quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

[Novel] No. 6 Volume 1 Capítulo 1

no.6 #1 

Os capítulos antigos estão sendo (re)traduzidos a partir dos textos do blog 9th Avenue.

Passe o cursor sobre as palavras e textos sublinhados para ver informação.

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Rato Encharcado

Nezumi estava em um túnel. Ele respirava em silêncio envolto na escuridão. O ar emanava o leve cheiro de terra molhada. Continuou, devagar e com cautela. O túnel era estreito, mas era grande o suficiente para um rato atravessar. E estava escuro, não havia luz para que pudesse ver, porém se sentia à vontade. Ele gostava de lugares escuros e estreitos. Em lugares assim, coisas grandes e viventes não poderiam capturá-lo. Era um momento fugaz de paz e tranquilidade. A ferida em seu ombro estava doendo, mas ele realmente não se incomodava. O verdadeiro problema não era a dor, mas a quantidade de sangue que estava perdendo. A ferida não era especialmente ruim, era apenas um pequeno buraco em seu ombro. Deveria ter começado a coagular um tempo atrás. Mas... a ferida... ainda estava viscosa e quente. Ela ainda estava sangrando.

―― Anticoagulante. Eles devem ter revestido a bala com isso.

Nezumi mordeu o lábio. Ele queria algo para parar o sangramento. Trombina ou sulfato de alumínio. Não, nem precisaria de tanto assim. Pelo menos, água limpa para lavar a ferida.

Suas pernas fraquejaram. Tonturas dominaram-no.

―― Isso é nada bom.

Fraqueza por falta de sangue, talvez. Se sim, isso seria ruim. Logo, ele não seria mais capaz de se mover.

―― Mas talvez eu não devesse me importar.

Ele ouviu uma voz dentro de si. 
Talvez não fosse tão ruim se encolher, incapaz de se mover, envolto em trevas úmidas. Ele deveria descansar para dormir, um longo sono – e ter uma morte tranquila. Não iria doer, não muito. Poderia sentir um pouco de frio.

Não, isso seria muito otimista. Sua pressão arterial iria despencar, ele iria ter dificuldades para respirar, seus membros iriam ser paralisados​... é claro que ele iria sofrer.

―― Eu quero dormir.

Ele estava cansado. Com frio. Com dor. Incapaz de se mover. Ele apenas tinha que sofrer por um tempo, disse a si mesmo. Fique quieto, ao invés de lutar inutilmente. Poderia haver pessoas perseguindo-o, mas nenhuma iria salvá-lo. Então, ele deveria apenas dar um fim à vida. Encolha-se aqui e vá dormir. Desista.

Seus pés continuaram seguindo em frente. Suas mãos correram ao longo das paredes. Nezumi deu um sorriso forçado. Sua voz lhe dizia para desistir, mas seu corpo ainda continuava obstinadamente. Como era problemático tudo isso.

―― Resta uma hora. Não, trinta minutos.

Trinta minutos era o limite de tempo para qualquer livre movimentação que ele tinha. Nesse tempo, ele tinha que parar sua hemorragia e garantir um lugar para descansar. Eram as exigências básicas para se manter vivo.

O ar se agitou. A escuridão diante dele estava gradualmente se tornando mais leve. Ele tomou cada passo meticulosamente. Saiu do lado escuro e estreito do túnel para uma área mais ampla cercada por paredes de concreto brancas. Nezumi sabia que esta era uma parte de um túnel de esgoto que esteve em uso até dez e alguns tantos anos atrás, no final do século XX. Ao contrário do solo acima, instalações subterrâneas da N° 6 não eram muito bem conservadas. Muitas delas haviam sido deixadas no mesmo estado em que estavam desde o século passado. Este túnel de esgoto era apenas mais um desses, abandonado e esquecido. Nezumi não poderia ter pedido por um ambiente melhor. Ele fechou os olhos e visualizou o mapa de N° 6 que ele havia extraído do computador.

Havia uma boa chance de que esta fosse a rota abandonada K0210. Se fosse, então ele deveria estar perto da área residencial de alto rendimento chamada Chronos. Claro, isso poderia muito bem também levar a um beco sem saída. Mas se ele tivesse decidido viver, seguir em frente era a sua única opção. Nezumi, em seu estado atual, não tinha opções nem tempo para deliberar.

O ar mudou. Não era a umidade seca de antes, e sim ar fresco carregando muita umidade. Lembrou-se de que estava chovendo forte lá em cima. Esta passagem estava definitivamente ligada ao mundo superior.

Nezumi inalou, e sentiu o cheiro de chuva.

***

07 de setembro de 2013 foi o meu décimo segundo aniversário. Neste dia, um sistema de baixa pressão tropical, ou tufão, que se desenvolvia há uma semana fora da zona sudoeste do Oceano Pacífico Norte, ganhou força caminhando para o norte, até que nos atingiu diretamente na cidade de N° 6.

Era o melhor presente que eu já tinha ganhado. Eu estava cheio de emoção. Ainda era quatro e pouco da tarde, mas já estava ficando escuro. As árvores no quintal curvavam nos ventos enquanto folhas e pequenos galhos eram arrancados. Eu adorava o barulho clamoroso que eles faziam. Era totalmente o oposto do ambiente habitual deste bairro, que dificilmente envolvia qualquer barulho.

