quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

[Novel] No. 6 Volume 4 Capítulo 1 (parte A)

No.6 #4

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Vamos voltar vivos. Não se esqueça disso...

* * *

 

Subam as Cortinas

Uivai! Uivai! Uivai! Sois empedrados!
Se vossas línguas e olhos eu tivesse, usara-os de tal modo,

Que faria rachar a abóbada celeste.
[Ela] Foi-se para sempre.
- Rei Lear
Ato V Cena III [1]

Além do portão havia um mundo de trevas.

Estava gelando. O homem estremeceu e virou a gola do casaco para cima. Seu casaco era tecido da melhor caxemira, e era leve e quente. Era também equipado com um sensor automático que registrava a temperatura do corpo e do ar do lado de fora para ajustar a temperatura no interior do revestimento em conformidade. O sensor em si era menor, mais leve e mais fino do que um selo postal.

Ele podia sentir o frio cortante do ar em seu rosto parcialmente exposto, mas o resto de seu corpo estava envolto confortavelmente no aconchego de seu casaco. Então, quando o homem estremeceu, não era por causa do frio.

Era a escuridão. Estava muito escuro.

Nº 6, onde o homem vivia, era uma cidade de luz. Brilhava e se espalhava, independentemente se era dia ou noite. A luz não era a única coisa que ele tinha o acesso livre: graças aos saltos em biotecnologia, um suprimento constante de alimento estava sempre disponível, independente de condições climáticas ou meteorológicas, e tinha acesso a qualquer tipo de alimentos. O mesmo acontecia com o fornecimento de energia. Enquanto estivessem dentro da cidade, as pessoas eram capazes de ter uma vida abundante, segura e higiênica. Além deles, havia outras cinco cidades-estados no mundo, mas nenhum outro lugar tinha um ambiente tão perfeito como o deles. Esta era a razão por trás do segundo nome de N° 6, Cidade Santa.

O homem portava uma posição importante no corpo diretivo da Cidade Santa. Dentro da Secretaria de Administração Central, ele portava o que era equivalente ao terceiro lugar mais poderoso. Ele era uma elite das elites. Seu filho, que estava fazendo três anos este ano, também obteve a maior pontuação em inteligência nos últimos Exames de Criança. O homem já estava recebendo instruções sobre a educação do filho através de um currículo especial. Se nenhum problema surgisse ― problemas não deveriam surgir, naturalmente, porque de modo algum algo imprevisível aconteceria dentro da Cidade Santa ― então seu filho, bem como uma elite também, seria capaz de ter uma vida que não faltaria nada. Estava prometido a ele.

O homem não conseguia parar de tremer. Como era escuro! Como era pressagioso! Ele não tinha ideia de que a noite poderia trazer tal escuridão insondável. Ele não tinha ideia, até que ele entrou neste Bloco Ocidental.

O que diabos ele está fazendo?

O homem que deveria estar lá para buscá-lo, não estava. Ele geralmente esperava por ele à frente da escuridão, mas esta noite, não havia sinal dele.

Aconteceu alguma coisa?

Talvez algo surgiu.

Se for isso... então, não é muito bom.

O homem exalou na escuridão.

É melhor não perder mais tempo aqui. Eu devo passar de volta nos portões, e retornar para a Cidade Santa. Eu devo.

Sua razão lhe ordenou para voltar, para mover o calcanhar, e voltar para o conforto e para a luz. Mas o homem não podia se mover.

Apenas um pouco mais. Vou esperar por mais cinco minutos.

Tornou-se um estorvo prolongado. Era a sua atração pelas poucas horas de prazer e de decadência que ele estava prestes a gozar. Este estorvo, pelas poucas horas que ele passou brincando com as mulheres no Bloco Ocidental, pesava seus pés e o impedia de se mover. Como era atrativo passar as horas em um estupor bêbado, na companhia de mulheres com cabelos e olhos de todas as cores. Havia passado quase um ano desde que ele fora irresistivelmente atraído por esta tentação pela primeira vez. Não havia jeito de sair dela.

