa é a situação. Vespas estão matando pessoas"

"A maioria das vespas parasitas pode fazer isso"

"O quê?"

"A maioria das espécies de vespa parasita poderia ser mais precisamente descrita como parasitóides. Elas atingem a maturidade plena se anexando a um único corpo... e elas só precisam de um hospedeiro durante esse período. Eventualmente, elas devoram o hospedeiro"

Elas eventualmente devoram o hospedeiro. As palavras ecoaram frescas em minha mente.

"Que tipo de hospedeiro?"

"Vários tipos. Mariposa, borboleta, formiga, larva, frutas... Uma espécie de approximators ichneumonodiea rhysella põe ovos nas larvas xiphydriidae e as usa como um hospedeiro"

"Então, vespas parasitam outras vespas?"

"E há um outro tipo de ichneumonoidea, o pseudorhyssa alpestris, que põe ovos na xiphydriidae logo após que o rhysella nasce e come tanto o rhysella e as larvas do xiphydriidae"

"Elas matam até mesmo a sua própria espécie... Incrível, eu pensei que os seres humanos eram as únicas criaturas que matavam uns aos outros. E?"

"O quê?"

"Há alguma vespa que usa os humanos como hospedeiros?"

"Eu nunca ouvi falar de nenhuma. Mas há uma grande quantidade de criaturas que parasitam os seres humanos. Vírus, bactérias o fazem. Eu ouvi falar que uma vez que uma mosca do berne punha ovos na cabeça de um menino e um deles enterrou em seu cérebro, mas eu acho que é um incidente isolado... Eu nunca ouvi nada parecido com uma vespa. Entretanto eu não sei. Primeiramente, como é que põem ovos em um corpo humano? Como ela insere o ovipositor sem o hospedeiro perceba?"

"Você não se lembra disso?"

"Não. Não coçou ou doeu de qualquer modo. Eu não lembro de ter sido picado por uma vespa"

"Então, ele parasita seus ovos sem você perceber"

"Além disso, eles amadurecem muito rapidamente. Em algum momento, emitem alguma substância. E faz com que os seres humanos envelheçam rapidamente e morram. O rigor de morte se estabelece e abate rapidamente, e quando adulto a vespa parasita mastiga através do cadáver e vai embora"

Shion e Rato olharam um para o outro, a respiração estava em conjunto.

"Você... realmente sobreviveu"

"Sim. Só de pensar nisso me faz querer suar frio"

"Há muitas perguntas. De onde é que essa coisa vem? E o que é?"

"Ei, esse tipo de coisa nunca aconteceu aqui antes, certo?"

"Nunca. Eu fiquei curioso, então observei isso. Houve mortes em tiroteios e bêbados se afogando, mas nunca do envelhecimento abrupto. Ao contrário da nº 6, aqui não temos qualquer informação ou gestão de controle. Notícias incomuns viajam rápido"

"Os outros blocos, Sul e Leste, em particular, são provavelmente os locais mais prováveis ​​para uma nova espécie se desenvolver"

Rato lentamente balançou a cabeça.

"É difícil de imaginar. Se algo como isso aconteceu, todas as portas teriam fechado imediatamente, mas isso não aconteceu. Produtos estão sendo tragos dos blocos sul e leste normalmente. O mesmo vale para o Bloco do Norte"

"Sim, é verdade, mas pensar que essa vespa poderia ter se desenvolvido na nº 6... é inacreditável"

"Inacreditável... com certeza"

Rato levemente bateu na placa com o dedo. Sacudiu os ombros um pouco.

"Rato?"

Ele abaixou a cabeça e um riso vazou de sua boca. Rapidamente se transformou em uma gargalhada. Risos ecoaram ao longo deste quarto cheio de livros no chão. Rato caiu em cima da cama, rolando de rir. Shion pegou a jarra de água e jogou-o na cabeça do rato.

"Ei, o que está fazendo? estúpido!"

"Você está bem?"

"Eu pareço bem? Estou encharcado"

"Eu pensei que você estava tendo um ataque histérico"

"Por que tem que ser um ataque histérico?"

"Quando você de repente começou a rir, eu tinha certeza"

"Eu estava rindo porque é engraçado"

"Engraçado? O que é engraçado?"

