quinta-feira, 29 de setembro de 2011

[Novel] No. 6 Volume 2 Capítulo 1

No.6 volume 2

Agora traduzindo do blog 9th Avenue.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Capítulo 1 – Vida e Morte

Tu vives; perante os descontentes, justifica-me e à minha causa.
- Hamlet, Ato V Cena II

Shion fechou o livro. Ele podia ouvir o som da chuva.

Este quarto subterrâneo era desprovido da maioria dos sons externos. Mas por alguma razão, os sons do vento e da chuva sempre pareciam ecoar através das paredes.

Um rato correu para cima da perna de Shion e empoleirou em seu joelho. Ele contraiu os bigodes e esfregou as patas da frente, bem como um pedido.

"Você quer que eu leia este livro para você?"

Cheep.

"Você realmente gosta tragédias, não? Por que não escolhe algo mais divertido?"

O rato olhou para ele e piscou seus olhos cor de uva. Shion ajustou-se na cadeira e cruzou as pernas, com o rato ainda em seu joelho.

A cadeira era uma parte da mobília fina.  Era evidente a partir de sua construção robusta e os padrões delicados esculpidos atrás da cadeira.  Mas agora, ela era usada e velha, a cor estava descascando em vários lugares, e a almofada havia desaparecido tanto que era impossível dizer qual a cor que tinha antes.  Ainda assim, era uma das poucas peças de mobília que esta sala tinha.  Uma semana atrás, Shion desenterrou isso entre os livros que cobriam dois terços do espaço do lugar.

"Pode haver um tesouro ainda maior escondido nestes livros, se você arrumar eles"  Shion tinha um tom sério, mas Rato zombou.

"Por que você não se preocupa com ganhar um pouco de força antes de pensar em coisas estúpidas como esta? Você é um garotinho que provavelmente nunca teve que fazer qualquer trabalho físico desde o dia em que você nasceu"

"Eu era encarregado da limpeza no parque. Tinha que fazer trabalho físico o tempo todo"

Os ombros do Rato se curvaram.  Sua voz tinha um tom de desprezo.

"Limpeza? A limpeza conta como trabalho físico na nº 6? Tudo o que você tinha que fazer era operar os robôs que faziam a manutenção e a limpeza. O trabalho físico, garotinho,..."

Rato agarrou o braço de Shion e apertou seus dedos com tanta força que ele estremeceu.  Os dedos de Rato, magro à primeira vista, tinha uma pegada surpreendentemente forte.

“... É com estes braços, estas pernas, e colocando as costas nisso. Usando o seu próprio corpo. Lembre-se disso"

O modo cortante e sarcástico de falar do Rato não incomodava muito Shion depois que ele se acostumou a isso.  Na sua dureza e cinismo, havia muitas vezes uma verdade que não podia deixar de concordar com, e muitas vezes saia mais convencido do que ofendido.  Era verdade, o trabalho que Shion fez na Cidade Santa Nº 6 era apenas tocar nas teclas do painel de controle.  Ele nunca tinha experimentado algum trabalho que fez ranger seu próprio corpo.  Ele não sabia como era ficar úmido de suor, ter a pele de suas mãos com bolhas, seus músculos doerem de exaustão; ficar insuportavelmente faminto, e cair em um sono confortável depois de um dia de trabalho.

Ele nunca tinha experimentado isso nem uma vez.

"É por isso que eu vou fazer isso", disse determinadamente Shion, apontando para as montanhas de livros empilhados por toda a sala.  "Vou organizá-los, classificá-los, e arquivá-los em ordem. Se isso não é trabalho físico, eu não sei o que é"

"Vai demorar até cem anos."

"Vou fazer em uma semana."

Rato encolheu os ombros novamente. 

"Como você quiser", ele suspirou. "Faça o que quiser. Mas só mexa nos livros e nas estantes. Não toque em qualquer outra coisa."

"Você não tem muito mais do que livros e estantes aqui."

"Como você disse, pode-se encontrar algum tesouro incrível. Para dizer a verdade, eu não sei o que está enterrado sob esses livros."

Os ratinhos estavam conversando uns com os outros em pequenos espaços entre os livros.  Shion pegou um pequeno livro verde-claro.

"Rato."

"Hm?"

"Há quanto tempo você vive aqui?"

Estas paredes de concreto, milhares de livros, esta sala no subsolo não pareciam bem adequados para ser uma habitação humana.

"Você não cresceu aqui, não é? Onde você estava..."

Shion fechou a boca.  Ele notou que os olhos cinzentos do Rato estavam com um brilho de aço.

"Desculpe."

Rato arrebatou o livro da mão de Shion e jogou-o de lado.

"Se você está pensando em ficar aqui", ele envolveu seus ombros no pano de superfibra, e deu um suspiro impaciente.  "Então, faça algo sobre esse seu hábito de interrogatório. Eu não sei quanto mais posso passar vexame de você bisbilhotando cada pequena parte da minha vida."

"Eu não estou bisbilhotando. Eu só queria saber."

"Se entrometer e questionar as pessoas sobre cada pedaço de informação que você quer é chamado de bisbilhotar. Lembre-se disso também."

Shion sentiu um golpe de irritação com a forma que as palavras do Rato parecia afastá-lo.  A indignação brotou dentro dele.  Não estava bisbilhotando.  Shion agarrou o braço de Rato como ele fez para sair da sala.

"Eu mal sei de nada ainda. É por isso que eu queria saber."

"E eu estou dizendo do que é chamado"

"Se fosse algo que eu pudesse ficar sem saber", Shion interrompeu: "Eu não gostaria de saber. Mas eu quero saber. Para mim, isso é algo que preciso saber. Quero saber, e por isso..." Ele mordeu a língua.  Fechou a mão sobre a boca e se agachou no chão com dor.  Lágrimas escorreram de seus olhos e a dor ardia em sua boca.  Rato desatou a rir.

"Nossa, você é um natural de primeira classe. Nunca me canso de olhar para você... Você está bem?"

"Um pouco. Morder a língua é muito doloroso."  Quando ele estava na N° 6 – que foi desde quando ele nasceu até idade de dezesseis – Shion nunca uma vez tropeçou em suas palavras o suficiente para morder a língua.  E foi a primeira vez, também, que ele tinha agarrado o braço de alguém, sem pensar, pelo desejo de dizer o que seu coração disparou para dizer, as suas palavras incapazes de juntar com seus pensamentos.

"Então?"

Rato ajoelhou-se, e olhou para o rosto do Shion.  A luz em seus olhos tinha diminuído para um brilho suave.

"O que você quer saber?"

"Você" Shion respondeu.  "Eu quero saber sobre você."

A boca do Rato caiu aberta.  Ele piscou várias vezes.

"Shion, você tem lido nenhum livro estranho ultimamente?"

"Estranho?"

"Como romances, do tipo que são clichê. Você sabe, quando um príncipe trata de salvar uma donzela em perigo, ou quando os amantes estão determinados a superar tribulações para se reunirem novamente."

"Eu não acho que já li nenhum desses."

"Então, onde diabos você achou isso? 'Eu quero saber sobre você'", Rato ecoou em descrença.

"Eu não tenho que aprender isso de qualquer lugar para dizer isso."

"Você está falando sério sobre isso?"

"É claro. Rato" Shion limpou os lábios e olhou diretamente em seus olhos cinzentos.  "Eu quero saber. Quero saber por que ainda há tantas coisas que eu não sei. Tudo o que sei sobre você é que me salvou. Não sei seu nome verdadeiro, ou como cresceu, ou por que está vivendo aqui sozinho, ou o que está pensando agora, ou o que está planejando fazer... Não faço ideia. Não sei uma única coisa sobre você"

Ele foi agarrado pelo pulso.  Os dedos do Rato eram sempre frios e rígidos.

"Então eu vou lhe dizer algo. Coloque a mão aqui."  Shion fez como lhe foi dito, e colocou a mão no peito do Rato.

"O que você sente?"

"Sentir... Bem, parece o peito de um homem, por exemplo. É duro, e plano".

"Eu sei, eu sei. Muito ruim para você, eu não tenho seios grandes. O que mais?"

"Bem..."

O que ele sentia na palma da mão através do tecido áspero da camisa do Rato?  Era a sua pulsação, seu calor, e a firmeza da sua carne.  Shion hesitou em colocar em palavras.  Não sabia por quê.  Ele retirou sua mão, e enrolou os dedos sobre a palma da mão.  Rato deu uma risadinha.

"Meu coração estava batendo, e era quente. Certo?"

"É claro. Você está vivo. É normal que o seu coração bata e que você fique quente."

"É. Estou vivo, e eu estou bem aqui na sua frente. Isso é tudo o que você precisa saber. O que mais você quer?"

Rato se levantou, e olhou para Shion.  Seu olhar, como os dedos, estava frio.

"O que você quer é informação", disse ele friamente.  "Minha data de nascimento, minha história de desenvolvimento, a minha altura, peso, índice de minha inteligência, DNA. Você só quer a informação que possa converter em números. Essa é a única maneira que você sempre tentou entender os outros seres humanos. É por isso que você não pode entender as pessoas vivas que estão de pé na sua frente."

Shion se levantou também.  Ele cerrou o punho mais rigidamente.