A administração da cidade estava ficando mais rigorosa. Cidadãos em geral tinham restrições, naturalmente; mas mesmo os mais altos escalões, que tiveram uma liberdade considerável, estavam recebendo limitações. A viagem entre a cidade e o Bloco Ocidental era uma das coisas em que foram postos limites.

Todas as viagens entre outros blocos foram proibidas a não ser com uma razão clara e um pedido.

Quando o homem viu essa parte da comunicação da cidade, lembrou-se e deu um pequeno suspiro. A Secretaria da Administração Central era um departamento que singularmente controlava todas as informações da cidade. Todos os arquivos pessoais dos cidadãos eram naturalmente reunidos aqui também. Nome de cada cidadão, sexo, data de nascimento, estrutura familiar, índice de inteligência, características e medidas físicas, histórico de doença, curriculum vitae, tudo estava ali. As ações diárias de cada indivíduo eram registradas sem falhas e internalizadas como dados pela Secretaria da Administração Central, através das inúmeras câmeras de vigilância e sensores colocados em toda a cidade, bem como os chips coletores de dados embutidos em seus cartões de identificação. Este sistema já estava bem estabelecido.

Gestão meticulosa e centralização de dados ― para o melhor ou para o pior, este homem estava perto do coração do sistema. Ele usava sua posição para a sua vantagem ao substituir seus registros pessoais numerosas vezes. Ele havia reescrito o arquivo dele para dizer que nunca tinha entrado no Bloco Ocidental. Ele destruiu seus registros.

Era um crime, ele estava bem ciente. Ele estava nervoso pelo que iria acontecer a ele se isso fosse exposto, e, ao mesmo tempo, ele estava confiante de que ele nunca seria descoberto. Ele havia se afogado num êxtase eufórico. Ele queria proteger a sua vida segura e, ao mesmo tempo, se encolhia em sua destruição. E por baixo estava a garantia confiante de que ele era um membro insubstituível do núcleo da elite, e que ele não seria perseguido tão facilmente. Muitas emoções se batiam dentro do homem.

Mas no fim, ele cedeu a seus desejos e atravessou os portões novamente esta noite.

Ele está atrasado, um pouco tarde demais...

O homem mordeu o lábio levemente.

Eu provavelmente deveria desistir esta noite.

Nada era mais perigoso do que ficar parado assim por um tempo prolongado, envolto na escuridão do Bloco Ocidental. Quando o homem se virou para voltar pelo caminho em que tinha vindo, uma voz baixa chamou seu nome.

"Fura-sama." Esse era o nome do homem. A voz baixa se transmitiu para ele na escuridão. "Eu peço desculpas por te deixar esperando."

Fura franziu a testa, e encolheu os ombros ligeiramente.

"É você, Rikiga?"

"Sim. Eu vim buscar você."

"Você está atrasado".

"Eu sinto muito. Houve um ligeiro imprevisto."

"Imprevisto? O que aconteceu?"

Ele podia sentir a escuridão mudar um pouco quando Rikiga balançou a cabeça.

"Nada que possa preocupar você. Não há nenhum problema para você no menor sentido, Fura-sama... na verdade... ah... Posso dizer que eu estava atrasado para fins de seu maior prazer"

"O que quer dizer?"

Ele podia ouvir uma risada vulgar.

"Levei um tempinho para preparar uma mulher do seu gosto." O riso vulgar continuou, e a escuridão serpenteou levemente. "Mas com certeza, deve compensar o tempo que eu te deixei esperando. Estou mais do que certo que você vai ficar satisfeito."

"Ela é tão boa assim?"

"Espécime requintado."

Ele engoliu em seco. Se ele pudesse, teria dado sua própria risada vulgar como Rikiga, mas se conteve.

Sua posição era como o céu em relação à Rikiga que era como a terra humilde, um morador do Bloco Ocidental. Ele não conseguiria descer a esse nível.