Rato vigorosamente balançou a cabeça. Gotículas de água atingiram o rosto de Shion.

"Era apenas risível. De onde é que essa coisa vem? N° 6, é claro. Há uma vespa estranha comendo homens voando no meio daquela cidade modelo que ainda é chamada de utopia. Nesta cidade futurista, cheia de ciência com tecnologia de ponta em todos os lugares! E é uma abelha, risível"

"Não é nenhum motivo de riso. Pessoas morreram"

Rato levantou-se subitamente e enfrentou Shion. Ele realmente era alto. Facilmente vários centímetros mais alto do que Shion.

"Qual é o seu problema?"

Shion inconscientemente deu um passo para trás e pressionou suas costas contra a parede de livros, soprando seu peito para fora com toda a força. Por um instante, os olhos cinzentos brilharam com uma luz forte, que parecia que poderia furar ele com sua ferocidade.

"Essa é uma pergunta incrivelmente estúpida"

Ele disse com uma voz monótona. Ao mesmo tempo, colocou os dedos em torno da garganta de Shion.

"Você já matou uma pessoa?"

Ele aumentou a pressão com o polegar lentamente.

"Não... eu não podia"

Seus lábios finos foram ligeiramente se abrindo. Era um sorriso frio.

"É claro. Mas, lembre-se: a vespa mata seu hospedeiro a fim de promover sua própria sobrevivência, mas os seres humanos matam seres humanos por razões muito mais simples. E os seres humanos já tentaram matá-lo também"

"Eu entendo"

"Mentiroso. Você não 'entende' nada"

"Eu entendo!"

Shion agarrou o pulso Mouse.

"Eu entendo. Se eu tivesse sido levado para a instituição correcional assim, eu teria sido enquadrado como um assassino, em vez da vespa. E eu poderia ter sido preso pelo resto da vida, ou pior, condenado à morte... As autoridades da cidade foram ganhando tempo. Até que pudessem confirmar a causa da morte de Yamase e de um outro homem... então eles fizeram-me um criminoso e transformou-o em um caso de assassinato puro. Isso é o que você quer dizer né?"

Rato afrouxou. A marca de onde seu polegar estava havia sido marcado.

"Correto. Um jovem obcecado por ter sido retirado do Curso de Elite, transforma o seu ressentimento contra a cidade e se utiliza do crime. Usando uma droga especial de sua própria criação, um padrão de crimes se acumula. Mas, graças ao árduo trabalho do departamento de ordem pública, o jovem foi preso. Os cidadãos estão seguros. Era o seu roteiro. O que é um monte melodramático. Com o seu conhecimento e história, você se encaixa no papel do criminoso perfeitamente"

"A cidade tem registros completos sobre cada cidadão. Encontrar uma pessoa que se encaixa perfeitamente no papel é um assunto fácil para eles"

"Ou melhor, você estava marcado desde o início"

"O quê?"

"Você foi marcado para a vigilância desde que você me ajudou. Ficaram vigiando você todos os dias, desde que me conheceu, o que falou, o que comeu... com este incidente eu comecei a me perguntar se a cidade realmente tinha fabricado tudo isso para prendê-lo. Eu estava errado, claro"

"Mas... por que..."

"Porque você não se submeteu à vontade da cidade"

Rato disse secando o cabelo molhado com uma toalha. Ele tinha um perfil bonito. Parecia quase artificial. O sangue fluía através da pele, em que o calor do corpo, erupções cutâneas, carne e gordura, poderiam expressar as emoções humanas e suor. Mas não se parecia com o rosto de um ser humano, mas de uma boneca requintada e escrupulosamente feita.

No entanto, Shion fez um punho. O punho que ele havia agarrado, tinha um pulso regular.

"Ei, você está voando de novo. O que estou dizendo que é chato?"

"Hum? Ah, não, não é isso. Eu só estava me perguntando o que você quis dizer com não me submeter à vontade da cidade"

Ele corou, por algum motivo. Rato bufou.

"Essa cidade não aceita quem não a obedece incondicionalmente. Inversamente, se aqueles que levantam objeções ou se opõem a ela são rejeitados. Objetos estranhos são completamente expulsos. E essa é minha opinião sobre o que aconteceu"

"Então eu sou um objeto estranho?"