"Você é cheio de sarcasmo, e amor para fazer as pessoas se divertirem. Você não gosta de peixe, e é uma pessoa que dorme inquieto."

Houve um momento de silêncio.

"... Hum?"

Shion continuou.

"Você tem uma quantidade enorme de conhecimento, e uma ampla variedade disso também, mas nada disso é sistemático. Às vezes você está instável e mais sensível, mas outras vezes você é preguiçoso e descuidado com os detalhes. Você adora sopa chiando de quente, e fica realmente mal-humorado quando não tem a quantidade certa de sal. E ontem à noite, me chutou três vezes em seu sono"

"Ei Shion, espere um minuto"

"Desde que cheguei aqui, isso foi o que aprendi sobre você. Não são números. Eu nunca os substituí por números. Não é isso o que quero fazer."

O olhar do Rato deslizou para longe dele.

"Eu sou apenas um estranho para você", disse ele.  "Você não deve estar interessado em estranhos. Quatro anos atrás, você salvou minha vida, e eu lhe devo uma dívida grande por isso. É por isso que, desta vez, te ajudei. Então pode ficar aqui durante o tempo que quiser e fazer o que você quiser fazer. Mas nunca pense em querer saber mais sobre outro estranho".

"Por que não?"

"Porque ele fica em seu caminho."

"Fica em meu caminho? Saber coisas das pessoas, elas ficam no caminho?"

"Sim, para pessoas como você. Você é bom em amontoar conhecimento, mas se entrega facilmente para suas emoções. Você é rápido para confiar nas pessoas, e para tentar se anexar a elas. Eu lhe disse antes, não disse? Jogue fora tudo o que você não precisa."

"Sim, mas..."

"Mas o que você está fazendo agora é exatamente o oposto. Está começando a ter interesse em mim e quer saber mais. Você está tentando adicionar ainda mais a sua carga. Está irremediavelmente estúpido, apenas desesperado."

Shion não conseguia entender o que Rato estava dizendo.  Era mais confuso e difícil de entender do que qualquer livro erudito que tinha lido.

"Rato, eu não entendo o que você está falando."  Ele expressou seus sentimentos com sinceridade.  Rato encolheu os ombros ligeiramente.

"Quanto mais você souber, mais emocionalmente ligado você vai ficar. Então não seremos estranhos mais. E isso vai ser um problema para você."

"Para mim, por quê?"

"Quando nos tornarmos inimigos, você não será capaz de me matar."  Houve uma sugestão de riso em sua voz.  Shion cavou seus pés firmemente no tapete gasto. "Enquanto você está ocupado sendo apanhado em suas emoções, posso ir em frente e cavar uma faca em seu coração. Você sabe, uma faca é uma arma muito antiga, mas pode vir a calhar, às vezes."

"Por que você e eu temos que nos tornar inimigos? Isso é simplesmente absurdo. Isso que é estúpido"

"Sério? Eu acho que é bastante plausível."

"Rato!"  Shion disse acaloradamente.

Houve um barulho como se caísse uma pilha de livros.  Um rato pulou no ombro do Rato.

"Bem, se você realmente vai organizar estes livros, então mãos à obra. Uma semana não será o suficiente. Estou indo para o trabalho."  Rato virou agilmente nos calcanhares e saiu pela porta.  Shion sentiu toda a tensão sair de seu corpo.  Ele estava frio e úmido.  Conversar com Rato às vezes o fazia ficar tão forjado de nervos que começava a suar frio.  Shion lambeu os lábios secos.

"Eu nem sei que tipo de trabalho você faz", ele murmurou para si mesmo.  "Eu só queria saber. Quem é o estúpido aqui?"  Ele deixou sair suas palavras por um momento, então se estabeleceu para organizar as pilhas de livros.

"Shion".  A porta se abriu, e a voz do Rato o chamou.  Um par de luvas de trabalho foi atirado em sua direção.

"Você vai quebrar uma unha se usar as mãos."  A porta se fechou antes que Shion pudesse dizer obrigado, e o silêncio pairou sobre a sala de novo.  Este ato casual de bondade, ou aquelas frias, desapaixonadas palavras de alguns minutos atrás, em qual era o que ele deveria acreditar?  Shion não poderia compreendê-lo.  Foi por isso que ele queria estender a mão e pegar firme.  Shion colocou as luvas em suas mãos, e levantou alguns livros do chão.

É claro.  É bom usar luvas ao fazer este tipo de trabalho.  Isso é outra coisa que eu nem sabia.

Você só quer a informação que possa converter em números. Essa é a única maneira que você sempre tentou entender os outros seres humanos. As palavras que haviam sido jogadas em sua cara minutos antes permaneciam teimosamente em seus ouvidos.  Este método de analisar as pessoas através de dados era algo que Shion tinha aprendido em toda a sua vida na Nº 6, desde que ele havia sido considerado alto escalão no Exame de Crianças e lhe foi dado um ambiente de aprendizagem de primeira classe.

O corpo humano é composto de 274 tipos diferentes de células, em número de 60 bilhões no total.  Lembrou-se perfeitamente os nomes, formas e funções de cada um.  Ele sabia os locais e funções de cada órgão, e também tinha aprendido sobre os caminhos de transmissão de sinais entre a amígdala, o córtex periférico e o hipocampo.

Mas não era de nenhum uso para ele.  Não importa o quanto ele colocava o seu conhecimento em prática, era incapaz de compreender a pessoa com quem tinha vivido por quase um mês.

Rato honestamente pensava que eles iam se tornar inimigos algum dia?  Que eles iriam acabar matando um ao outro, isso era possível?  As palavras e ações do Rato sempre foram envoltas em mistério, e confudiam muito a Shion.

Ele não conseguia compreendê-lo.  Foi por isso que queria estender a mão e pegar firme.  Queria saber as partes do Rato que não poderiam ser substituídas por números ou símbolos.  Shion balançou a cabeça.  Os ratos correram apressados sobre seus pés. Eu tenho que parar.  Remoer isso não vai ajudar.  Agora, eu tenho que travar uma guerra com esses livros.

Ele logo ficou úmido de suor.  Suas costas doíam, e seus braços estavam pesados.  Mas o que interrompeu Shion de seu trabalho não era a dor em seu corpo ou a exaustão, mas as páginas dos livros que passou.  Ele casualmente virou para a história, e se pegou afundando no chão para ler o restante.  Totalmente absorvido, logo perdeu a noção da hora.  E cada vez, um pequeno rato pulava para cima da página em repreensão.

"Me dê mais um minuto. Vou guardá-lo assim que eu terminar de ler esta parte."

"Cheep cheep!"

"Tudo bem, tudo bem. Vou guardar, ok? Está satisfeito agora?"

E no terceiro dia, ele descobriu, sob uma velha cópia de uma revista científica, uma pequena caixa prata.  Seu kit de emergência.

Naquela noite de tempestade, há quatro anos, Rato tinha aparecido, ensopado, um intruso súbito na casa de Shion.  Seu ombro manchado de sangue, o menino à sua frente parecia que estava prestes a entrar em colapso.  Shion tinha estendido a mão sem pensar.  Seu instinto de proteção tinha mexido tão fortemente que tinha até esquecido de sentir medo do intruso.  Mesmo depois de descobrir que ele era um VC – considerado um criminoso violento e perigoso na Nº 6 – aquele sentimento não mudou.  Shion cuidou de Rato, e providenciou um tratamento para sua ferida e uma pausa momentânea.  Ele não hesitou.  Não podia ajudar, mas fez o que fez.  Como resultado, Shion perdeu a maior parte do que tinha, assim como grande parte de sua vida segura e privilegiada.

Naquela noite, Shion tinha tratado da ferida, dolorosamente evidente que uma bala causou isso, com as ferramentas e medicação desse kit de emergência.  Na manhã seguinte, havia quatro coisas que Shion deu falta – uma camisa vermelha quadriculada, uma toalha, o kit de emergência, e o próprio Rato.  Deles, dois estavam de volta em suas mãos.  Ou melhor, tirando o kit de emergência, talvez não fosse certo dizer que Rato estava "de volta" em suas mãos.  Shion foi o único que tinha caído em uma armadilha, e estava prestes a ser transportado para o Estabelecimento Correcional da Secretaria de Segurança – Rato foi quem o salvou, e o trouxe para fora da N° 6.

Não foi ele o que voltou.  Fui eu que me  refugiei aqui. Essa era a realidade dele.  Ele havia caído da cidade utópica – também chamada por alguns se Cidade Santa - para esta sala subterrânea, onde não brilha a luz do sol.  Provavelmente nunca será capaz de voltar à N° 6 legitimamente novamente.  Havia deixado sua mãe lá.  Karan ainda pensava nele, mesmo depois de ter sido escalado como um criminoso?  Shion sabia que era inútil pensar sobre isso, mas, no entanto, seu coração doía.

Ele não podia jogar tudo fora como Rato.  Ele não poderia desistir.  Ele não poderia viver assim.  Tinha de se agarrar a alguma coisa, senão iria ruir e cair.  Tinha que ter alguém em seu coração sempre, senão ele ficaria louco.