Minha mãe preferia pequenas árvores a flores, e através de seu plantio entusiástico de amêndoa, camélia e carvalhos silvestres em todo lugar, nosso quintal tinha se tornado um pequeno bosque. Mas graças a isso, o ruído de hoje era diferente de qualquer outro. Cada árvore fazia um gemido diferente. Folhas e galhos despedaçados batiam contra a janela, se prendiam nela, e, em seguida, eram despachadas novamente. De novo e de novo, rajadas de vento irrompiam contra a janela.

Eu coçava para abri-la. Mesmo ventos fortes como estes não eram suficientes para quebrar o vidro resistente, e neste ambiente com controle atmosférico, a umidade e a temperatura mantinham-se estáveis e inalteradas. Era por isso que eu queria abrir a janela. Abrir, e trazer o ar, o vento, a chuva, uma mudança do habitual.

"Shion," chamou a voz da mãe no interfone. "Eu espero que você não esteja pensando em abrir a janela."

"Eu não estou."

"Bom... você ouviu falar? As terras baixas do Bloco Ocidental estão inundando. Terrível, não é?"

Ela não soava como se sentisse muito mal, embora.

Fora da N° 6, a terra era dividida em quatro blocos ― Leste, Oeste, Norte e Sul. Grande parte dos blocos Leste e Sul eram de terras agrícolas ou de pastagem. Eles forneciam 60% de todos os alimentos feitos de plantas e 50% dos produtos alimentícios de origem animal. Ao norte, havia uma extensão da floresta estacional decidual e montanhas sob a completa conservação do Comitê de Administração Central.

Sem a permissão do Comitê, ninguém poderia entrar na área. Não que alguém fosse querer passear em uma floresta selvagem, que estava completamente sem manutenção.

No centro da cidade havia um enorme parque florestal, que ocupava mais de um sexto da área total da cidade. Nele, podiam-se experimentar as mudanças sazonais e interagir com as centenas de espécies de pequenos animais e insetos que ali habitavam.

A grande maioria dos cidadãos estava contente com a vida selvagem dentro do parque. Eu não gostava muito. Eu particularmente não gostava do prédio da Prefeitura, que erguia no centro do parque. Tinha cinco andares subterrâneos e mais dez andares acima, e tinha a forma de uma cúpula. N° 6 não tinha arranha-céus, talvez por isso "se agigantar" fosse um pouco exagerado. No entanto, esse prédio exalava um sentimento sinistro. Algumas pessoas o chamavam de Moondrop por sua forma arredondada e branca, mas eu pensei que se assemelhava mais como uma bolha redonda sobre a pele. Uma bolha que irrompeu no centro da cidade. Como se para cercá-la, o hospital da cidade e a Secretaria de Segurança ficavam por perto, e se ligavam com caminhos que pareciam canos de gás. Em torno estava uma floresta verde. O parque florestal, um lugar de paz e tranquilidade para os bons cidadãos. Todas as plantas e animais que habitam este lugar eram monitorados minuciosamente, e todas as flores, frutas e pequenos animais de cada área em cada estação eram completamente gravados.

Os cidadãos poderiam descobrir a melhor hora e local para observar e admirar a área através do sistema de serviço da cidade. A natureza perfeita e obediente. Mas pelo menos este dia estaria colérico. Era um tufão, afinal.

Um ramo com folhas verdes ainda estava chocado com a janela. Uma rajada de vento resmungou, e seu rugido ressoou por algum tempo. Pelo menos, eu pensei que eu pudesse ouvi-la ressoar. O vidro à prova de som me restringia de qualquer ruído externo. Eu queria a janela fora do meu caminho. Eu queria ouvir, sentir o vento furioso. Quase sem pensar, eu abri a janela. O vento e a chuva vieram entrando soprando. O vento rugia como se viesse das profundezas da terra. Era um rugido que eu não tinha ouvido em um longo tempo. Eu também levantei minhas próprias mãos e soltei um grito. Ele iria se dispersar nos ventos tempestuosos, e chegaria aos ouvidos de ninguém. Ainda assim, eu gritei, sem nenhum significado. Gotas de chuva voaram em minha garganta. Eu sabia que estava sendo infantil, mas eu não podia parar. Começou a chover mais forte. Como seria empolgante tirar todas as minhas roupas e explodir na chuva. Eu tentei me imaginar nu, correndo na tempestade torrencial. Eu definitivamente seria declarado insano. Mas era uma tentação irresistível. Eu abri minha boca novamente, e engoli as gotículas. Eu queria reprimir esse estranho impulso. Eu tinha medo do que se escondia dentro de mim. Às vezes, eu me encontro oprimido por uma turbulenta e selvagem onda de emoções.

Quebre.

Destrua.

Destruir o que?

Tudo.

Tudo?

Um som mecânico de aviso resoou. Estava me notificando que as condições atmosféricas no quarto estavam se deteriorando. Eventualmente, a janela ia se fechar e se trancar automaticamente. A desumidificação e o controle de temperatura começariam, e todas as coisas molhadas na sala, incluindo eu, seriam secas instantaneamente. Limpei meu rosto pingando na cortina e caminhei até a porta para desligar o sistema de controle aéreo.