"Você é, e bota objeto estranho nisso. Você abrigou um VC, duvidou do controle de informações da cidade, e viu através da sua crueldade. Desqualificado para ser um cidadão, um incômodo. A cidade só esperou uma chance de expulsar você. Ei, como é a função do sistema imunológico humano quando um vírus entra no corpo?"

"Hum? Bem, primeiro as células matadoras, chamadas linfócitos, procuram e destroem as células contaminadas pelo vírus. Então a degradação enzimática do RNA é ativada e o vírus é impedido de se reproduzir. E depois..."

"Isso é o suficiente. Quando entra nesse tom de palestra, você é realmente detestável. Isso me irrita"

"Você é que está querendo conversar"

"Oh, eu vejo como é. Em qualquer caso, para a cidade você era um vírus. Então ela tentou eliminá-lo"

"Mas sou uma pessoa. Não podem me eliminar tão facilmente"

Rato deu um grande suspiro.

"As pessoas não têm problemas para matar outras pessoas"

Shion fez um punho de novo.

"Mas, podemos salvá-las, certo?"

"O que você está falando?"

"Você me salvou. Rato, vespas parasitas não podem ajudar-se mutuamente, mas as pessoas podem salvar as pessoas, certo?"

Rato sorriu levemente e tirou os olhos de Shion.

"Você realmente é um idiota sem esperança. Como pode jorrar tais palavras brutamente. Eu lhe disse antes, eu estava apenas pagando pelo que você fez por mim"

"E eu lhe disse que você me pagou de volta dez vezes"

"Como generosidade. Você realmente valoriza tão pouco o que você me deu?"

"E você realmente valoriza tanto?"

Rato deu um longo suspiro e olhou para cima. Ele mastigou o lábio como se estivesse em uma perda de palavras. Os pequenos ratos foram a seus pés.

"Simplesmente não te entendo. Não importa como ou quantas vezes eu tento explicar isso para você, você nunca vai conseguir entender. Naquele dia, quatro anos atrás, eu tinha desistido quase completamente. Se tivesse desistido, teria sido o meu fim. Eu sabia disso. No entanto, não achava que alguém poderia me ajudar ou me emprestar uma mão. Isso era o que eu acreditava. Não tinha para onde correr e onde se esconder. Escapei para uma residência em Chronos. Estava pensando que era apenas uma questão de tempo antes de ficar incapaz de me mover por causa da exaustão... Foi uma sensação horrível. E pensar que eu nasci só para morrer tão miseravelmente... Não ria"

Ele não quis rir. Mas o som daquela noite há quatro anos ressoou nos ouvidos de Shion. Os sons ondulantes do vento, as árvores e a chuva caindo sobrepostas e um menino encharcado pouco agachado na escuridão - a imagem fresca do dia foi jogada em sua mente.

"E então, uma janela aberta. Você a abriu por capricho. E então você abriu seus braços"

"Sim, eu me lembro. Não sei por que, mas estava louco para gritar"

"Para mim, parecia que você estava me chamando. Eu pensei... foi um milagre. E você ainda deixou a janela aberta quando voltou para o quarto"

"Eu estava tentando desligar o sistema de controle ambiental"

"Por que você fez isso não importa. A janela aberta sem proteção era um milagre. E também foi um milagre que você não ligou para o departamento de ordem pública, mas tratou de minhas feridas e me alimentou. Eu nunca soube que algo assim poderia acontecer. Você foi a primeira pessoa a me mostrar... que uma mão de salvação pode chegar a você, miraculosamente. Assim como..."

Rato lentamente olhou ao redor da sala.

"Assim como em milhares de histórias aqui, algo além das expectativas humanas aconteceu. E é por isso que eu sobrevivi... Assim como você disse, é possível para as pessoas salvar outras pessoas. Você me mostrou isso. Você foi o único que me mostrou isso... É um presente extremamente valioso. Lamentável que esse fato possa ser"

A voz do rato era quase um sussurro, mas de forma clara e agradável ressoou em meus ouvidos. Shion abriu os dedos como se dissesse, "ah, então foi assim que aconteceu"

Quando eu abri a janela com estas mãos naquela noite, chamei por um milagre, juntamente com o vento.