Shion abriu a tampa da caixa.  Parecia que o esterilizador automático ainda estava funcionando.  Um bisturi e um rolo de gaze brilhava vagamente sob a luz avermelhada da lâmpada estéril.  Um sentimento nostálgico brotou em seu peito como se ele fosse encontrar um velho amigo.

"Cheep-cheep! Chit-chit-chit!"

"O quê? Eu sei, eu sei. Estou chegando lá. Puxa, você é rigoroso."  Shion riu.  Como que em resposta, o rato levantou as patas dianteiras e chiou.

 

Uma semana passou, Shion tinha conseguido organizar quase todos os livros que estavam dominando a maior parte do chão.  Claro, era impossível encontrar espaço nas prateleiras para todos eles, e muitas pilhas de livros ainda permanecia no chão – mas tinha desaparecido uma quantidade considerável de espaço vital.

"Então o que você acha?"  Shion estufou o peito com orgulho.  Rato estava sentado preguiçosamente na cadeira.  Ele bocejou.

"O kit de emergência, cobertores de casal, uma caneca e um aquecedor velho. É tudo que você conseguiu encontrar?"

"Isso é muito", respondeu indignado Shion.

"Pena que você não pôde encontrar um visto de entrada para N° 6."

Shion se moveu na frente do Rato, e olhou diretamente nos olhos.  Se ele iria falar sério, não deveria desviar o olhar do outro.  Foi uma das coisas que tinha aprendido em seu mês de vida com Rato.  Shion se inclinou, e apertou cada mão em torno do apoio de braços da cadeira.

"O quê?"

Shion estava bloqueando Rato de frente.  Rato deslocou desconfortavelmente na cadeira.

"Rato, minha mãe ainda está na N° 6. Ela é minha única parente de sangue. Não importa o quanto você vai rir de mim, mas eu nunca vou ser capaz de esquecer ela. Mas... mas deixe-me dizer isso. Eu não tenho anexos para a vida na cidade mais. Mesmo se alguém me dissesse que eu pudesse voltar no tempo, eu não gostaria de voltar a quando tive o privilégio de viver na N° 6 como cidadão legítimo. Estou falando sério, eu não gostaria nem um pouco de voltar."

Os olhos cinza que Shion mirava não piscou nem uma vez.

"Você disse que a minha vida na Nº 6 era falsa. Agora eu experimentei isso por mim mesmo. E nunca, nunca quero voltar a uma vida falsa, que só é pacífica e privilegiada na aparência."

"Então você está preparado para viver a vida fora da Cidade Santa, é isso o que você está me dizendo?"

"Sim".

"Você sabe que tipo de lugar é este?"

Ele hesitou em responder.  Os Lábios do Rato torceu em um sorriso frio.

"Você não sabe nada", ele disse suavemente.  "Você não sabe como é a fome, o tremer de frio, o gemer de uma ferida que infeccionou porque foi deixada sem tratamento por muito tempo; você não sabe o sofrimento que se segue quando a ferida torna-se infestada de vermes, e você começa a apodrecer em vida; você não sabe como se sente ao ver alguém morrer na sua frente, enquanto não há nada que você pode fazer para ajudá-lo. Você não sabe uma única coisa. Vive apenas dizendo palavras bonitas... Já experimentou por si mesmo, você disse? Você só descascou a superfície daquela cidade e cheirou-a, e já está agindo como se você soubesse tudo sobre ela. Pode ser uma cidade de mentira, mas na N° 6 você tinha uma cama quente, muita comida e água limpa. Você tinha instalações médicas totalmente equipadas, instalações recreativas, instituições de ensino. Tudo o que os moradores aqui nunca seriam capazes de ter, não importa o quanto eles queiram. E você diz que não tem anexos a isso? É arrogante. Tão arrogante que me dá arrepios. Ou isso, ou você é um mentiroso."

Shion respirou. Ele apertou ainda mais os braços da cadeira.

"Posso ser arrogante, mas não estou mentindo. Independentemente de que tipo de lugar é, eu ainda quero continuar vivendo aqui. Não é porque fui expulso da N° 6 como um criminoso. Não importa quão horrível esse ambiente acaba por ser, eu quero ficar aqui".

"Qual é a sua razão?"  Rato revidou.  "Se você não está mentindo, e se você não está tentando me impressionar com um modelo de resposta, o que leva você a tomar essa decisão?"

"Eu estou atraído por você."

"Hum?"

"Você sabe coisas que eu não sei. Você me ensinou coisas que ninguém nunca me ensinou antes. Eu não posso dizê-lo bem, mas" ele hesitou.  "Eu estou atraído por você. Muito. É por isso que eu quero ficar aqui. Eu quero ver o que você vê, comer o que você come, e respirar o mesmo ar que você. Eu quero ter nessas mãos o que eu nunca fui capaz de ter na N° 6."

Rato lentamente piscou duas vezes.  Então, ele colocou uma mão em sua testa e balançou a cabeça lentamente em exasperação.

"Shion, eu notei isso há algum tempo, mas"

"Sim?"

"Sua capacidade de linguagem é pior do que a de um chimpanzé".

"Eu ouvi antes que o genoma de um ser humano e do chimpanzé são apenas diferentes de 1,23%", disse o Shion, imperturbável.  "Eu não acho que você deveria zombar dos chimpanzés."

"Eu estou zombando de você. idiota. Não tem ideia das expressões corretas a se usar?"

"Havia algo estranho no que eu disse?"

"Não use palavras como 'atraído' tão facilmente. É uma palavra muito importante. Você só deve usá-la para uma pessoa especial, insubstituível em sua vida."

"Então como é que vou dizer? Digo eu te amo?"

Rato soltou um suspiro longo e exagerado.  "Não importa", ele murmurou.  "Me confundo quando eu falo com você. Aqui", ele empurrou um livro grosso nas mãos de Shion, e se levantou.  "Hamlet. Leia-o."

"Eu já li."

"Então leia novamente. Dê a sua capacidade linguística aleijada algum treinamento bom. Aprenda algumas palavras."

"Eu estava tão fora de propósito assim?"

As palavras de Rato se aceleraram.

"Você só está fascinado por coisas novas e incomuns. Você é como um estudioso que descobriu um novo planeta, ou um novo tipo de bactéria. Você tem apenas uma coceira de curiosidade, porque já conheceu alguém que é diferente de todas as pessoas que costumavam cercá-lo. É isso. Você não está atraído por mim, e não está apaixonado por mim. Só está animado com os animais exóticos que descobriu. Será que não consegue dizer a diferença?"

Essas foram palavras duras.  Elas se tornaram espinhos afiados que esfaquearam os tímpanos de Shion.

"Eu não confio em você", disse Rato.

Shion levantou o rosto, e o seu olhar colidiu com o de Rato.  Ele estava mordendo o lábio, sem pensar.

"Eu não confio em nada que você diz. Você é alguém que está vivendo em abundância artificial desde que nasceu. E é arrogante o suficiente para ser capaz de dizer que pode jogar fora essa fortuna facilmente. Shion", disse ele de repente.  "Quando fazia a limpeza no parque, você tinha que fazer esse ritual todas as manhãs, não é?"

O ritual era sempre a primeira tarefa do dia no trabalho de Shion.  Ele tinha que colocar uma palma na imagem da Câmara Municipal - ou Gota da Lua, informalmente - que era exibido no monitor do sistema de manutenção e comprometer a sua fidelidade.

"Eu constava e sempre colocava minha devoção inabalável para a cidade N° 6."

"Nossa gratidão pela sua lealdade. Se envolva em seu dia de trabalho com sinceridade e orgulho como um bom cidadão da cidade."

Era isso.  Todas as manhãs, ele repetia a mesma tarefa.  Tinha sido um desconforto dolorido para ele.  Seu orgulho juvenil foi picado por ter de repetir estas palavras banais e grandiosas, e por este ritual em si, que parecia tolice.

Rato deu uma risada curta.

"Você odiava, não?"

"Sim".

"Sentia sufocado, não é, sendo forçado a declarar sua lealdade."

"É ... agora que você mencionou."

"Mas você se submeteu a isso", disse Rato.  "Em vez de revidar, você recitou essa promessa, todas as manhãs, e fingiu que não te incomodava. Deixe-me lhe dizer algo, Shion: palavras não são coisas que você pode atirar casualmente. Não pode se deixar ser forçado a dizer alguma coisa, e apenas se conformar com isso. Mas você não sabe disso. É por isso que eu não vou confiar em você."

A mão do Rato de repente se estendeu.  A palma de sua mão tocou a face do Shion.

"Isso magoou?"  ele perguntou suavemente.

"Um pouco".

"Não tenho qualquer rancor contra você. E também não te odeio."

"Eu sei..."  Shion respondeu calmamente.  "Isso eu posso dizer."

"Shion".

"Hm?"

"Se sente como se tivesse ido lá fora?"

Seus dedos acariciaram o cabelo de Shion.

"Você está totalmente recuperado, agora, não é? Sente como se visse por si mesmo o lugar que decidiu continuar vivendo?"