Para Fura, embora o Bloco Ocidental fosse o lugar que lhe proporcionava prazeres lascivos e deliciosos, aqueles que viviam lá ― Rikiga, ou as mulheres ― não eram seres humanos iguais a ele. Via-os como insetos, talvez. Não, isso era muito duro ― eles eram bem próximos do gado. Seres humanos e gado, o dominador e o dominado. Regiões vizinhas da N° 6 existiam para servir a cidade ― era o que haviam ensinado a ele desde a infância.

"―Vamos, então?" Rikiga começou a andar. Silenciosamente, ele seguiu atrás.

O ultrapassado automóvel à gasolina era desconfortável para andar, e batia e arrancava frequentemente. A estrada estava cheia de buracos. De vez em quando, o carro balançava perigosamente. Quando Fura começara a frequentar o bloco ocidental, ele tinha mais do que uma vez erguido a voz para se queixar, mas agora, ele não pensava em nada disso. Como estava acostumado com as estradas pavimentadas da N° 6 e carros híbridos totalmente equipados com a absorção de choque, os solavancos repentinos e os balanços eram novos e refrescantes. E mais do que qualquer coisa, isso fazia cócegas em seu coração com a antecipação do que estava por vir.

"Então?"

Fura inclinou-se no banco de trás e questionou ele.

"Que tipo de garota é ela?"

"Eu ouso dizer que ela é uma combinação perfeita para o seu gosto. Tenho certeza de que você vai gostar dela."

"A última garota não era grande coisa."

"Eu sei, mas essa garota, ela é exatamente de como você gosta, Fura-sama. Corpo pequeno, magra... E muito jovem"

"Jovem, hein."

"Sim. Claro, sendo este o lugar que é, não temos certeza de sua idade real, mas ela é muito jovem, com certeza. Então ela... Ainda não teve experiência com homens ainda"

"Você tem certeza?"

"Absolutamente. E não só isso, parece que ela tem o sangue das terras do sul em suas veias. Ela tem esse tipo de aparência."

"Ah."

"Temos muitas mulheres com corpos maduros, mas é um pouco difícil de encontrar as mais jovens. Eu nunca poderia te dar um moleque magro e sujo para atender você, Fura-sama, nem seria capaz de simplesmente catar um da rua. E, além disso... dar este tipo de trabalho para uma garota tão jovem e sem experiência, é muito... bem, certamente não faz nada bem para minha consciência, para dizer o mínimo".

Mentiroso. Fura retrucou em sua cabeça. Pelo dinheiro, você faria qualquer coisa. Consciência, você diz? Não me faça rir.

Embora ele estivesse, sem dúvida, surdo às palavras do Fura, Rikiga deixou escapar uma risada seca dos lábios.

O carro parou. A escuridão penetrante ainda os cercava lá fora.

"Isto é...?" Era diferente do lugar de costume que Rikiga preparava.

"É um hotel."

"Hotel?"

"Há muito tempo atrás, ele costumava ser muito chique." Rikiga saiu do carro e acendeu uma lâmpada. "A menina e a sua família fizeram deste lugar sua casa. A menina disse que ela só teria clientes se fosse em seu quarto, e ela não faria isso de outra maneira... Ela ainda é uma criança, provavelmente está com medo de ir para lugares estranhos."

"Mas..."

"Não há nada para se preocupar. Retiramos a família temporariamente. Hoje à noite, você e a menina serão os únicos aqui, Fura-sama... Ah, não, estou enganado. Ela também tem seus cães."

"O que?"

"Cães. O pai da menina dirige uma empresa que lida com cães. Há enxames deles aqui."

Fura não podia imaginar que tipo de negócio lidaria com cães. Um pet shop estava certamente fora de questão. Os cães eram despelados e vendidos como carne?

"Apenas me siga, então. Aconselho que você vigie seus pés." Rikiga balançou a lâmpada. Fura olhou o seu perfil e, cuidadosamente, colocou o pé à frente.