E se, naquele momento, eu tivesse obedecido ao som do aviso? Às vezes, eu ainda me pergunto sobre isso. Se eu tivesse fechado a janela, e escolhido ficar no conforto adequadamente seco do meu quarto, minha vida teria sido completamente diferente. Não me lamento, nem qualquer coisa assim. Era apenas um pensamento peculiar. A coisa que mudou meu mundo inteiro, tão meticulosamente controlado até agora, aconteceu daquela pequena coincidência ― que em 7 de setembro de 2013 em um dia tempestuoso, eu por acaso tinha aberto a janela. Era um pensamento muito peculiar.

E apesar de eu não ter um Deus em particular para acreditar, há momentos em que eu sinto certa convicção em direção ao termo "mão divina".

Virei a chave. O som de aviso parou. Um silêncio súbito reinou sobre o quarto.

Heh.

Ouvi uma leve risada atrás de mim. Instintivamente eu girei e dei um pequeno grito. Havia um menino lá, todo molhado. Levei um tempo para perceber que ele era um menino. Ele tinha cabelos na altura dos ombros que quase encobria o seu rosto pequeno. Seu pescoço e braços que se projetavam de sua camisa de mangas curtas eram finos. Eu não poderia dizer se era um menino ou uma menina, se ele era mais jovem ou mais velho do que parecia. Meus olhos e consciência se focaram em seu ombro esquerdo que estava manchado de vermelho, para pensar em qualquer outra coisa.

Era a cor do sangue. Eu nunca tinha visto alguém sangrando tão profusamente como quanto ele. Instintivamente eu estava estendendo a mão para ele. A figura do intruso desapareceu na ponta dos meus dedos. Ao mesmo tempo, eu senti um impacto, e bati contra a parede com força. Senti uma sensação de gelado no meu pescoço. Eram dedos, cinco deles, fechando em torno de minha garganta.

"Não se mova", disse ele.

Ele era menor do que eu. Sufocado por baixo, me esforcei para dar uma olhada em seus olhos. Eles eram um escuro, mas, ao mesmo tempo, claro, cinzentos. Eu nunca tinha visto uma cor assim antes. Seus dedos cerraram. Ele não parecia forte, mas eu estava completamente incapaz de me mover. Não era algo que uma pessoa normal poderia fazer.

"Eu vejo," consegui ofegar. "Você está acostumado a fazer isso."

O par de olhos cinzentos não piscava. Seu olhar continuava fixo, emanando calma como a superfície suave do oceano, e eu não podia ler nenhum tom de ameaça, medo ou de intenção assassina deles. Eram olhos muito tranquilos. Eu podia sentir meu próprio pânico cedendo.

"Vou tratar sua ferida", eu disse, lambendo meus lábios. "Você está machucado, não é? Eu vou tratá-lo."

Eu podia me ver refletido nos olhos do intruso. Por um momento, eu me senti como se eu tivesse sido sugado para eles. Desviei o meu olhar olhando para baixo, e eu repeti.

"Vou tratar o ferimento. Nós temos que parar o sangramento. Tratar. Você entende o que estou dizendo, não é?"

O aperto no meu pescoço afrouxou ligeiramente.

"Shion".

A voz de minha mãe transitou do interfone. "Sua janela está aberta, não é."

Eu respirei fundo. Eu me senti bem. Estava tudo bem, me tranquilizei. Eu poderia falar com uma voz normal.

"A janela? ... Ah, sim, está aberta."

"Você vai pegar um resfriado, se você não fechá-la."

"Eu sei."

Eu podia ouvir a minha mãe rindo do outro lado.

"Você está se fazendo doze anos hoje e você ainda está agindo como um menininho."

"Ok, eu entendi... Ah, mãe?"

"O quê?"

"Eu tenho um relatório para escrever. Você pode me deixar em paz um pouco?"

"Um relatório? Você não acabou de ser aceito no Curso Especial?"

"Huh? Ah... bem, eu tenho um monte de trabalhos para fazer."

"Eu vejo... não se sobrecarregue. Desça na hora do jantar."

Os dedos frios se afastaram da minha garganta. Meu corpo estava livre. Estiquei a mão para reiniciar o sistema de controle aéreo. Fiz questão de deixar o sistema de segurança desligado. Se não, ele detectaria o intruso como uma presença estrangeira, e iria detonar um alarme agudo. Se a pessoa fosse reconhecida como um residente legítimo de N° 6 não aconteceria isso, mas eu não podia imaginar que esse intruso encharcado teria uma cidadania.

A janela se fechou, e o ar quente começou a circular no quarto. O intruso de olhos cinzentos meio que entrou em colapso ajoelhando-se e se se encostou à cama. Ele soltou um suspiro longo e profundo. Estava consideravelmente fraco. Peguei o kit de emergência. Primeiro chequei o pulso, em seguida, rasguei sua camisa, e comecei a limpar a ferida.

"Isso..."

Eu não podia deixar de reparar. Eu não estava familiarizado com este tipo de lesão. Tinha um raso cume esculpido na carne de sua articulação do ombro.

"Ferida à bala?"

"Sim". Foi uma resposta casual. "Atingiu de raspão. Qual é o termo técnico que vocês usam para isso? Uma escoriação leve?"

"Eu não sou nenhum especialista. Ainda sou um estudante."

"Do Curso Especial?"

"Começando no próximo mês."

"Uau. QI alto, né?"

Havia um tom de sarcasmo na voz. Eu levantei meu olhar de sua ferida, e olhei em seus olhos.