A mão do Rato lentamente se afastou.  Várias vertentes de cabelo branco se agarrou a seus longos dedos.  O cabelo do Shion ainda tinha um brilho, apesar de sua cor ter sido drenada, e certos olhos achavam que poderia ser bonito.  Mas ele sentiu a sua beleza ser cruel.  Em uma única noite, a cor tinha desvanecido de seu cabelo, e ele tinha sido marcado com uma faixa vermelha que deslizava como uma serpente sobre seu corpo inteiro.  Ele foi visto por crianças, que gritaram ao ver ele.  Não conseguia esquecer os olhares naqueles olhos.  Estavam cheios de consternação e horror como os olhos de quem viu um monstro deformado.  Mas ele tinha que sair.  Queria ver o mundo que ia viver com seus próprios olhos, ouvir os sons com seus próprios ouvidos, sentir o cheiro com o seu nariz, e senti-lo em sua própria pele.  Então, talvez, ele falaria com Rato sobre isso novamente.

Não importa que tipo de lugar é esse, eu quero continuar vivendo aqui.  Ao invés de ser cercado por falsidades, e sendo forçado a engolir palavras banais, eu quero viver aqui... mesmo se isso significa que tenho de lutar...

"Nós podemos pintar o cabelo, se for fazer você se sentir melhor de qualquer modo", disse Rato.  "Preto, marrom, verde... qualquer cor que você quiser. O que quer fazer?"

"Não, está tudo bem."

"Você vai deixar assim?"

"Sim, eu vou manter meu cabelo assim. Cabelo branco não é tão ruim. Eu acho que é melhor do que ficar totalmente careca."

Rato abaixou a face.  Seus ombros tremiam.

"Você é muito engraçado, sabe disso?"  ele disse, sua voz tremendo por prender o riso.  "Sério. Quero dizer, realmente."

"Sou?"  disse Shion em dúvida.  "Ninguém nunca me disse que sou engraçado..."

"Você é um comediante natural. Deveria jogar fora os livros de teoria e estudar comédia no lugar."

"Vou pensar sobre isso."

"Você deveria. Certo... amanhã, então, eu vou lhe mostrar os arredores".

"Certo", Shion concordou.

"E há um lugar que você definitivamente precisa ir."

"Edifício Latch", Shion respondeu por ele.

Perto de LK - 3000, Latch Bl. 3A Não tenho certeza -K.

Era um memorando de Karan, e era um enigma – Shion não sabia onde ficava, ou o que estava lá.

"Você vai descobrir onde o Edifício Latch fica?"

"Não", respondeu Rato.  "Nós não temos qualquer numerações imaginárias para os nossos edifícios aqui. Mas a um tempo atrás este lugar costumava ser uma cidade decente, e eu fui capaz de conseguir um mapa a partir de então. E há uma região marcada com LK-3000."

"Você olhou tudo isso até..."  Shion murmurou com admiração.

"Só para matar o tempo."

"Eu não acho que você tem tempo para matar. Parece ser sempre tão ocupado"

"Ah, e escreva uma carta," Rato interrompeu indiferente.

"Huh?"

"Para a sua mamãe. Mas mantenha dentro de 15 palavras. Apenas uma nota simples. Esse ratinho aqui diz que sente falta do pão caseiro de sua mãe."

"Você vai entregar a carta para mim?"

"É mais como um memorando", disse ele bruscamente.  "Sob 15 palavras. Não posso garantir que vamos chegar lá com segurança."

"Rato."

"O quê?"

"Obrigado."

Rato se encolheu longe de Shion e o fixou com um olhar horrorizado.

"Por favor, poderia parar de me olhar assim? Isso me dá calafrios. O que acontecer amanhã irá acontecer amanhã. Eu vou tomar um banho. Ah, e antes que você escreva uma carta para sua mamãe, leia uma história para esse pobre garotinho. Ele está esperando todo esse tempo."

Rato desapareceu no banheiro.  Shion sentou em uma cadeira, e abriu o livro que tinha acabado de ler mais cedo.  Havia um cheiro fraco de papel.  Ele se concentrou instantaneamente, e logo perdeu-se em suas páginas.

Se algum dia em teu peito me abrigaste,
Priva-te por um tempo da ventura
e respira cansado mais um pouco neste mundo tão duro,
para a todos contares minha história.
[1]

Hamlet deu seu último suspiro nos braços de seu amigo.  Shion lentamente fechou o livro.  Havia o som da chuva.  Ele se perguntou por que sempre parecia ecoar através das paredes para esta sala subterrânea.  Atravessava e repercutia, como o som suave da música.

E neste mundo cruel, desenhas a tua respiração na dor – talvez isso é o que viver neste mundo significava – sofrer com dores.  Rato sabia disso.  Isso havia se impregnado em seu corpo.  Um rato chiou em seu pé.

"Oh, desculpe. Qual deles você quer que eu leia?"

O rato subiu em seu joelho, e esfregou as patas dianteiras.

"Quer que eu leia este livro para você?"

Cheep.

"Você realmente gosta tragédias, não? Por que não escolhe algo mais divertido?"

Ele cruzou as pernas, com o rato ainda empoleirado em seu joelho.

"Leia-lhe a tragédia", A voz do Rato falou atrás dele.  Ele não tinha sequer notado Rato saindo do banheiro.  Não tinha ouvido um som ou sentido qualquer presença.

"Você tem uma boa voz. Este rapaz gosta quando você ler. E ele gosta de ouvir você lendo tragédias."

"Sério?"

O rato piscou seus olhos cor de uva para ele.  Shion adivinhou que era sua maneira de dizer sim.

"Ok, ok. Em seguida a partir do topo do Top Cinco..."

"Shh" Rato pressionou a toalha úmida sobre a boca do Shion.  "Ouço algo."

"Huh?"

Antes que Shion pudesse perguntar o que era, o som alcançou seus ouvidos.  O som de passos subindo os degraus. Alguém estava batendo no centro da porta pesada, e seu som era frenético, embora não totalmente forte.

Uma criança.

A criança estava batendo desesperadamente na porta.  Shion se levantou, e ia para a entrada.

"Não tão rápido".  Rato o deteve.  Sob a sua franja molhada, seus olhos cinzentos viu a porta cautelosamente.

"Não abra a porta ainda."

"Por que não?"

"É perigoso. Não abra a porta sem qualquer defesa."

"É uma criança batendo na porta. E é urgente. Algo deve ter acontecido."

"Como você pode ter tanta certeza? Um soldado armado pode bater na metade inferior da porta, não há problema."

O olhar de Shion viajou do rosto do Rato para a porta.

Ajude-me.

Ele pensou ter ouvido uma voz fraca chorar em apelo.  Ele engoliu em seco.  Destrancou a porta, e agarrou a manivela.

"Shion!"

Ele abriu a porta.  Uma corrente de ar fria soprou no quarto.  Estava ficando escuro lá fora, e um vento frio soprava.

A menina estava em pé na escuridão crescente.  Seus olhos se encheram de lágrimas quando ela olhou para Shion.  Ele a tinha visto antes.  Ela morava no barraco no fundo da encosta.  Ela era a garota que não fora capaz de esquecer – a menina que tinha gritado para os cabelos brancos de Shion e a cicatriz vermelha que serpenteava até o pescoço.  Pela primeira vez, neste olhar, ele havia sido contemplado como uma deformidade.  Mas agora, seus olhos grandes estavam cheios de lágrimas, e continha nenhum indício de terror.  Em vez disso, eles brilhavam com urgência frenética.

"Me ajuda, por favor, ele está morrendo."

Shion rapidamente tomou a menina pela mão, e começou a subir pelas escadas.  Ele gritou por cima do ombro.

"Rato, traga o kit de emergência e alguns cobertores!"

Então ele irrompeu para fora, para as madeiras de galhos nus e folhas caídas.

 

Continua em: Capítulo 2 – O Reino dos Deuses

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Notas do texto

[1] Shakespeare, William. Hamlet, Príncipe da Dinamarca. Ed. Philip Edwards.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Ver mais…

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

No. 6 Volume 1 Capítulo 5

Chegamos ao fim do primeiro volume, mas não se preocupem que ainda tem o segundo. Bem, ainda não tem a tradução do volume 2 em inglês, por isso vão ter que esperar mais do que o esperado para poder ler a partir do capítulo 3.

Dessa vez eu demorei por vários imprevistos na semana, e talvez no próximo capítulo eu demore também. Mas prometo que depois do próximo eu vou mais rápido. E, bem, atualizar o blog está mais difícil porque quando eu paro em casa estou o tempo todo traduzindo a novel, mas vou tentar colocar o mangá de Loveless e os episódios da segunda temporada de Junjou Romantica. E acabei de colocar dois wallpapers do No. 6 para quem quiser ‘enfeitar’ o computador J.

Apesar de ter que ler cada capítulo, tipo umas, três vezes (nunca li nada mais 'bem lido' do que isso), não ter muita gente para ler comigo e achar estranho essa troca de 1ª e 3ª pessoa o tempo todo, estou me divertindo com essa novel. Realmente é uma das melhores histórias de ficção que eu já li. Sim, sim, tá legal, vou parar de conversa fiada.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Capítulo 5: A Cidade Folheia Em Luz

Depois que eles comeram, Rato colocou a placa de Petri e um par de pinças na frente de Shion.

"Eu tirei isso de você. Abra a tampa e dê uma olhada. Pode estar no seu campo de especialização"

"No meu campo de especialização?"