"Não se empolgue"

O tom do Rato cresceu mais duramente.

"Eu apenas pensei que iria cuidar de você um pouco para pagar minha dívida. Se você deixar isso subir para sua cabeça, vou te jogar para fora sem pensar duas vezes"

"Ok ok, pelo que vale a pena, eu não sou do tipo em que as coisas vão para a minha cabeça. Mas, como você sabia que eu estava em apuros? Você me observou há quatro anos?"

Rato pegou um ratinho cinza e segurou-o. Era o menor dos ratos.

"Eu estive te observando muito de perto"

Shion pegou o pequeno rato sobre a palma da mão e trouxe-o perto de seu rosto.

"É um robô...?"

"É bem feito, não é? Tem todos os tipos de sensores dentro. Por ser tão pequeno, ele pode fugir da rede de controle da cidade de se deslocar sem ser visto. Dependendo da área, é claro"

"Você fez isso?"

"Basicamente. Este carinha me enviou dados sobre você desde que saí da N° 6"

Shion agarrou levemente o ratinho na mão. Estava quente como uma criatura viva. Ele pegou um que estava perambulando em seus pés. Este era leve, mas podia sentir calor e pulso.

"Eu não sabia como ou quando as autoridades da cidade iam tentar eliminá-lo. Você é jovem e talentoso. Você é útil em muitos aspectos. Então não acho que eles iam apenas tirá-lo para fora. Mas em vez disso, eu percebi que iam tentar usá-lo. É fácil enquadrar alguém por assassinato ou algo assim. Você se tornou um bode expiatório. Você seria arrastado para que todos pudessem ver um festival e te mostrar decapitado. Eles foram criados em cativeiro para esse fim"

"Primeiro um vírus, então um bode? Não é ruim"

"Os bodes são bonitos. Tenho carinho muito mais por eles do que por você"

"Puxa, obrigado. Então, esses carinhas sentiam qualquer fenômeno incomum em torno de mim e te notificavam?"

"Sim. Um homem teve uma morte pouco natural no parque onde você trabalha. Foi quando as autoridades começaram a amplificar a observação em você. E então seu colega de trabalho foi atingido. Foi o melhor momento para prendê-lo"

"Uma observação sobre mim... eu nunca percebi que estava sendo observado"

"Eles fizeram isso de modo que você não notasse. E quando que você percebeu, era tarde demais"

"Arrepiante"

"Você só percebeu agora?"

Rato riu na cara dele. Shion tirou a franja de seu rosto. Está uma bagunça. Será que o que aconteceu ou o que vai acontecer importa a todos neste momento? Eu realmente não sei de nada. Eu odeio não saber das coisas. Uma única ideia passou pela cabeça de Shion.

"Rato"

"Sim?"

"O parque"

"Hum?"

"O parque florestal no centro da cidade. Onde eu trabalhei... É provavelmente onde a vespa parasita se desenvolve"

"Por quê? É o coração da nº 6. Mesmo se você chamá-lo de uma floresta, toda a vida dentro dele é controlada, por isso é mais que uma floresta artificial. Eles saberiam imediatamente se uma vespa parasita ou algo do tipo se desenvolvesse"

"Isso é verdade, mas... se uma nova espécie viesse a desenvolver dentro da cidade, que é o lugar mais provável... Todo mundo que foi afetado, inclusive eu, estava no parque... É claro, eu não sei se houve outros casos em outros lugares, mas... a cidade me emoldurou como o culpado, porque os incidentes foram centrados no parque, certo? Caso que..."

"O monstro nasceu sob os olhos do sistema de controle e não o pegou"

"É concebível, certo? Além disso, o parque é o ponto de encontro das pessoas"

"Então, há uma abundância de hospedeiros"

Se uma criatura que caçava pessoas estava vivendo neste parque lindamente e convenientemente mantido para os cidadãos...

"A primavera".

Murmurei. Rato falou "primavera?" Em troca.

"A atividade de vespas deve cessar no inverno. Elas vão dormir. Os ovos que foram estabelecidos provavelmente permanecerão ovos durante o inverno"

"Os que estão nos corpos das pessoas?"