"Você está tirando sarro de mim?"

"Tirando sarro? Quando eu estou sendo tratado por você? Nunca. Então, qual é a sua especialização?"

Eu lhe disse que era ecologia. Eu tinha acabado de ser aceito no Curso Especial. Ecologia. Tinha o mínimo de experiência em tratar um ferimento de bala. A minha primeira experiência. Foi um pouco emocionante. Vamos ver, o que eu tenho que fazer primeiro? Desinfetar, parar o sangramento... ah sim, eu tinha que parar o sangramento.

"O que você está fazendo?"

Ele olhou enquanto eu pegava uma seringa do kit de desinfecção, e engoliu em seco.

"Anestesia local. Tudo bem, aqui vai."

"Espere, espere um minuto. Você vai anestesiar, e depois?"

"Costurar."

Supostamente eu tinha dito isso com tal sorriso que parecia que eu não poderia estar me divertindo mais. Era algo que eu descobri muito mais tarde.

"Costurar! Pode existir algo mais primitivo do que isso?"

"Isso não é um hospital. Eu não tenho instalações de tecnologia de ponta e, além disso, eu acho que um ferimento de bala é muito primitivo por si mesmo."

A taxa de criminalidade na cidade era infinitamente próxima de zero. A cidade era segura, e não havia necessidade de um cidadão comum carregar uma arma. Se fizessem, seria apenas para a caça. Duas vezes por ano, as regras eram desconsideradas para a temporada de caça. Com armas de fogo remotas penduradas nos ombros, esportistas aventuravam-se nas montanhas do norte. Mãe não gostava deles. Ela dizia que não entendia como as pessoas podiam matar animais por prazer, e ela não era a única. Em censos periódicos, 70% dos cidadãos expressaram desconforto na caça como uma forma de esporte. Matar pobres animais inocentes – que violento, que cruel....

Mas a figura sangrando na minha frente não era uma raposa ou um veado. Era um ser humano.

"Eu não posso acreditar nisso", eu murmurei para mim mesmo.

"Acreditar no quê?"

"Que há pessoas que atiram em outras pessoas... a menos que... não me diga que alguém do clube de caça atirou em você por engano?"

Seus lábios se curvaram. Ele estava sorrindo.

"Clube de caça, hein. Bem, eu acho que você pode chamá-los assim. Mas eles não atiraram por engano."

"Eles sabiam que estavam atirando em um humano? Isso é contra a lei."

"É mesmo? Em vez de uma raposa, apenas acontece que eles caçam humanos. Uma caçada humana. Eu não acho que seja contra a lei."

"O que você quer dizer?"

"Que existem os caçadores e as caças."

"Eu não entendo o que você está falando."

"Imaginei que não. Você não precisa entender. Então você vai mesmo me dar uma agulhada? Você não tem anestésico em spray ou algo assim?"

"Eu sempre quis tentar usar uma agulha."

Eu desinfetei a ferida e apliquei o anestésico com três injeções ao redor da área da ferida. Minhas mãos tremiam um pouco de nervos, mas de alguma forma correu bem.

"Deve começar a ficar dormente em breve, e então..."

"Você vai costurar."

"Sim".

"Você tem alguma experiência?"

"Claro que não. Eu não estou indo para a medicina. Mas eu tenho conhecimento básico de sutura do vaso sanguíneo. Vi em um vídeo."

"Conhecimento básico, hein..."

Ele respirou fundo e olhou para mim diretamente no rosto. Ele tinha lábios finos, sem sangue, bochechas cavadas, e pele pálida e ressecada. Ele tinha o rosto de alguém que não tinha vivido uma vida decente. Ele realmente se parecia com uma presa animal que havia sido perseguido implacavelmente, exausto, sem nenhum lugar para correr. Mas seus olhos eram diferentes. Eles estavam sem emoção, mas eu podia sentir a energia feroz que eles emanavam. Era vitalidade? Eu me perguntava. Eu nunca tinha encontrado ninguém em minha vida com os olhos tão memoráveis quanto aqueles. E aqueles olhos estavam olhando sem piscar para mim.

"Você é estranho."

"Por que você diz isso?"

"Você nem sequer perguntou o meu nome."

"Ah, é. Mas eu não me apresentei também."

"Shion, certo? Como a flor?"

"Sim. Minha mãe gosta de árvores e flores silvestres. E você?"

"Nezumi".

"Huh?"

"Meu nome."

"Nezumi... não é isso."

"Não é o que?"

Essa cor dos olhos não era de um rato. Era algo mais elegante. Como... o céu um pouco antes do raiar do dia – não parece com isso? Corei, envergonhado em me pegar jorrando como um poeta coxo. Eu propositadamente levantei minha voz.

"Certo, aqui vai."

Lembre-se dos passos básicos da sutura, eu disse a mim mesmo. Estabeleça dois ou três pontos estáveis, e use-os como pontos de apoio para fazer uma sutura contínua... isso deve ser conduzido com o máximo de cuidado e precisão... no caso de uma sutura contínua...

Meus dedos tremiam. Nezumi observava meus dedos em silêncio. Eu estava nervoso, mas um pouco animado demais. Eu estava colocando o que costumava ser apenas o conhecimento de livros didáticos em ação. Foi emocionante.