Na placa havia um cordão preto, com cerca de uma polegada de comprimento. Tentei agarrá-lo com a pinça. Ele poderia apenas trazer vestígios de uma fina membrana além de um líquido com aparência derretida, pegajosa e negra.

"É uma asa...?"

"É o que parece. Eu não tenho nenhuma idéia do que estou falando embora. Tomei outra amostra. O que é isso?"

Era um monte preto. Estava duro. Parecia que algo tinha mastigado aquilo.

"É uma crisálida... provavelmente"

"Uma crisálida, como o que mariposas e borboletas fazem? Ah, as mariposas fazem casulos certo?"

"O casulo é a cobertura da crisálida. Ovo, larva, pupa (crisálida), imago. A maioria dos insetos se desenvolve nessas etapas. Esta é provavelmente de uma abelha"

"Você pode dizer?"

"Eu posso imaginar pelo tipo de asas. Quatro asas membranosas... a maioria"

Engoli em seco um pouco.

"Eu vi com meus próprios olhos. Uma abelha preta voou do pescoço de Yamase.

"Então essa coisa preta é a mesma?"

"Provavelmente. Estava no meio da sua metamorfose em pupa. Mesmo tendo mastigado a casca, ela não se tornou uma imago completa. Ela falhou"

"Por quê?"

Por quê? Como se eu soubesse. A abelha incubou dentro do Yamase e completou sua transformação em uma imago, então porque não poderia eclodir em mim?

Foi apenas uma coincidência? Ou...

Shion refletiu sobre isso em sua mente.

"Eu não sei. Sei que é algum tipo de parasita que vive no corpo humano"

Rato olhou para a placa sem piscar.

"Uma abelha parasita... eu pensei que as abelhas só bebiam o néctar das flores"

"Essas são as abelhas e os zangões. A maioria das "abelhas" são realmente vespas solitárias"

"Há vespas parasitas também?"

Eu balancei a cabeça. As perguntas do Rato eram simples e curtas e Shion sabia mais do que o suficiente para responder. Mas eles não estavam fora de tópico. Eles estavam com agilidade e precisão ficando no cerne do problema. Como eu disse, me senti desconfortável, como se estivesse sendo encurralado. Senti como se fosse dizer uma coisa horrível que eu não poderia desfazer. Mas, eu não fugi. Não posso simplesmente fingir de bobo e disfarçar. Não poderia simplesmente fingir que nada aconteceu e impedi-lo de procurar uma resposta. Eu era uma testemunha. Isso era o que pensava. Era um anfitrião a um parasita, que lutei e venci. Tinha uma cobra vermelha gravada em mim como prova disso. Sim, este é um selo. Shion pegou Rato olhando distante.

"Deve haver cerca de 200.000 espécies de vespas parasitas. Vespas e formigas são himenópteras, eles são insetos altamente especializados, e provavelmente há dezenas de milhares de espécies ainda não registradas, e desses, provavelmente há uma grande quantidade de vespas parasitas... eu acho"

"Então você quer dizer que não sabe o que saiu de vocês dois?"

"Eu não tenho provas"

"Mas você pode obtê-las"

"Se eu tivesse os recursos adequados"

"Não é você o recurso definitivo? Você teve um parasita em você, como foi? É uma nova espécie de vespa parasita?"

"Você é realmente irritante às vezes"

"E você é sempre uma dor na bunda. Você não tem provas? Dá um tempo. Você realmente não tem idéia do quão perigosa é a situação. Vespas estão matando pessoas"

"A maioria das vespas parasitas pode fazer isso"

"O quê?"

"A maioria das espécies de vespa parasita poderia ser mais precisamente descrita como parasitóides. Elas atingem a maturidade plena se anexando a um único corpo... e elas só precisam de um hospedeiro durante esse período. Eventualmente, elas devoram o hospedeiro"

Elas eventualmente devoram o hospedeiro. As palavras ecoaram frescas em minha mente.

"Que tipo de hospedeiro?"

"Vários tipos. Mariposa, borboleta, formiga, larva, frutas... Uma espécie de approximators ichneumonodiea rhysella põe ovos nas larvas xiphydriidae e as usa como um hospedeiro"

"Então, vespas parasitam outras vespas?"

"E há um outro tipo de ichneumonoidea, o pseudorhyssa alpestris, que põe ovos na xiphydriidae logo após que o rhysella nasce e come tanto o rhysella e as larvas do xiphydriidae"

"Elas matam até mesmo a sua própria espécie... Incrível, eu pensei que os seres humanos eram as únicas criaturas que matavam uns aos outros. E?"

"O quê?"

"Há alguma vespa que usa os humanos como hospedeiros?"

"Eu nunca ouvi falar de nenhuma. Mas há uma grande quantidade de criaturas que parasitam os seres humanos. Vírus, bactérias o fazem. Eu ouvi falar que uma vez que uma mosca do berne punha ovos na cabeça de um menino e um deles enterrou em seu cérebro, mas eu acho que é um incidente isolado... Eu nunca ouvi nada parecido com uma vespa. Entretanto eu não sei. Primeiramente, como é que põem ovos em um corpo humano? Como ela insere o ovipositor sem o hospedeiro perceba?"

"Você não se lembra disso?"

"Não. Não coçou ou doeu de qualquer modo. Eu não lembro de ter sido picado por uma vespa"

"Então, ele parasita seus ovos sem você perceber"

"Além disso, eles amadurecem muito rapidamente. Em algum momento, emitem alguma substância. E faz com que os seres humanos envelheçam rapidamente e morram. O rigor de morte se estabelece e abate rapidamente, e quando adulto a vespa parasita mastiga através do cadáver e vai embora"

Shion e Rato olharam um para o outro, a respiração estava em conjunto.

"Você... realmente sobreviveu"

"Sim. Só de pensar nisso me faz querer suar frio"

"Há muitas perguntas. De onde é que essa coisa vem? E o que é?"

"Ei, esse tipo de coisa nunca aconteceu aqui antes, certo?"

"Nunca. Eu fiquei curioso, então observei isso. Houve mortes em tiroteios e bêbados se afogando, mas nunca do envelhecimento abrupto. Ao contrário da nº 6, aqui não temos qualquer informação ou gestão de controle. Notícias incomuns viajam rápido"

"Os outros blocos, Sul e Leste, em particular, são provavelmente os locais mais prováveis ​​para uma nova espécie se desenvolver"

Rato lentamente balançou a cabeça.

"É difícil de imaginar. Se algo como isso aconteceu, todas as portas teriam fechado imediatamente, mas isso não aconteceu. Produtos estão sendo tragos dos blocos sul e leste normalmente. O mesmo vale para o Bloco do Norte"

"Sim, é verdade, mas pensar que essa vespa poderia ter se desenvolvido na nº 6... é inacreditável"

"Inacreditável... com certeza"

Rato levemente bateu na placa com o dedo. Sacudiu os ombros um pouco.

"Rato?"

Ele abaixou a cabeça e um riso vazou de sua boca. Rapidamente se transformou em uma gargalhada. Risos ecoaram ao longo deste quarto cheio de livros no chão. Rato caiu em cima da cama, rolando de rir. Shion pegou a jarra de água e jogou-o na cabeça do rato.

"Ei, o que está fazendo? estúpido!"

"Você está bem?"

"Eu pareço bem? Estou encharcado"

"Eu pensei que você estava tendo um ataque histérico"

"Por que tem que ser um ataque histérico?"

"Quando você de repente começou a rir, eu tinha certeza"

"Eu estava rindo porque é engraçado"

"Engraçado? O que é engraçado?"

Rato vigorosamente balançou a cabeça. Gotículas de água atingiram o rosto de Shion.

"Era apenas risível. De onde é que essa coisa vem? N° 6, é claro. Há uma vespa estranha comendo homens voando no meio daquela cidade modelo que ainda é chamada de utopia. Nesta cidade futurista, cheia de ciência com tecnologia de ponta em todos os lugares! E é uma abelha, risível"

"Não é nenhum motivo de riso. Pessoas morreram"

Rato levantou-se subitamente e enfrentou Shion. Ele realmente era alto. Facilmente vários centímetros mais alto do que Shion.

"Qual é o seu problema?"

Shion inconscientemente deu um passo para trás e pressionou suas costas contra a parede de livros, soprando seu peito para fora com toda a força. Por um instante, os olhos cinzentos brilharam com uma luz forte, que parecia que poderia furar ele com sua ferocidade.

"Essa é uma pergunta incrivelmente estúpida"

Ele disse com uma voz monótona. Ao mesmo tempo, colocou os dedos em torno da garganta de Shion.

"Você já matou uma pessoa?"

Ele aumentou a pressão com o polegar lentamente.

"Não... eu não podia"

Seus lábios finos foram ligeiramente se abrindo. Era um sorriso frio.

"É claro. Mas, lembre-se: a vespa mata seu hospedeiro a fim de promover sua própria sobrevivência, mas os seres humanos matam seres humanos por razões muito mais simples. E os seres humanos já tentaram matá-lo também"

"Eu entendo"

"Mentiroso. Você não 'entende' nada"

"Eu entendo!"

Shion agarrou o pulso Mouse.