"Sim. E quando a primavera chegar eles ficarão na sua forma adulta, todos eles irão chocar ao mesmo tempo"

Na temporada cheia de sol e flores, vespas negras voarão, depois de ter rasgado corpos humanos. Quantos haverá? E quantas pessoas serão sacrificadas?

"Se não fizermos alguma coisa..."

"O que podemos fazer? Você não está sugerindo voltarmos para a cidade, não é? Nós vamos ser mortos. Você não tem ideia do que está falando. Não podemos arriscar a tentar escapar despercebidos e nos movermos. Provavelmente seríamos mortos a tiros no segundo em que entrarmos na cidade. Nós não temos uma arma secreta ou algo assim"

"Na verdade... poderíamos ter uma"

Rato estreitou os olhos.

"Eu sobrevivi ao ataque da vespa. Meu corpo deve ter produzido anticorpos contra a toxina da vespa... nesse caso, um soro pode ser feito de meu sangue"

Rato tinha um olhar de repulsa em seus olhos. Ele olhou para Shion e encolheu os ombros.

"Tudo bem então, você só vai andar para o departamento de saúde da cidade, e dizer, 'Por favor, examine o meu sangue. Por favor, faça um soro'. É idiota. Eles vão drenar seu sangue e lançá-lo para fora com o lixo. Eu sei que você está tentando parecer legal, mas você está realmente preparado para sacrificar sua vida por causa de estranhos?"

"Eu não quero morrer"

"Então, nem sequer pense em uma merda assim. Eles vão te matar mesmo se você tiver os anticorpos ou não. Vai acontecer mais cedo ou mais tarde, se você for pego"

"Então o que devemos fazer?"

"Nós não temos que fazer nada. Basta deixar bem o suficiente sozinho"

Shion levantou a cabeça.

"Deixe bem o suficiente sozinho?"

"Sim, não é um cenário maravilhoso? A cidade santa envolta na luz da primavera, à beira do colapso. E nós temos lugares na primeira fila"

"Rato!"

"Ei, não jogue água na minha cara de novo!"

"Você realmente acha que o Bloco Oeste é seguro? Nós dois somos seres humanos. A vespa parasita pode infestar esta área também"

Rato fechou a boca e um leve sorriso apareceu em seu rosto.

"Nós não somos seres humanos"

"O que..."

"Pelo menos, as pessoas dentro da cidade não vê as pessoas que vivem no bloco Ocidental como humanas. Você ainda não sabe que tipo de lugar é este, não é? Este é o despejo de lixo da cidade santa. Todos os indesejáveis ​​são atirados para cá para que N° 6 possa florescer. Veja por si mesmo"

"Rato..."

"Esta é apenas a minha opinião. Mas, aqueles monstros escolheram os moradores da Nº 6 como hospedeiros. Eles vivem em um ambiente estéril, onde todos os indesejáveis ​​são lançados para fora, com apenas as pessoas com boa saúde que não têm desejo por comida. Os monstros são os gourmets, estou te dizendo"

"Como você pode ter tanta certeza?"

"Shion, eu não sei nada de insetos. Mas, por que as vespas ou gafanhotos desses tipos deixariam uma área onde o alimento é abundante? Se é sobre a densidade populacional, é muito maior aqui do que na cidade. Mas, não há monstros aqui. Basicamente, eles não têm hospedeiros ou presas aqui"

Shion estava em uma perda para palavras. Seus pensamentos eram um caos. Havia uma dor na cabeça. Rato tocou seu rosto com a mão.

"Eu sinto muito... Não quis dizer para atormentar você. Eu esqueci. Você era um deles"

"Eu não sei... se sou um deles ou não"

"É claro que você não sabe. Você nunca sequer tentou entender o que está fora dessas paredes. O pensamento para saber mais sobre isso nunca nem passou pela sua mente. Sua gente ignorante, arrogante, feliz... mas também desprezível. Que é de onde você veio"

Cheio de pensamentos que não conseguia colocar em palavras, eu olhava para os olhos do Rato.

Não saber de nada, e não tentar saber alguma coisa, se eu era arrogante em cima de ter a sorte da vida que eu tinha, até agora, tudo bem, até me livrar disso. Estou satisfeito com a minha queda.