Ele não confiava neste homem, Rikiga. Ele não tinha um fio de confiança nele. Mas Fura sabia que ele era um cliente regular e altamente valorizado por Rikiga. Não havia maneira de que um homem como ele, que amava, apreciava e colocava o dinheiro acima de tudo, prejudicasse a sua melhor fonte de renda. Nesse sentido, Fura nunca havia sentido qualquer apreensão com o homem que agora estava andando alguns passos à frente.

Este edifício que Rikiga falara que já tinha sido um hotel elegante, estava agora meio-desintegrado e, em sua maior parte, em ruínas. Inúmeros escombros se espalhavam pelo chão, e havia poças por toda parte. O chão estava escorregadio, mas talvez porque o piso estava apodrecendo, ou porque havia musgo crescendo sobre ele, ele não sabia. Ele estava instável em seus pés vestidos com sapatos de couro. O vento beliscava seu rosto. Subiram as escadas. Ele sentiu um ligeiro odor estranho. Era um odor que ele nunca havia sentido dentro da N° 6 e ele não tinha ideia do que poderia ser. Eles cruzaram uma área nua e espaçosa que parecia que ter sido um lobby, e subiu ainda mais.

"Oh..."

Ele falou sem pensar. Seus pés ficaram enraizados no local. Era o que parecia um corredor estreito que se estendia a sua frente. Pelo menos, parecia que corria direto para a escuridão, mas não tinha ideia do que estava além da escuridão que o cobria; a visão de Fura, sem experiências com a escuridão, não podia decifrar.

Iluminado pela luz fraca do abajur, ele podia ver figuras sombrias curvadas aqui e ali.

"Cães?"

"Sim".

"Por que há tantos? Para quê...?"

"Ah, bem, há muitas razões, mas não é nada a ver com os oficiais de alto cargo da N° 6 como você", disse Rikiga. "Não é nada para se preocupar. Estes cães são silenciosos, eles não vão morder ou atacar... Certo, aqui estamos. A garota está dentro desta sala".

Assim como Rikiga tinha dito, os cães permaneceram enrolados no chão, imóveis, sem rosnar ou expor seus dentes.

"Bem aqui, por aqui. Depois de você," Rikiga o conduziu para entrar.

Havia uma porta de madeira gasta a sua frente. Talvez fosse a luz da lâmpada que fazia isso ― a porta velha parecia quente e suave para os olhos. Era como uma senhora afetada pela idade. Lá estava ela, sentada em uma piscina de luz solar, bonita, com o cabelo de neve. Ela tinha agulhas de tricô em suas mãos e um novelo de lã em seu colo...

Fura virou de lado e pigarreou algumas vezes. Ele havia escondido por muito tempo este seu mau hábito de cair em devaneios. Se qualquer um dos oficiais superiores no Departamento de Administração Central descobrisse que ele tinha essa tendência, isso significaria consequências terríveis para ele.

Na Nº 6, imaginar, tecer histórias, falar de sonhos e devaneios era desaprovado e evitado como uma praga. Não havia regras oficiais ou leis que proibissem, mas entre os cidadãos comuns, era objeto de zombaria e desprezo; nas organizações centrais, era visto como inadequado e uma razão válida para o fim de um emprego. Você seria removido.

A porta se abriu. Sua maçaneta de prata foi operada manualmente, é claro, e a porta gritou teimosamente quando abriu para dentro.

Era uma sala de teto baixo, e estava escura. A iluminação vinha apenas da lâmpada de Rikiga e uma única vela em um suporte sobre a mesa. Não estava muito frio, provavelmente devido ao facto de não haver janelas. Mas o uivo abafado do vento ainda ecoava na sala. Vários assobios e gemidos sobrepostos em camadas, como uma sinfonia, se enroscavam um com o outro, e chegavam aos seus ouvidos. Ele se perguntava como esse lugar tinha sido construído.

As únicas peças de mobília do quarto eram a mesa que segurava a vela, uma divisória um tanto pobre, e uma cama igualmente lamentável em um canto da sala. Uma figura estava sentada na borda da mesma com um cobertor sobre a cabeça, enrolou-se como se a encolher em si mesmo.