"Eu entendo. Se eu tivesse sido levado para a instituição correcional assim, eu teria sido enquadrado como um assassino, em vez da vespa. E eu poderia ter sido preso pelo resto da vida, ou pior, condenado à morte... As autoridades da cidade foram ganhando tempo. Até que pudessem confirmar a causa da morte de Yamase e de um outro homem... então eles fizeram-me um criminoso e transformou-o em um caso de assassinato puro. Isso é o que você quer dizer né?"

Rato afrouxou. A marca de onde seu polegar estava havia sido marcado.

"Correto. Um jovem obcecado por ter sido retirado do Curso de Elite, transforma o seu ressentimento contra a cidade e se utiliza do crime. Usando uma droga especial de sua própria criação, um padrão de crimes se acumula. Mas, graças ao árduo trabalho do departamento de ordem pública, o jovem foi preso. Os cidadãos estão seguros. Era o seu roteiro. O que é um monte melodramático. Com o seu conhecimento e história, você se encaixa no papel do criminoso perfeitamente"

"A cidade tem registros completos sobre cada cidadão. Encontrar uma pessoa que se encaixa perfeitamente no papel é um assunto fácil para eles"

"Ou melhor, você estava marcado desde o início"

"O quê?"

"Você foi marcado para a vigilância desde que você me ajudou. Ficaram vigiando você todos os dias, desde que me conheceu, o que falou, o que comeu... com este incidente eu comecei a me perguntar se a cidade realmente tinha fabricado tudo isso para prendê-lo. Eu estava errado, claro"

"Mas... por que..."

"Porque você não se submeteu à vontade da cidade"

Rato disse secando o cabelo molhado com uma toalha. Ele tinha um perfil bonito. Parecia quase artificial. O sangue fluía através da pele, em que o calor do corpo, erupções cutâneas, carne e gordura, poderiam expressar as emoções humanas e suor. Mas não se parecia com o rosto de um ser humano, mas de uma boneca requintada e escrupulosamente feita.

No entanto, Shion fez um punho. O punho que ele havia agarrado, tinha um pulso regular.

"Ei, você está voando de novo. O que estou dizendo que é chato?"

"Hum? Ah, não, não é isso. Eu só estava me perguntando o que você quis dizer com não me submeter à vontade da cidade"

Ele corou, por algum motivo. Rato bufou.

"Essa cidade não aceita quem não a obedece incondicionalmente. Inversamente, se aqueles que levantam objeções ou se opõem a ela são rejeitados. Objetos estranhos são completamente expulsos. E essa é minha opinião sobre o que aconteceu"

"Então eu sou um objeto estranho?"

"Você é, e bota objeto estranho nisso. Você abrigou um VC, duvidou do controle de informações da cidade, e viu através da sua crueldade. Desqualificado para ser um cidadão, um incômodo. A cidade só esperou uma chance de expulsar você. Ei, como é a função do sistema imunológico humano quando um vírus entra no corpo?"

"Hum? Bem, primeiro as células matadoras, chamadas linfócitos, procuram e destroem as células contaminadas pelo vírus. Então a degradação enzimática do RNA é ativada e o vírus é impedido de se reproduzir. E depois..."

"Isso é o suficiente. Quando entra nesse tom de palestra, você é realmente detestável. Isso me irrita"

"Você é que está querendo conversar"

"Oh, eu vejo como é. Em qualquer caso, para a cidade você era um vírus. Então ela tentou eliminá-lo"

"Mas sou uma pessoa. Não podem me eliminar tão facilmente"

Rato deu um grande suspiro.

"As pessoas não têm problemas para matar outras pessoas"

Shion fez um punho de novo.

"Mas, podemos salvá-las, certo?"

"O que você está falando?"

"Você me salvou. Rato, vespas parasitas não podem ajudar-se mutuamente, mas as pessoas podem salvar as pessoas, certo?"

Rato sorriu levemente e tirou os olhos de Shion.

"Você realmente é um idiota sem esperança. Como pode jorrar tais palavras brutamente. Eu lhe disse antes, eu estava apenas pagando pelo que você fez por mim"

"E eu lhe disse que você me pagou de volta dez vezes"

"Como generosidade. Você realmente valoriza tão pouco o que você me deu?"

"E você realmente valoriza tanto?"

Rato deu um longo suspiro e olhou para cima. Ele mastigou o lábio como se estivesse em uma perda de palavras. Os pequenos ratos foram a seus pés.

"Simplesmente não te entendo. Não importa como ou quantas vezes eu tento explicar isso para você, você nunca vai conseguir entender. Naquele dia, quatro anos atrás, eu tinha desistido quase completamente. Se tivesse desistido, teria sido o meu fim. Eu sabia disso. No entanto, não achava que alguém poderia me ajudar ou me emprestar uma mão. Isso era o que eu acreditava. Não tinha para onde correr e onde se esconder. Escapei para uma residência em Chronos. Estava pensando que era apenas uma questão de tempo antes de ficar incapaz de me mover por causa da exaustão... Foi uma sensação horrível. E pensar que eu nasci só para morrer tão miseravelmente... Não ria"

Ele não quis rir. Mas o som daquela noite há quatro anos ressoou nos ouvidos de Shion. Os sons ondulantes do vento, as árvores e a chuva caindo sobrepostas e um menino encharcado pouco agachado na escuridão - a imagem fresca do dia foi jogada em sua mente.

"E então, uma janela aberta. Você a abriu por capricho. E então você abriu seus braços"

"Sim, eu me lembro. Não sei por que, mas estava louco para gritar"

"Para mim, parecia que você estava me chamando. Eu pensei... foi um milagre. E você ainda deixou a janela aberta quando voltou para o quarto"

"Eu estava tentando desligar o sistema de controle ambiental"

"Por que você fez isso não importa. A janela aberta sem proteção era um milagre. E também foi um milagre que você não ligou para o departamento de ordem pública, mas tratou de minhas feridas e me alimentou. Eu nunca soube que algo assim poderia acontecer. Você foi a primeira pessoa a me mostrar... que uma mão de salvação pode chegar a você, miraculosamente. Assim como..."

Rato lentamente olhou ao redor da sala.

"Assim como em milhares de histórias aqui, algo além das expectativas humanas aconteceu. E é por isso que eu sobrevivi... Assim como você disse, é possível para as pessoas salvar outras pessoas. Você me mostrou isso. Você foi o único que me mostrou isso... É um presente extremamente valioso. Lamentável que esse fato possa ser"

A voz do rato era quase um sussurro, mas de forma clara e agradável ressoou em meus ouvidos. Shion abriu os dedos como se dissesse, "ah, então foi assim que aconteceu"

Quando eu abri a janela com estas mãos naquela noite, chamei por um milagre, juntamente com o vento.

"Não se empolgue"

O tom do Rato cresceu mais duramente.

"Eu apenas pensei que iria cuidar de você um pouco para pagar minha dívida. Se você deixar isso subir para sua cabeça, vou te jogar para fora sem pensar duas vezes"

"Ok ok, pelo que vale a pena, eu não sou do tipo em que as coisas vão para a minha cabeça. Mas, como você sabia que eu estava em apuros? Você me observou há quatro anos?"

Rato pegou um ratinho cinza e segurou-o. Era o menor dos ratos.

"Eu estive te observando muito de perto"

Shion pegou o pequeno rato sobre a palma da mão e trouxe-o perto de seu rosto.

"É um robô...?"

"É bem feito, não é? Tem todos os tipos de sensores dentro. Por ser tão pequeno, ele pode fugir da rede de controle da cidade de se deslocar sem ser visto. Dependendo da área, é claro"

"Você fez isso?"

"Basicamente. Este carinha me enviou dados sobre você desde que saí da N° 6"

Shion agarrou levemente o ratinho na mão. Estava quente como uma criatura viva. Ele pegou um que estava perambulando em seus pés. Este era leve, mas podia sentir calor e pulso.

"Eu não sabia como ou quando as autoridades da cidade iam tentar eliminá-lo. Você é jovem e talentoso. Você é útil em muitos aspectos. Então não acho que eles iam apenas tirá-lo para fora. Mas em vez disso, eu percebi que iam tentar usá-lo. É fácil enquadrar alguém por assassinato ou algo assim. Você se tornou um bode expiatório. Você seria arrastado para que todos pudessem ver um festival e te mostrar decapitado. Eles foram criados em cativeiro para esse fim"

"Primeiro um vírus, então um bode? Não é ruim"

"Os bodes são bonitos. Tenho carinho muito mais por eles do que por você"

"Puxa, obrigado. Então, esses carinhas sentiam qualquer fenômeno incomum em torno de mim e te notificavam?"

"Sim. Um homem teve uma morte pouco natural no parque onde você trabalha. Foi quando as autoridades começaram a amplificar a observação em você. E então seu colega de trabalho foi atingido. Foi o melhor momento para prendê-lo"

"Uma observação sobre mim... eu nunca percebi que estava sendo observado"

"Eles fizeram isso de modo que você não notasse. E quando que você percebeu, era tarde demais"

"Arrepiante"

"Você só percebeu agora?"

Rato riu na cara dele. Shion tirou a franja de seu rosto. Está uma bagunça. Será que o que aconteceu ou o que vai acontecer importa a todos neste momento? Eu realmente não sei de nada. Eu odeio não saber das coisas. Uma única ideia passou pela cabeça de Shion.

"Rato"

"Sim?"

"O parque"

"Hum?"