Sutura completa. Apertei um pedaço de gaze limpa sobre a ferida. Uma gota de suor deslizou em minha testa.

"Então, você é inteligente."

A testa de Nezumi também estava úmida de suor.

"Eu apenas sou bom com as minhas mãos."

"Não apenas com as suas mãos. Que cérebro o seu. Você tem apenas doze anos, certo? E você está indo para o Curso de Dotados da mais alta instituição de ensino. Você está na super elite."

Desta vez, não havia nenhum tom de sarcasmo. Nem qualquer indício de temor. Eu silenciosamente tirei a gaze e os instrumentos sujos.

Dez anos atrás eu obtive a classificação mais alta no exame de inteligência para crianças de dois anos de idade. A cidade fornece a qualquer um que consegue a classificação mais alta em inteligência ou em habilidades atléticas a melhor educação que eles poderiam desejar. Até a idade de dez anos, eu frequentei aulas em um ambiente munido com os equipamentos mais recentes junto a outros colegas como eu. Sob os cuidados de uma lista de instrutores especializados, nos foi dada uma educação sólida e completa das matérias básicas, depois cada um de nós recebeu o seu próprio conjunto de instrutores para mover-nos ao campo de especialização que nos era adequado. Desde o dia em que eu fui reconhecido com a classificação mais alta, meu futuro foi prometido para mim. Isso era inabalável. Nenhuma força pequena poderia fazer isso desmoronar. Pelo menos, era assim que se supunha ser.

"Parece uma cama confortável," Nezumi murmurou, ainda inclinando-se nela.

"Você pode usá-la. Mas se troque antes."

Joguei uma camisa limpa, uma toalha e uma caixa de antibióticos no colo de Nezumi. E então, por um capricho, eu decidi fazer chocolate quente. Eu tinha utensílios de cozinha o suficiente no meu quarto para fazer uma bebida quente ou duas.

"Não está exatamente na moda, não é?" Nezumi fungou quando ele puxou a camisa xadrez.

"Melhor do que uma camisa suja rasgada e coberta de sangue, se você me perguntar."

Passei-lhe uma caneca fumegante de chocolate quente. Pela primeira vez esta noite, eu vi o que parecia ser um lampejo de emoção em seus olhos cinzentos. Prazer. Nezumi sorveu um gole e murmurou baixinho ― bom.

"É bom. Melhor do que a sua sutura."

"Não é justo comparar assim. Acho que ocorreu muito bem para a minha primeira tentativa."

"Você é sempre assim?"

"Hein?"

"Você sempre se deixa aberto? Ou é normal para todos vocês elites ter zero de senso de perigo?" Nezumi continuou, segurando a caneca com as duas mãos.

"Vocês podem ficar muito bem, sem sentir qualquer perigo ou medo de intrusos, né?"

"Eu me sinto em perigo. E com medo também. Tenho medo de coisas perigosas e eu não quero ter nada a ver com elas. Eu também não sou ingênuo o suficiente para acreditar que alguém que veio da minha janela do segundo andar é um cidadão respeitável."

"Então, por quê?"

Ele estava certo. Por quê? Por que eu estava tratando feridas deste intruso, e até mesmo lhe dando chocolate quente? Eu não era um monstro de sangue frio. Mas eu também não era repleto de compaixão e boa vontade o suficiente para estender a mão a qualquer um que estava ferido. Eu não era nenhum santo. Eu odiava lidar com dificuldades e desentendimentos. Mas eu tinha deixado este intruso entrar. Se as autoridades da cidade descobrissem, eu estaria em apuros. Eles poderiam me ver como alguém desprovido de bom senso. Se isso acontecesse...

Meus olhos se encontraram com um par de olhos cinzentos. Eu me senti como se eu pudesse ver uma pitada de riso neles. Como se eles pudessem ver através de mim, tudo o que eu estava pensando, e rindo de mim. Eu apertei o meu estômago e olhei de volta para ele.

"Se você fosse um homem grande, agressivo, eu teria acionado o alarme ali mesmo. Mas você era pequeno, e parecia uma menina, e estava prestes a cair. Então... Então eu decidi tratá-lo. E... "

"E?"

E seus olhos tinham uma cor estranha que eu nunca tinha visto antes. E eles me atraíram.

"E... Eu queria ver como costurar uma veia realmente era."

Nezumi deu de ombros e bebeu o resto de seu chocolate. Limpando a boca com as costas da mão, ele correu a palma da mão através dos lençóis.

"Eu realmente posso dormir?"

"Claro."

"Obrigado."

Essas foram as primeiras palavras de gratidão que eu tinha ouvido uma vez que ele havia entrado em meu quarto.

Mãe estava sentada no sofá na sala de estar, absorta na televisão de tela plana montada na parede. Ela me notou chegando e apontou para a tela. A apresentadora com o cabelo longo e reto estava transmitindo um aviso a todos os residentes de Chronos.

Um presidiário havia escapado da Instituição Correcional no Bloco Ocidental, e foi visto pela última vez fugindo para a área de Chronos. Considerando o tufão também, a área era para ser bloqueada naquela noite. Todos nessa área, excluindo casos especiais, estavam proibidos de saírem de suas casas.

O rosto de Nezumi apareceu na tela. Abaixo, as letras "VC103221" flutuaram em letras vermelhas.

"VC..."