Rikiga estava certo, ela era pequena. As pernas que se projetavam do cobertor eram lamentavelmente finas. Mas elas eram bem torneadas. Elas eram delgadas do joelho para baixo, e se tivessem um pouco mais de carne provavelmente seriam um belo conjunto de pernas, de fato.

"O que achou?" Rikiga sussurrou em seu ouvido. "Uma joia, você não concorda, Fura-sama?"

"Talvez. Eu não posso dizer ainda".

Fura abaixou-se sobre a cama e deslizou uma mão ao redor do pequeno corpo embrulhado no cobertor. Ele podia sentir ligeiramente o seu tremor.

"Você está com medo? Não se preocupe, não há necessidade de estar." Ele tirou o seu casaco, e a puxou para mais perto, com cobertor e tudo. Ele podia sentir o tremor cada vez mais violento em suas mãos. O cobertor caiu de sua cabeça, e seus cabelos, negros como a noite, e o pescoço delicado exposto aos olhos do Fura. Como ela estava com o rosto virado em desafio, o pescoço se mostrou ainda mais. Fura poderia dizer até mesmo na escuridão que a pele era lisa e flexível. E era bronzeada.

Eu vejo. Essa pode ser uma joia afinal.

Ele removeu os seus longos cabelos de lado e deixou seus os lábios viajarem até seu pescoço. Sentiu um leve cheiro. Era o mesmo perfume que havia encontrado nas escadas. Era o cheiro de um cachorro, um animal. Mas, em vez de diminuir o desejo de Fura, o cheiro o estimulou ainda mais. Era um cheiro que ele não conseguiria ter na Nº 6, mesmo que quisesse, por causa de sua higiene perfeita. Este corpo estava completamente encharcado neste perfume, e o excitou.

"Bem, então", Rikiga disse, "Eu acho que eu vou me desculpar. Aproveite." Rikiga se virou para a saída com um sorriso ausente em seu rosto. Fura parou sua mão, que estava indo acariciar a perna fina da menina. Pela primeira vez, uma suspeita esvoaçava em seu peito.

"Espere", ele comandou brevemente o homem que estava de costas para ele. Rikiga virou letargicamente.

"Algum problema?"

"Você não acha estranho?"

"Estranho? O que, posso perguntar?"

"Por que você não pediu o pagamento primeiro?"

O rosto de Rikiga ficou tenso. Então, depois de um tempo, ele murmurou ah, sim, o pagamento, a si mesmo.

"Você sempre me pede para pagar antecipadamente. Por que você não pediu hoje à noite?"

"Ah, sim, claro. Eu tinha esquecido."

"Esqueceu-se? Você? O dinheiro?"

A suspeita cresceu dentro dele. Este homem? Esqueceu o dinheiro? Ele, que era mais ganancioso e avarento do que ninguém, esqueceu ― ele achou difícil de acreditar.

Sua dúvida e a suspeita se transformaram em inquietação. As coisas estavam diferentes do habitual. Por quê? Por...

O pequeno corpo saltou dos braços do Fura. O cobertor escorregou para o chão.

"Corta essa merda, seu bastardo", ele rosnou. "Eu já tive o suficiente. Você deve estar brincando comigo." Fura ficou boquiaberto com o rapaz que havia chicoteado seu cabelo e estava arreganhando os dentes, atirando-o com palavrões.

"Rikiga, quem é esse?"

"Ele é quem ele é, senhor."

"Você me disse que me prepararia uma menina."

"Meninas, meninos, não faz muita diferença. Pensei que talvez você tivesse esse tipo de preferência escondido em algum lugar aí dentro, Fura-sama, e você só não tinha percebido."

O jovem de cabelos negros arreganhou os dentes ainda mais. Ele era quase como um cão selvagem.

"Você pode parar de fazer merda, velho alcoólatra," ele rosnou. "Por que você não seguiu o plano? Vou fazer picadinhos de vocês três e jogarei aos cachorros. Vocês vão pagar por isso, bastardos".