"Rato"

"Sim?"

"Eu quero saber a verdade do mundo. Eu quero saber o que é real, o que está acontecendo com o mundo que eu estou vivendo e o que ele realmente se parece"

Rato deu de ombros e sorriu.

"Você ainda é um garoto"

"Estamos com a mesma idade."

"Mas nossa experiência de vida é diferente. Só Hamlet diria algo tão constrangedor como "Eu quero saber a verdade do mundo".

"Hamlet, quem?"

"Um príncipe da Dinamarca. Antes de aprender a verdade do mundo você provavelmente deve ampliar o seu conhecimento um pouco. Você tem o conhecimento absolutamente zero dos clássicos, não?"

"Mas... eu não preciso saber sobre eles... Nós não éramos realmente encorajados a estudar as artes..."

Rato estendeu a mão, e puxou dois livros de uma prateleira.

"Então, se o que você disse é verdade, eles devem se acalmar no inverno. Nós vamos ter um alívio até a primavera"

"Provavelmente."

"Então não há necessidade de pressa. Embora não é como se nós pudéssemos ter, se quiséssemos. Até que você volte com força total, eu vou deixar você lê-lo"

"Ele?"

Um rato cor de mogno correu para o colo de Shion e ficou sobre as patas traseiras.

"Macbeth é o seu favorito. E este, você já ouviu falar de Fausto"?

"Não"

Rato torceu a cara, ele tomou uma respiração profunda.

"E certo que o não pode, se em si mesmo
não sentir lá por dentro o fogo sacro.
É só co’a inspiração própria, espontânea,
que se domina a turba, O chocho, o inerte"
[1]

E assim por diante. Você deve treinar não só a sua mente, mas também sua alma. Sua mamãe lia livros para você, não é?"

"Sim"

Os ratinhos chiaram.

"Ah, está certo. Falando de sua mama, você recebeu uma mensagem dela. Eu quase me esqueci"

"Hum?"

Rato corou um pouco e se virou.

"Uma vez que você conseguiu não morrer de alguma forma... pensei que eu, pelo menos, deixasse sua mama saber que você estava aqui."

"Você foi ver minha mãe?"

"Eu não. Foi esse cara"

Um rato cor de mogno inclinou sua cabeça.

"Enviei-o. Com uma nota em sua boca. Acho que é um método clássico também, mas de alguma forma a rede de observação não o pegou. Aqui"

"Obrigado."

"Eu estou te implorando, não me dê um agradecimento formal com os olhos marejados. Você não está envergonhado?"

"Eu estava falando com este rapaz"

"Oh. Eu vejo"

Eu estava tão grato. Eu estava grato do fundo do meu coração por alguém que havia conhecido que já tinha tantas dificuldades enfrentou escalar aquelas paredes para enviar um aviso para a minha mãe. Eu vejo, é isso o que significa "conseguir"?

"Sua velha é muito velha também. Ela sabia como escrever uma resposta fora da vista"

Rato me jogou um pedaço de papel enrolado do tamanho da metade de um dedo. Havia uma fila de rabiscos apressados, era difícil de ler os caracteres.

Perto de LK - 3000, Latch Bill 3F Não tenho certeza K.

"O que significa?"

Rato olhou isso.

"Este é um memorando da mama para o filho amado. Você não tem coração?"

"Não. Eu pensei que o 'K' fosse a primeira letra do nome da sua mãe, mas não vi a parte 'não tenho certeza'..."

"É provavelmente um endereço. Este lugar não tem números de casa ou qualquer coisa assim que... Latch Bill... vamos procurá-lo"

"Você acha que sua mãe conhece alguém no Bloco Ocidental?"

Fiquei surpreso. Nunca ouvi dizer que Karan conhecia alguém no Bloco Ocidental. Os dedos do Rato fizeram um som agradável.

"Oh, e se..."

"Hum?"

"É o seu pai"

"Sem chance... Você leu muitos livros. Você não se envergonha de dizer esse tipo de coisa?"

"Tch, você é lento para replicar. Mas, bem, eu acho que você está certo. Isso é um enredo típico de melodrama, não é? O pai e o filho muito distante terão uma união em lágrimas depois de 16 anos"

A voz do Rato abruptamente tornou mais profunda.