Eu levantei uma colher com bolo de cereja para minha boca. Todos os anos, sem falta, mãe fazia um bolo de cereja no meu aniversário. Isso era porque o pai tinha trazido para casa um bolo de cereja no dia em que nasci.

Pelo que minha mãe disse, meu pai era um caso perdido que se entregava descontroladamente em gastar dinheiro e mulheres, mas, acima de tudo, em álcool ― ele estava apenas a um passo de ser um alcoólatra. Ele tinha vindo para casa um dia embriagado trazendo bolos de cereja ― três deles ― que eram tão bons que ela não podia deixar de lembrar o gosto cada vez que 07 de setembro chegava. Meus pais se divorciaram dois meses após o bolo de cereja. Então, infelizmente, eu não tenho nenhuma memória daquele caso sem esperança do meu pai que estava a um passo de ser um alcoólatra. Mas não era inconveniente. Depois de ter recebido a classificação mais alta no rank, mãe e eu recebemos o direito de viver em Chronos, juntamente com a segurança completa de nossas condições de vida, incluindo esta casa modesta, mas bem equipada. Não havia inconveniências.

"Acabei de me lembrar, o sistema de segurança do jardim ainda está desligado. Tem nada de mal em deixar assim, certo?"

Mãe se levantou lentamente. Ela tinha ganhado muito peso recentemente, e parecia que era um esforço para ela se mover.

"É uma dor no pescoço, essa coisa. Mesmo um gato pulando a cerca dispara o alarme, e as pessoas da Secretaria de Segurança vem toda hora para verificar. É um aborrecimento."

Quase como se em correlação com o seu ganho de peso, ela começou a chamar as coisas como "uma dor no pescoço" mais e mais vezes.

"Mas olhe para ele, ele ainda é muito jovem. Um VC... Eu me pergunto o que ele fez."

VC. O V Chip. Era uma abreviação para Violence-Chip, e era originalmente um termo usado nos Estados Unidos por um semicondutor que era usado para censurar conteúdos de televisão. Com este chip, você pode determinar para a televisão não exibir cenas violentas ou perturbadoras. Se eu me lembro corretamente, este termo foi usado pela primeira vez na revisão da Lei de Telecomunicações de 1996.

Mas na N° 6, o termo VC tem um significado mais pesado. Os acusados de homicídio, tentativa de homicídio, roubo, assalto e outros crimes violentos eram sujeitos a ter esse chip implantado dentro de seu corpo. Isso permitia que os computadores rastreassem cada localização, condição e até mesmo variações emocionais do condenado. VC era um termo que usávamos para os criminosos violentos.

―― Mas como é que ele conseguiu esse chip?

Se o VC ainda estava dentro de seu corpo, a sua localização podia ser imediatamente identificada com o sistema de monitoramento da cidade. Deveria ter sido facilmente possível prendê-lo sem que qualquer cidadão percebesse. Para fazer com que a notícia de sua fuga fosse publicada, e para impor um bloqueio só significaria que eles não tinham sido capazes de encontrar sua localização.

―― Pode ser que ferida de bala foi...? Não, não pode ser isso.

Eu nunca tinha visto um ferimento de bala em um ser humano antes, mas eu definitivamente poderia dizer que ele foi baleado a uma distância. Se ele tivesse atirado em seu chip juntamente com a carne de seu ombro, ele teria tido uma ferida mais grave, com queimaduras e tudo. Muito mais grave.

"Está bastante chato, não é? Uma pena, já que é o seu dia especial."

Mãe suspirou enquanto polvilhava flocos de salsa na panela de ensopado em cima da mesa. "Chato" era outra palavra que a mãe estava usando com mais frequência atualmente.

Mãe e eu éramos muito parecidos. Nós dois éramos um pouco mais sensíveis, e não gostávamos de socializar muito. As pessoas ao nosso redor eram ótimas, tão ótimas que não havia nada de ruim a dizer sobre elas. Meus colegas eram geniais, inteligentes e propensos às suas maneiras. Ninguém levantava a voz para insultar ninguém, ou tratava alguém com hostilidade. Não havia pessoas estranhas ou desonestas. Todo mundo mantinha tais estilos de vida ​​meticulosamente saudáveis que mesmo pessoas ligeiramente gordas, como a minha mãe eram raras. Neste mundo pacífico, estável e uniforme, onde todos se pareciam, minha mãe ficou mais gorda, e reclamando que as coisas eram "uma dor no pescoço" ou "chatas", e comecei a achar a presença de outras pessoas opressivas.

Quebre.

Destrua.

Destruir o que?

Tudo.

Tudo?

A colher escorregou da minha mão e caiu no chão.

"O que há de errado? Você está a milhas de distância."

Minha mãe olhou curiosamente para mim. Seu rosto redondo abriu um sorriso.

"Isso é raro em você, Shion, espaçando assim. Quer que eu desinfete a colher?"

"Ah, não. Não é nada", eu sorri de volta para ela. Meu coração estava disparado tão rápido que era difícil respirar. Eu engoli a água mineral de uma vez. Feridas de bala, sangue, VC, olhos cinzentos. O que eram todas estas coisas? Elas nunca tinham existido no meu mundo até agora. O que elas queriam se intrometendo em minha vida tão de repente?

Eu tive uma premonição fugaz. A sensação de que uma grande mudança estava por vir. Assim como um vírus que entra numa célula e a transforma ou a destrói por completo, eu tinha a sensação de que este impostor iria perturbar o mundo em que eu vivia, e o destruiria completamente.