"O parque florestal no centro da cidade. Onde eu trabalhei... É provavelmente onde a vespa parasita se desenvolve"

"Por quê? É o coração da nº 6. Mesmo se você chamá-lo de uma floresta, toda a vida dentro dele é controlada, por isso é mais que uma floresta artificial. Eles saberiam imediatamente se uma vespa parasita ou algo do tipo se desenvolvesse"

"Isso é verdade, mas... se uma nova espécie viesse a desenvolver dentro da cidade, que é o lugar mais provável... Todo mundo que foi afetado, inclusive eu, estava no parque... É claro, eu não sei se houve outros casos em outros lugares, mas... a cidade me emoldurou como o culpado, porque os incidentes foram centrados no parque, certo? Caso que..."

"O monstro nasceu sob os olhos do sistema de controle e não o pegou"

"É concebível, certo? Além disso, o parque é o ponto de encontro das pessoas"

"Então, há uma abundância de hospedeiros"

Se uma criatura que caçava pessoas estava vivendo neste parque lindamente e convenientemente mantido para os cidadãos...

"A primavera".

Murmurei. Rato falou "primavera?" Em troca.

"A atividade de vespas deve cessar no inverno. Elas vão dormir. Os ovos que foram estabelecidos provavelmente permanecerão ovos durante o inverno"

"Os que estão nos corpos das pessoas?"

"Sim. E quando a primavera chegar eles ficarão na sua forma adulta, todos eles irão chocar ao mesmo tempo"

Na temporada cheia de sol e flores, vespas negras voarão, depois de ter rasgado corpos humanos. Quantos haverá? E quantas pessoas serão sacrificadas?

"Se não fizermos alguma coisa..."

"O que podemos fazer? Você não está sugerindo voltarmos para a cidade, não é? Nós vamos ser mortos. Você não tem ideia do que está falando. Não podemos arriscar a tentar escapar despercebidos e nos movermos. Provavelmente seríamos mortos a tiros no segundo em que entrarmos na cidade. Nós não temos uma arma secreta ou algo assim"

"Na verdade... poderíamos ter uma"

Rato estreitou os olhos.

"Eu sobrevivi ao ataque da vespa. Meu corpo deve ter produzido anticorpos contra a toxina da vespa... nesse caso, um soro pode ser feito de meu sangue"

Rato tinha um olhar de repulsa em seus olhos. Ele olhou para Shion e encolheu os ombros.

"Tudo bem então, você só vai andar para o departamento de saúde da cidade, e dizer, 'Por favor, examine o meu sangue. Por favor, faça um soro'. É idiota. Eles vão drenar seu sangue e lançá-lo para fora com o lixo. Eu sei que você está tentando parecer legal, mas você está realmente preparado para sacrificar sua vida por causa de estranhos?"

"Eu não quero morrer"

"Então, nem sequer pense em uma merda assim. Eles vão te matar mesmo se você tiver os anticorpos ou não. Vai acontecer mais cedo ou mais tarde, se você for pego"

"Então o que devemos fazer?"

"Nós não temos que fazer nada. Basta deixar bem o suficiente sozinho"

Shion levantou a cabeça.

"Deixe bem o suficiente sozinho?"

"Sim, não é um cenário maravilhoso? A cidade santa envolta na luz da primavera, à beira do colapso. E nós temos lugares na primeira fila"

"Rato!"

"Ei, não jogue água na minha cara de novo!"

"Você realmente acha que o Bloco Oeste é seguro? Nós dois somos seres humanos. A vespa parasita pode infestar esta área também"

Rato fechou a boca e um leve sorriso apareceu em seu rosto.

"Nós não somos seres humanos"

"O que..."

"Pelo menos, as pessoas dentro da cidade não vê as pessoas que vivem no bloco Ocidental como humanas. Você ainda não sabe que tipo de lugar é este, não é? Este é o despejo de lixo da cidade santa. Todos os indesejáveis ​​são atirados para cá para que N° 6 possa florescer. Veja por si mesmo"

"Rato..."

"Esta é apenas a minha opinião. Mas, aqueles monstros escolheram os moradores da Nº 6 como hospedeiros. Eles vivem em um ambiente estéril, onde todos os indesejáveis ​​são lançados para fora, com apenas as pessoas com boa saúde que não têm desejo por comida. Os monstros são os gourmets, estou te dizendo"

"Como você pode ter tanta certeza?"

"Shion, eu não sei nada de insetos. Mas, por que as vespas ou gafanhotos desses tipos deixariam uma área onde o alimento é abundante? Se é sobre a densidade populacional, é muito maior aqui do que na cidade. Mas, não há monstros aqui. Basicamente, eles não têm hospedeiros ou presas aqui"

Shion estava em uma perda para palavras. Seus pensamentos eram um caos. Havia uma dor na cabeça. Rato tocou seu rosto com a mão.

"Eu sinto muito... Não quis dizer para atormentar você. Eu esqueci. Você era um deles"

"Eu não sei... se sou um deles ou não"

"É claro que você não sabe. Você nunca sequer tentou entender o que está fora dessas paredes. O pensamento para saber mais sobre isso nunca nem passou pela sua mente. Sua gente ignorante, arrogante, feliz... mas também desprezível. Que é de onde você veio"

Cheio de pensamentos que não conseguia colocar em palavras, eu olhava para os olhos do Rato.

Não saber de nada, e não tentar saber alguma coisa, se eu era arrogante em cima de ter a sorte da vida que eu tinha, até agora, tudo bem, até me livrar disso. Estou satisfeito com a minha queda.

"Rato"

"Sim?"

"Eu quero saber a verdade do mundo. Eu quero saber o que é real, o que está acontecendo com o mundo que eu estou vivendo e o que ele realmente se parece"

Rato deu de ombros e sorriu.

"Você ainda é um garoto"

"Estamos com a mesma idade."

"Mas nossa experiência de vida é diferente. Só Hamlet diria algo tão constrangedor como "Eu quero saber a verdade do mundo".

"Hamlet, quem?"

"Um príncipe da Dinamarca. Antes de aprender a verdade do mundo você provavelmente deve ampliar o seu conhecimento um pouco. Você tem o conhecimento absolutamente zero dos clássicos, não?"

"Mas... eu não preciso saber sobre eles... Nós não éramos realmente encorajados a estudar as artes..."

Rato estendeu a mão, e puxou dois livros de uma prateleira.

"Então, se o que você disse é verdade, eles devem se acalmar no inverno. Nós vamos ter um alívio até a primavera"

"Provavelmente."

"Então não há necessidade de pressa. Embora não é como se nós pudéssemos ter, se quiséssemos. Até que você volte com força total, eu vou deixar você lê-lo"

"Ele?"

Um rato cor de mogno correu para o colo de Shion e ficou sobre as patas traseiras.

"Macbeth é o seu favorito. E este, você já ouviu falar de Fausto"?

"Não"

Rato torceu a cara, ele tomou uma respiração profunda.

"E certo que o não pode, se em si mesmo
não sentir lá por dentro o fogo sacro.
É só co’a inspiração própria, espontânea,
que se domina a turba, O chocho, o inerte"
[1]

E assim por diante. Você deve treinar não só a sua mente, mas também sua alma. Sua mamãe lia livros para você, não é?"

"Sim"

Os ratinhos chiaram.

"Ah, está certo. Falando de sua mama, você recebeu uma mensagem dela. Eu quase me esqueci"

"Hum?"

Rato corou um pouco e se virou.

"Uma vez que você conseguiu não morrer de alguma forma... pensei que eu, pelo menos, deixasse sua mama saber que você estava aqui."

"Você foi ver minha mãe?"

"Eu não. Foi esse cara"

Um rato cor de mogno inclinou sua cabeça.

"Enviei-o. Com uma nota em sua boca. Acho que é um método clássico também, mas de alguma forma a rede de observação não o pegou. Aqui"

"Obrigado."

"Eu estou te implorando, não me dê um agradecimento formal com os olhos marejados. Você não está envergonhado?"

"Eu estava falando com este rapaz"

"Oh. Eu vejo"

Eu estava tão grato. Eu estava grato do fundo do meu coração por alguém que havia conhecido que já tinha tantas dificuldades enfrentou escalar aquelas paredes para enviar um aviso para a minha mãe. Eu vejo, é isso o que significa "conseguir"?

"Sua velha é muito velha também. Ela sabia como escrever uma resposta fora da vista"

Rato me jogou um pedaço de papel enrolado do tamanho da metade de um dedo. Havia uma fila de rabiscos apressados, era difícil de ler os caracteres.

Perto de LK - 3000, Latch Bill 3F Não tenho certeza K.

"O que significa?"

Rato olhou isso.

"Este é um memorando da mama para o filho amado. Você não tem coração?"

"Não. Eu pensei que o 'K' fosse a primeira letra do nome da sua mãe, mas não vi a parte 'não tenho certeza'..."

"É provavelmente um endereço. Este lugar não tem números de casa ou qualquer coisa assim que... Latch Bill... vamos procurá-lo"

"Você acha que sua mãe conhece alguém no Bloco Ocidental?"

Fiquei surpreso. Nunca ouvi dizer que Karan conhecia alguém no Bloco Ocidental. Os dedos do Rato fizeram um som agradável.