"Eu perdi você, meu filho!"

"E eu também pai!"

Shion saltou para os braços abertos de Rato e o abraçou. Ele estava quente. Como reflexo se lembrou de como Yamase estava frio. Lembre-se deste calor, este calor em meus braços e não daquela frieza. Eu quero que haja pessoas que sobrevivam além de mim. Não quero que vidas sejam tomadas de forma arbitrária. A agradável sensação de um corpo, a respiração quente dotada de vida perfurou-me o interior. Rato afastou delicadamente.

"Você pegou rápido"

"Sim. Eu cresci rápido"

"Você realmente é um excelente aluno. Tudo bem, vamos embora"

"Para onde?"

"Para fora"

-

Estava escuro lá fora. Aqui, a escuridão e a noite eram basicamente sinônimos.

Um vento frio me gelou até os ossos.

"Olhe"

Rato apontou.

N° 6 cortou a escuridão, brilhando ao longe, envolta em luz.

"De manhã ou de noite, ela sempre brilha assim. Não é linda?"

"Sim"

"Mas, você estará vivendo aqui a partir de agora"

A área era afundada na escuridão, apenas alguns pontos eram iluminados aqui e ali. A luz escassa fez a escuridão ainda mais proeminente.

As nuvens saíram e a lua apareceu. Era uma lua crescente. Ela parecia fina como uma espécie de clipping do prego, flutuando no céu vazio.

Rato se inclinou. Ele beliscou algo entre os dedos.

"Olhe"

Era uma vespa. Uma morta.

"Esta é uma vespa comum"

"Como você disse, a temporada ativa das vespas acabou"

"Até a primavera, de alguma forma..."

Até a primavera, temos até a primavera, provavelmente. Fomos concedidos com alguns meses de adiantamento.

"Se você realmente quiser lutar contra a vespa parasita, não vou entrar em seu caminho. No entanto, eu não vou ajudar você salvar a N° 6"

"Você odeia N° 6?"

Ele não respondeu. O vento soprou. As copas das árvores faziam um som seco quando balançavam na escuridão.

"Shion"

"Sim?"

"A cidade onde nasceu e foi criado também é uma parasita"

"Hum?"

"Ela ataca um hospedeiro e o suga secamente. Em pouco tempo é consumido tudo. Esse é o tipo de cidade que é. Parasitic City, a cidade parasita... Você entende o que estou dizendo?"

"Não"

"Eu entendo agora. Você disse que queria saber a verdade do mundo. Mas quando você souber, nunca poderá voltar atrás. Prepare-se"

"Já é muito tarde"

"É"

O riso fraco de Rato se misturou com o vento. Era um tom seco, como se para combinar com o som do vento.

"Se você ainda desejar proteger N° 6 depois que você aprender a verdade do mundo... Então, você também vai ser..."

Na escuridão, Rato virou o rosto em direção a Shion. Eu podia sentir seu olhar. Parecia que a única coisa que eu podia ver claramente era o cinza dos seus olhos.

"... Meu inimigo"

Está frio, vamos entrar. Rato disse em um tom completamente diferente, e se virou. Ele desceu as escadas, assobiando.

"Rato"

Ele parou de assobiar.

"Você nunca me disse seu nome"

"Um rato é um rato. Isso é bom o suficiente"

"Mas isso não combina com você. Além disso, você prometeu. Se eu sobrevivesse você iria me dizer o seu nome"

Eu podia ouvi-lo rir e depois virar para a direita e voltar a assobiar. Quando ouvi o som da porta se fechando, o silêncio envolveu na escuridão.

Deixado para trás, Shion ficou sozinho, congelado no lugar. O vento arreliou os seus cabelos. Em algum lugar distante, um cão uivava.

Ele olhou para a cidade pintada com a luz. Parasitic City. O rato da cidade havia dado um nome tão depreciativo a algo tão deslumbrantemente lindo.

Shion desviou os olhos da luz e respirou fundo.

E então ele desceu lentamente para a sala subterrânea.

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Volume 2 Capítulo 1

Notas do capítulo

[1] de Goethe, Fausto, Quadro II Cena IV

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