Plano? Vocês três? O que ele estava falando?

Fura pegou seu casaco e se levantou. Ele colocou seus braços pelas mangas e olhou ao redor da sala. Os quatro cantos estavam escuros, e a escuridão era assustadora.

De qualquer maneira, era perigoso ficar ali.

"Aonde vai?" Rikiga ficou na frente da porta, impedindo-o com um sorriso amarelo.

"Eu estou indo para casa. Sai da frente!"

"Por favor, por favor, se acalme", disse Rikiga suavemente. "Não precisa ser tão rude, Fura-sama."

"Fora daqui, ou então..." Fura apertou sua mão ao redor da pequena arma no bolso. Era uma arma elétrica, não muito eficaz para matar, mas o suficiente para se defender. Ele a sacou e apontou entre os olhos do Rikiga. Se ele revidasse mais um pouco, ele iria atirar sem mover um cílio. Poderia até ser para defesa pessoal, mas uma arma ainda era uma arma. Qualquer ser humano desarmado se recebesse um tiro entre os olhos iria morrer. Mas ele não se importou. Essas pessoas nem sequer se qualificam como seres humanos de qualquer maneira.

"Mas a diversão está apenas começando, você sairia perdendo se for para casa."

A voz veio de trás dele. Ao mesmo tempo, sua boca estava coberta, e seu pulso foi agarrado com força. A arma escorregou por entre os dedos. Ele só havia sido detido na boca e na mão segurada para trás, mas todo o seu corpo estava preso. Ele não podia se mover. Um sopro frio acariciou o lóbulo de sua orelha. Um sussurro fluiu em seu ouvido.

"Por que você não fica mais um pouco com a gente? Nós vamos te proporcionar um bom momento, você irá para as nuvens." Era uma voz suave e não era assustadora afinal. Era doce, clara e bonita. Fura não poderia dizer se era a voz de um homem ou de uma mulher. Talvez, se ele obedecesse esta voz convidativa, ele poderia se derreter em êxtase. O pensamento durou um mero piscar de olhos.

Seus pés foram varridos de debaixo dele e ele bateu no chão. Sua respiração ficou presa na garganta e então perdeu a consciência.

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Notas

  1. Referência utilizada:

Shakespeare, William. Rei Lear. Web. [link] [Voltar]

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8 comentários:

Anônimo disse...

Obrigado por traduzirem essa novel tão perfeitamente! Postem a parte b logo por favor ^^

Anônimo disse...

parabens (te amo p sempre kkk) esperando ansiosa pela parte b.... Nezumi é simplesmente perfeito....

Anônimo disse...

olá, parabéns pelo seu trabalho! estou achando muito bom mesmo acompanhar No. 6.
Por favor, continue com as postagens (sério) hahaha estamos todos ansiosos para continuar a historia. Não parem!!!

Rho disse...

Gente amamos o seu trabalho, continuem por favor :c
Obrigada pelo trabalho duro!

Anônimo disse...

Eu realmente estou amando acompanhar esta novel <3 Por favor continuem com este ótimo trabalho!

Unknown disse...

espero ansiosamente pela continuação da tradução dessa novel. Amo No.6 e vcs por traduzirem-na obrigada. :)

Anônimo disse...

Muito obrigada pelo seu trabalho. Não deve ser fácil conciliar estudos, família e vida pessoal com o projeto. Espero que continue a traduzir, pois a história é maravilhosa e como muitos aqui meu inglês não é bom. Muitas vezes mesmo após um dia de trabalho duro, fugir da realidade e mergulhar nesta ficção é extremamente renovador, me sinto mais enérgica para realizar as tarefas diárias com mais empenho ao conhecer, cada vez mais, Shion e Nezumi e vê-los focados em seus objetivos.

Unknown disse...

Pelo amor de todos os Deuses continua por favor,moça nunca te pedi nada,mas se eu não ler o resto com certeza vou morrer,e aqui é o único lugar que eu encontrei pra ler,tenha piedade.😢😢

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