"Oh, e se..."

"Hum?"

"É o seu pai"

"Sem chance... Você leu muitos livros. Você não se envergonha de dizer esse tipo de coisa?"

"Tch, você é lento para replicar. Mas, bem, eu acho que você está certo. Isso é um enredo típico de melodrama, não é? O pai e o filho muito distante terão uma união em lágrimas depois de 16 anos"

A voz do Rato abruptamente tornou mais profunda.

"Eu perdi você, meu filho!"

"E eu também pai!"

Shion saltou para os braços abertos de Rato e o abraçou. Ele estava quente. Como reflexo se lembrou de como Yamase estava frio. Lembre-se deste calor, este calor em meus braços e não daquela frieza. Eu quero que haja pessoas que sobrevivam além de mim. Não quero que vidas sejam tomadas de forma arbitrária. A agradável sensação de um corpo, a respiração quente dotada de vida perfurou-me o interior. Rato afastou delicadamente.

"Você pegou rápido"

"Sim. Eu cresci rápido"

"Você realmente é um excelente aluno. Tudo bem, vamos embora"

"Para onde?"

"Para fora"

-

Estava escuro lá fora. Aqui, a escuridão e a noite eram basicamente sinônimos.

Um vento frio me gelou até os ossos.

"Olhe"

Rato apontou.

N° 6 cortou a escuridão, brilhando ao longe, envolta em luz.

"De manhã ou de noite, ela sempre brilha assim. Não é linda?"

"Sim"

"Mas, você estará vivendo aqui a partir de agora"

A área era afundada na escuridão, apenas alguns pontos eram iluminados aqui e ali. A luz escassa fez a escuridão ainda mais proeminente.

As nuvens saíram e a lua apareceu. Era uma lua crescente. Ela parecia fina como uma espécie de clipping do prego, flutuando no céu vazio.

Rato se inclinou. Ele beliscou algo entre os dedos.

"Olhe"

Era uma vespa. Uma morta.

"Esta é uma vespa comum"

"Como você disse, a temporada ativa das vespas acabou"

"Até a primavera, de alguma forma..."

Até a primavera, temos até a primavera, provavelmente. Fomos concedidos com alguns meses de adiantamento.

"Se você realmente quiser lutar contra a vespa parasita, não vou entrar em seu caminho. No entanto, eu não vou ajudar você salvar a N° 6"

"Você odeia N° 6?"

Ele não respondeu. O vento soprou. As copas das árvores faziam um som seco quando balançavam na escuridão.

"Shion"

"Sim?"

"A cidade onde nasceu e foi criado também é uma parasita"

"Hum?"

"Ela ataca um hospedeiro e o suga secamente. Em pouco tempo é consumido tudo. Esse é o tipo de cidade que é. Parasitic City, a cidade parasita... Você entende o que estou dizendo?"

"Não"

"Eu entendo agora. Você disse que queria saber a verdade do mundo. Mas quando você souber, nunca poderá voltar atrás. Prepare-se"

"Já é muito tarde"

"É"

O riso fraco de Rato se misturou com o vento. Era um tom seco, como se para combinar com o som do vento.

"Se você ainda desejar proteger N° 6 depois que você aprender a verdade do mundo... Então, você também vai ser..."

Na escuridão, Rato virou o rosto em direção a Shion. Eu podia sentir seu olhar. Parecia que a única coisa que eu podia ver claramente era o cinza dos seus olhos.

"... Meu inimigo"

Está frio, vamos entrar. Rato disse em um tom completamente diferente, e se virou. Ele desceu as escadas, assobiando.

"Rato"

Ele parou de assobiar.

"Você nunca me disse seu nome"

"Um rato é um rato. Isso é bom o suficiente"

"Mas isso não combina com você. Além disso, você prometeu. Se eu sobrevivesse você iria me dizer o seu nome"

Eu podia ouvi-lo rir e depois virar para a direita e voltar a assobiar. Quando ouvi o som da porta se fechando, o silêncio envolveu na escuridão.

Deixado para trás, Shion ficou sozinho, congelado no lugar. O vento arreliou os seus cabelos. Em algum lugar distante, um cão uivava.

Ele olhou para a cidade pintada com a luz. Parasitic City. O rato da cidade havia dado um nome tão depreciativo a algo tão deslumbrantemente lindo.

Shion desviou os olhos da luz e respirou fundo.

E então ele desceu lentamente para a sala subterrânea.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Volume 2 Capítulo 1

Notas do capítulo

[1] de Goethe, Fausto, Quadro II Cena IV

Ver mais…

sábado, 17 de setembro de 2011

[Anime] No. 6

No 6Completo

shonen-ai 

Título: No. 6
Título original:
Título alternativo:
--
Categoria: anime série
Episódios: 11
OVAs: 0
Gênero (oc.): ficção científica
Gênero (or.): shonen-ai
Classificação indicativa: RP
Lançamento: 2011
Estúdio: Bones
Diretor (a):
Autor (a):
Asano Atsuko (novel)
Site Oficial: http://www.no-6.jp

Sinopse:

A história começa na cidade ideal “No.6″ em 2013, onde um garoto chamado Shion é permitido viver em uma área luxuosa chamada “Cronos” por causa de sua inteligência acima da média. Mas em seu aniversário de 12 anos, Shion conhece um garoto chamado Nezumi (rato) que estava fugindo de um reformatório. Ao decidir ajudar esse garoto fugitivo, nosso protagonista perde todos os seus privilégios e agora precisa ir até o final para descobrir os segredos da cidade No.6.

Wallpapers: aqui
Trilha Sonora:
Spell - Abertura
Rokutousei no Yoru - Encerramento
Download: Yaoi Project BR

Assista Online

Episódio 1 – Rato Molhado AniTube Animalog
Episódio 2 – Cidade Decorada Com Luz AniTube Animalog
Episódio 3 – Vida e Morte AniTube Animalog
Episódio 4 – Bem e Mal AniTube Animalog
Episódio 5 – Anjo da Morte AniTube Animalog
Episódio 6 – Perigo Oculto AniTube Animalog
Episódio 7 – Verdades Mentirosas – Realidade Vazia AniTube Animalog
Episódio 8 – O Motivo... AniTube Animalog
Episódio 9 – Palco Para um Desastre AniTube Animalog
Episódio 10 – O Que Dorme no Abismo AniTube Animalog
Episódio 11– Me Conte a Verdade AniTube Animalog

Ir para: 
Página principal no AniTube 
Página principal no Animalog

Ver mais…

domingo, 11 de setembro de 2011

[Anime] Junjou Romantica

Junjou RomanticaCompleto

Yaoi Teen    

.

Título: Junjou Romantica
Título original: 純情ロマンチカ , Junjō Romanchika
Título alternativo: Puro Romance
Categoria: anime série
Episódios: 12
Gênero (oc.): Romance, comédia, drama
Gênero (or.): Yaoi
Classificação indicativa: T
Lançamento: 2008
Estúdio: Studio DEEN
Diretor (a): Chiaki Kon
Autor (a): Nakamura Shuginku
Site Oficial: ---

Sinopse:

Takahashi Misaki é um aluno mediano que sonha poder cursar a universidade que seu irmão mais velho, Takahiro, abandonou para poder sustentá-lo após terem ficado órfãos. Para poder passar no exame, aceitou ter como professor Usami Akihiko, o melhor amigo de seu irmão, famoso novelista e um sujeito altamente excêntrico. Um dia, após descobrir que Akihiko sentia um amor platônico por Takahiro e demonstrar simpatia pelo sofrimento do outro, teve sua vida alterada radicalmente. Com a mudança de Takahiro para Osaka após seu casamento, Misaki ficou sem escolha a não ser morar com Akihiko e ficar sob sua tutela. Entretanto, ele nunca imaginou que isso daria tanta dor de cabeça, pois em algum momento, Akihiko se apaixonou por ele e resolveu conquistá-lo de qualquer jeito.

Animes relacionados: Junjou Romantica 2, Sekai Ichi Hatsukoi
Trilha Sonora:
Kimi = Hana – Abertura
Baby Romantica – Encerramento
Download:
animeHOUSE
Kazen animes

Assista online

01 - A verdade é mais desconhecida que o romance. AniTube Videolog
02 - Não chore pelo leite derramado. AniTube Videolog
03 - Bata e ela deve estar aberta para você. AniTube Videolog
04 - O medo é muitas vezes melhor que o perigo em si. AniTube Videolog
05 - O encontro é o começo do fim. AniTube Videolog
06 - Boa chance para sair da calamidade. AniTube Videolog
07 - Leve sua amada criança numa jornada. AniTube Videolog
08 - Longe de casa não precisa sentir vergonha. AniTube Videolog
09 - Ajudar é melhor do que ser ajudado. AniTube Videolog
10 - Meninos, sejam ambiciosos. AniTube Videolog
11 - Tudo é fácil se feito com boa vontade. AniTube Videolog
12 - Nenhum encontro é por acaso. AniTube Videolog

Ver mais…

[Mangá] Loveless – Volume 1

(clique na imagem)

001

Ver mais…

Loveless – Volume 1 – Capítulo 1 – Parte 1

Ir para a página principal do mangá X
001   005 006 007 008 009 010 011 012

Ver mais…