"Shion? Sério, o que deu em você?"

Mãe olhou para o meu rosto de novo, sua expressão estava preocupada.

"Desculpe, mãe. Esse relatório está me incomodando. Vou comer no meu quarto", eu menti, e me levantei.

"Não acenda a luz."

Uma voz baixa me ordenou assim que entrei no quarto. Eu não gosto do escuro, então eu geralmente deixo as luzes acesas. Mas agora estava escuro como breu.

"Eu não posso ver nada."

"Você não precisa."

Mas se eu não podia ver, eu não podia me mover. Eu fiquei sem poder fazer nada, com o ensopado e o bolo de cereja em minhas mãos.

"Isso cheira bem."

"Eu trouxe ensopado e bolo de cereja."

Eu ouvi um assovio de apreciação no escuro.

"Quer um pouco?"

"Claro."

"Você vai comer no escuro?"

"Claro."

Eu cuidadosamente avancei meu pé. Eu podia ouvir uma risada silenciosa.

"Não pode nem mesmo encontrar o caminho em seu próprio quarto?"

"Eu não sou noturno, obrigado. Você pode ver no escuro?"

"Eu sou um rato. Claro que posso."

"VC 103221."

No escuro, eu podia sentir Nezumi se congelando.

"Você estava em todos os noticiários. Está famoso."

"Hah. Eu não pareço muito melhor pessoalmente? Hei, este bolo é bom."

Meus olhos foram se acostumando com a escuridão. Sentei-me na cama e olhei para Nezumi.

"Você consegue fugir bem?"

"Claro."

"O que você fez com o chip?"

"Ele ainda está dentro de mim."

"Quer que eu tire?"

"Cirurgia de novo? Não, obrigado."

"Mas..."

"Isso não importa. Agora aquela coisa é inútil de qualquer maneira."

"O que você quer dizer?"

"O VC é apenas um brinquedo. Desativar isso é moleza."

"Um brinquedo, hein."

"Sim, um brinquedo. E deixe-me te dizer algo, a própria cidade é como um brinquedo, também. Um brinquedo barato que é bonito apenas do lado de fora."

Nezumi havia limpado o ensopado e o bolo. Ele deu um suspiro de satisfação.

"Então, você está confiante de que você está vai escapar enquanto a cidade está no estado de alerta?"

"Claro."

"Mas há uma verificação rigorosa de segurança para os invasores que não estão registrados. Há todo um sistema ao longo desta área para pessoas assim."

"Você acha? O sistema desta cidade não é tão perfeito quanto você pensa que é. Está cheio de buracos."

"Como você pode dizer isso?"

"Porque eu não sou parte do sistema. Vocês todos foram programados bem para acreditar que essa falsa bagunça furada é a utopia perfeita. Ou, não, talvez seja isso o que vocês querem acreditar."

"Eu não sei."

"Huh?"

"Eu não acho que este lugar é perfeito."

As palavras saíram da minha boca. Nezumi ficou em silêncio. Á minha frente, havia apenas uma extensão de escuridão. Eu não podia sentir a sua presença. Ele estava certo, ele era como um rato. Um roedor noturno, escondido na escuridão.

"Você é estranho", disse ele em voz baixa, em voz ainda mais baixa do que antes.

"Sério?"

"Você é. Isso não é algo para um da super elite dizer. Você não estaria em apuros, se as autoridades descobrirem?"

"Sim. Tremendo apuros."

"Você acabou de pegar um VC fugitivo e não relatou à Secretaria... Se eles descobrirem, isso será um problema ainda maior. Eles não vão te soltar facilmente."

"Eu sei."

Nezumi de repente agarrou meu braço. Seus dedos finos escavaram em minha carne.

"Verdade? Quero dizer, não é problema meu o que acontece com você, mas se você acabar sendo dizimado por minha causa, eu não gosto disso. Eu me sentiria como se eu tivesse feito uma coisa horrível..."

"Isso é gentil de você."

"Mama sempre me disse: 'não cause problemas para outras pessoas", disse ele suavemente.

"Então você vai embora?"

"Não. Eu estou cansado, e há um tufão lá fora. E eu finalmente consegui uma cama. Vou dormir aqui."

"Decida."

"Papa sempre me disse para separar meus modos públicos de meus sentimentos particulares".

"Parece ser um grande pai."

Seus dedos se retiraram do meu braço.

"Eu acho que eu tive sorte por você ser estranho", disse Nezumi suavemente.

"Nezumi?"

"Hm?"

"Como é que você entrou Chronos?"

"Não te conto."

"Você quis sair da Instituição Correcional e entrar na cidade? Isso é possível?"

"É claro que é possível. Mas eu não entro na N° 6 por mim mesmo. Alguém me deixa entrar. Não é como se eu quisesse vir aqui, no entanto."

"Te deixa entrar?"

"É. Eu fui escoltado, pode-se dizer."

"Escoltado? Pela polícia? Para onde?"

A Instituição Correcional era localizada no Bloco Ocidental, uma zona de alta segurança. Qualquer um que quisesse entrar na N° 6 de lá tinha que pedir permissão da Secretaria. Aqueles que tinham autorizações de entrada especiais eram livres para entrar e sair, mas os novos candidatos eu ouvi que eles têm que esperar pelo menos um mês para o seu formulário ser aceito ― e, geralmente, apenas menos de dez por cento são admitidos. O número de dias permitidos dentro da cidade também eram severamente restringidos. Naturalmente, as pessoas começaram a se acumular no Bloco Ocidental. Mais pessoas esperando por suas licenças serem processadas ​​significou mais alojamentos e estabelecimentos para jantares indo às ruas para atendê-los. Ainda mais pessoas chegavam para trabalhar ou fazer negócios lá. Eu mesmo nunca fui para o Bloco Ocidental, mas ouvi dizer que é um lugar casual, mas animado. A taxa de criminalidade não é alta. A maioria dos VCs que enchem as celas na Instituição Correcional são moradores do Bloco Ocidental. Sentenças que variam de um ano para perpétua são dadas com base na idade, antecedentes criminais, bem como o grau de violência do crime. Não há pena de morte. O Bloco Ocidental servia como uma espécie de fortaleza que continha todas as pessoas e as coisas de natureza criminal, e as impedia de entrar na cidade. Assim, para um VC ser escoltado de lá para dentro das muralhas da cidade ― para onde eles estavam indo? E por qual razão?

Nezumi se arrastou para a cama.

"Provavelmente o Moondrop".

"A Câmara Municipal!" Exclamei. "O centro da cidade? por quê?"

"Não te conto. Você provavelmente não deveria saber, de qualquer maneira."

"Por que não?"

"Estou cansado. Me deixa dormir."

"É algo que você não pode me dizer?"

"Você pode garantir que você pode se esquecer de completamente tudo, uma vez que você já tenha ouvido isso? Fingir que não ouviu? Mentir que você não sabe de nada? Você pode ser inteligente, mas você não é um adulto. Você não pode mentir tão bem assim."

"Eu acho, mas..."

"Então não me pergunte em primeiro lugar. Em troca, eu também não vou contar a ninguém."

"Huh? Sobre o quê?"

"Sobre como você estava gritando pela janela."

Ele tinha me visto. Eu podia sentir meu rosto queimando de vergonha.

"Isso me pegou totalmente de surpresa. Eu entrei em seu quintal e queria saber o que fazer a seguir, e de repente a janela se abriu e você meteu a sua cara para fora."

"Ei, espere um minuto"

"Eu estava assistindo o que você faria em seguida, então, desta vez você começou a gritar. Fui pego de surpresa de novo. Eu não acho que eu já tinha visto alguém gritando com um cara como..."

"Cale a boca!"

Eu investi contra Nezumi, mas tudo que eu senti foi o travesseiro quando caí em cima dele. Em um flash, Nezumi estava em cima. Ele deslizou uma mão debaixo do meu braço, e com um giro rápido, eu fui facilmente virado sobre minhas costas. Nezumi subiu em cima de mim e prendeu meus dois braços para baixo com uma mão. Suas pernas montaram meus quadris e os apertaram com força. Por um instante, senti um formigamento de dormência percorrer as minhas pernas por todo o caminho até os dedos dos pés. Foi impressionante. No espaço de uma fração de segundo, eu tinha sido imobilizado e preso à minha própria cama. Com a mão livre, Nezumi girou a colher de sopa. Ele apertou o punho contra a minha garganta, e levemente a deslizou transversalmente. Abaixou-se para que seus lábios fosse ao meu ouvido.

"Se fosse uma faca," ele sussurrou, "você estaria morto."

Um músculo em minha garganta se contraiu. Incrível.

"Isso é incrível. Existe um truque para fazer isso?"

"Hein?"

"Como você pode imobilizar alguém com tanta facilidade? Há pontos nervosos especiais que você pressiona ou algo assim?"

A força que me fixava relaxou. Nezumi afundou em cima de mim, tremendo ― ele estava rindo.

"Eu não posso acreditar nisso. Você é hilário. Que natural", ele suspirou.

Eu circulei meus braços ao redor de Nezumi e enfiei as mãos nas costas de sua camisa. Estava quente. Sua pele quente estava úmida de suor.

"Eu sabia... você está pegando uma febre. Você deve tomar esses antibióticos."

"Eu estou bem... Eu só quero dormir."

"Se você não abaixar sua febre ela vai te enfraquecer ainda mais. Você está queimando."

"Você está muito quente também."

Nezumi deu um suspiro profundo, e murmurou distraidamente.

"Os vivos são quentes."

Ele ficou quieto, e não muito tempo depois, eu podia ouvir a respiração tranquila e medida que vinha dele. Com seu corpo febril ainda em meus braços, antes que eu percebesse, eu também estava caindo no sono.

Quando acordei na manhã seguinte, Nezumi tinha ido embora. A camisa xadrez, a toalha e o kit de emergência foram embora com ele.

8 comentários:

Anônimo disse...

Que lindo <3

Max disse...

EU POSSO MORRER FELIZ, ACHEI O LIGHT NOVEL GRITO

Lord Deathstrike disse...

Uhhhu

Unknown disse...

Foda

Unknown disse...

Agora posso morrer em paz ...

Anônimo disse...

Achei o light novel da história da minha life. Amoooo.

Unknown disse...

Vocês abandonaram a novel?

Anônimo disse...

Posso morrer feliz agr. Finalmente encontrei a novel, tô amando ❤❤��

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